26 julho 2010

Gilmário dos Tuneza na "Mesa Bicuda"

Lev´Arte, 4 anos de poesia ao vivo. Na quinta-feira passada a casa estava literalmente cheia. Na "Mesa Bicuda" estava o jovem Gilmário Vemba, humorista dos Tunezas que partiu-nos as costelas de tanto rir. Cada resposta do Gilmário era motivo de gargalhadas o que tornou o evento muito animado e interactivo também.

A forma de falar do angolano faz com que o humor por ele produzindo tenha grande originalidade. Gilmário Vemba, este jovem que nasceu aos 19 de Junho de 1985, iniciou-se no teatro da igreja que frequentava desde cedo. Leva a sério o seu trabalho pelo que se empenha de corpo e alma. Ele disse que "fazer palhaçada e cair no rídiculo, por exagerar ou  forçar a barra..." não é seu objectivo nem dos Tunezas. Foi na Ilha de Luanda onde começou a fazer humor. conheceu seus amigos que faziam parte do grupo teatral Tunezas.

O começo não foi fácil. Gilmário responde sobre as dificuldades iniciais, "Essa história é longe, foi um começo  muito turbulento, você sai de casa também vão te aplaudir já? Isso é dificil nos enchotaram muitas vezes, num espetáculo nem sabiamos que haveriamos de actuar mandavam-nos esperar longas horas na parte de fora, era na altura que faziamos o que consideravamos chamariz humoristico.." Muitas vezes não foram pagos pelas actividades que exerciam passando sede e fome. Mas anima-se que depois da vida dura vem as alegrias do estrelato. "Hoje já somos conhecidos vês que também já me chamaste aqui no Lev´Arte!."

É com alegria que o vimos nas mais diversas encenações do grupo onde reencarna a personagem típica angolana, Ti Martins, velho sabido e rabugento que se irrita vezes sem conta com as perguntas um tanto ou quanto patéticas das pessoas ao que ele os trata de "gente burra pá..."

A plateia animada no Kings Club. Parabenizaram o Lev´Arte e riram-se a fartar com o humor do Gilmário.
Gelson e a Nádia Mesquita exibindo os livros "Palavras" antologia poética do Lev´Arte a ser lançado no dia 18 de Agostoe e "Cartas a um Viciado" da dupla Joel e Ivandra com lançamento para dia 7 de Agosto.

Elisa Dongala e Neusa Patrícia, as meninas estavam atentas ao evento. Alegria no rosto das levarteanas Mira Clock e Kátia de Melin, apresentadora do evento. Kardo Bestilo declamando "Lemba"? Ao fundo o som de Wilmar Tembo. Júlio Gil o jovem trovador que também cantou e encantou a plateia do Lev´Arte.


Esmeralda, linda ela. Tirou-me as fotos enquanto conversava com o Gilmário. O casal, Wilson Correia e Nádia Mesquita.


Punner, o poetas das ruas. O grupo teatral Tata Yetu, Maria Manuela e a Gracieth, duas levarteanas animadas no evento.

Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae.” – “O humor é necessário para a vida humana.” (S. Tomás de Aquino)




Nota: Na primeira foto, Gilmário e NN; Shynia Jordão Gilmário e NN.

23 julho 2010

Cavaco Silva na Mulemba waxa Ngola



Cada manhã é para mim um milagre constatar que ainda há fôlego de vida em mim pelo que, agradeço ao Senhor da vida. Aos ateus que me desculpem mas honra e glória seja ao Ser mais inteligente do universo imenso.

Quinta-feira, 22 de Julho de 2010, Luanda é a capital da CPLP e muitos visitantes foram acolhidos de braços abertos pela kianda hospitaleira. Na minha agenda destacava-se a apresentação da rubrica “Mesa Bicuda” no Lev´Arte com o Gilmário Vemba dos Tunezas, humorista que me quebrou as costelas de tanto rir. Dele ainda falarei, estou editando as fotos do evento e tenho algum atraso em reporta-lo. Mas o que vale mesmo é a maior surpresa da minha vida que ficará como um registo histórico na minha existência que Ngana Nzambi vai permitindo com algumas carências básicas aqui e outras alegrias acolá e vou andando, graças à Deus.

Meu telemóvel soava insistente, não me apetecia atender aquele número estranho. Coloco a escova de dentes na boca e lá o pequeno aparelho põe-se novamente aos gritos. Bem, lá fui atender e saber quem tanto insistia do outro lado.

- É o senhor escritor Nguimba Ngola?



- Por favor quem deseja falar? – respondi com outra pergunta. A voz soava com autoridade o que me deixou meio incomodado e submisso.

- Estou ligando para lhe comunicar que o senhor deverá estar presente na Mulemba waxa Ngola, marco histórico da soberania de Ngola Kiluanji kya Samba. O Presidente da República portuguesa, Cavaco Silva far-se-á acompanhar da sua delegação e a ministra da Cultura angolana, Rosa Cruz e Silva ao local para merecida homenagem ao Rei do Reino do Ndongo.

Não acreditei depois de ter desligado e ter sido informado da hora. Quem sou eu para merecer essa indicação de também estar ao pé de ilustres visitantes? Terá haver com o meu pseudónimo que leva o nome Ngola? Aliás Nguimba é mesmo meu nome, acrescí apenas o nome Ngola em honra ao Rei Ngola. Contei para minha esposa que animada aprontou logo o fato mais bonito, na verdade o único pois essa coisa de fato não é comigo, gostaria mesmo é de sempre me vestir com roupas africanas e ou ainda de roupas produzidas aqui mesmo. Mas já lá se foi o tempo que ainda me lembro de ter usado uma camisa da Limar. Será que um dia a industria têxtil angolana ressurgirá? Espero pois até temos bons estilistas e com os tecidos das revitalizadas Textang I e II, que agora são armazéns comerciais, será muito bom. Lembro-me agora do tio Antero Hipólito que foi Eng.º Quimico numa dessas unidades.

Voltando a visita. Cavaco Silva e a comitiva que o acompanhou chegaram de carros luxuosos que coroou o meu bairro poeirento com o senão de criarem alguns constrangimentos no trânsito, engarrafando-o pois os demais automobilistas tiveram de parar por alguns largos minutos até que a caravana da visita passasse. Na verdade não foi lá grande coisa pois já estamos habituados aos grandes engarrafamentos aqui na banda que virou um grande canteiro de obras, estradas que nunca mais terminam, cavam aqui e acolá, desviam ali e sempre em obra, viva depois do constrangimento vem bonança.

A imponente árvore sorria de alegria, parecia que o Rei Ngola estava animado com a visita do ilustre presidente de Portugal, nosso colonizador. E era uma honra ver um dos filhos da metrópole vir com seu punho assinar frases quase poéticas no seu caule. Eu pulava de alegria. O Senhor presidente deu-me um abraço e disse:

- Quero que o jovem continue engajado com seu pequeno contributo a estimular cada vez mais as crianças e os jovens para adquirirem hábitos de leitura e do conhecimento da Língua Portuguesa. É primordial que os escritores e poetas se empenhem nessa nobre missão.

Eu, tão humilde e o último na fila dos escritores angolanos, diga-se temos bons escritores e poetas, estava visivelmente emocionado. O ilustre visitante continuou:

- Espero também que haja muito mais escritores angolanos a participarem em feiras portuguesas” - disse Cavaco Silva, acrescentando que as editoras portuguesas têm cada vez mais o dever de contribuírem para esse intercâmbio.

Do mesmo jeito que chegaram, foi também como evaporaram do local, os estrangeiros hospedados no Resort Hotel Mulemba que circunda a imponente árvore, alguns portugueses também, alegraram-se e cumprimentaram-me animados. Senti-me nas estrelas e, lá fui contar como tudo correu na esposa e porque estava atrasado para o evento com o Gilmário Vemba.

- Papá, papá, hoje não vais trabalhar? Já são 8 horas.



- Filho, trabalhar!

Caramba, meu filho veio e acordou-me do gostoso sono, eu debaixo de cheirosos lençois abraçado à minha costela que também escrevia sonhos na memória depois de na madrugada atender o pequeno Jamiel Ngola, nosso pequeno patrão. Foi tão real!

Semana "Monumental" - Jornada de reflexão artístico-cultural

O Atelier Monumental, projecto cultural, vem uma vez mais dar seu contributo para a cultura angolana. Em complemento aos Prémios “Monumental” que distinguiu em Agosto de 2009 vários artistas pelo contributo destes à cultura nacional com trabalhos de reconhecida qualidade dignificando o património artístico cultural angolano. É de realçar aqui os premiados na modalidade da Literatura, os nomes de Uanhenga Xitu e Manuel Rui.

Desta feita, o Atelier traz para o público uma jornada de reflexão artístico-cultural denominada Semana do “Atelier Monumental”, que vai de 26 a 29 de Julho de 2010.

Aula Magna, Cogitações Entrevista, Limites e sombreados, são entre outros as várias rubricas da jornada, onde serão abordados temas como:

Artes Gráficas, comunicação a ser efectuada pelo pintor e designer Miguel Gonçalves. Os direitos autorias e a afirmação do génio criativo, será proferido pelo escritor e jornalista Ismael Mateus. A destacar também o debate sobre Nuances estilísticas e estéticas das artes onde intervirão o crítico literário e poeta Abreu Paxe, Miguel Dafranca, artísta plástico, o crítico de arte Patrício Batsîkama e o compositor e poeta Albano Cardoso. Ainda destaque na rubrica cogitações a intervenção de antónio Panguila, escritor e ensaísta com o relevante tema Nuances Interpretativas da Literatura Angolana. O novo acordo ortográfico fica a conta da Dra Irene Guerra Marques que o abordará em entrevista.

Serão exibidos documentários e filmes bem como exposição fotográfica. A jornada encerrará com a Cerimónia da entrega dos Prémios “Monumental” 2009.

O projecto Monumental, tem actualmente poucos mais de 15 membros, dentre os quais artistas, amantes de arte, arquitectos, estilistas e outras sensibilidades.






20 julho 2010

4 anos a blogar. O que publicamos!

"O tempo passa e a vida também..." É verdade, já lá se foram 4 anos desde que me vejo um "escrevinhador" no blog Eme Nguimba.
A internet em Angola ainda não é para todos. Só no ano passado é que eu consegui instalar a internet no meu computador. Usufruo a internet do meu local de trabalho que muitas vezes não é fácil atendendo as políticas de acesso. Então muitas vezes há que sacrificar a hora do almoço para aceder a net.

Ainda assim, fiz meu máximo para me dedicar ao blog que teve períodos de quase não publicação. São 97 post em 4 anos, 2 em média por mês.

Visitaram-me 6299 vezes, 131 visitas em média por mês. Agradeço a todos os visitantes deste humilde espaço que me honraram com sua visita e comentários.

A todos, votos de muitos sucessos nas vossas vidas e seja Deus vossa alegria.



Arquivo do blogue



▼ 2010 (58)

▼ Julho (3)

As feiras do livro na comunicação

“- P’ra mim é melhor morrer com um tiro na cabeça....

Apresentação do livro "Mátria" de Nguimba Ngola



▼ Junho (2)

Saramago

Infância



▼ Maio (8)

O mal de Monjeza e Chimbalanga e a benção de Cavac...

não posso escrever o poema que sinto no peito

O lançamento do "O Último Recuo" de Isaquiel Corí

UNESCO celebra Dia de Língua Portuguesa

"O Último Recuo" do I. Cori em breve...

rocha Doce lisa a coxa

A viagem no “espírito” de ParaN´dele.

O "copo de água" na UEA - empossamento da nova dir...



▼ Abril (11)

Viva o Livro!

MÃE

Carmo Neto - Novo SG da UEA

O sonho, a língua e os provérbios no “Vimbo Li´Olo...

"O mundo não desaba quando termina uma relação..."...

Niterói, Niterói, como dói, como dói

Esta mulher inebria a minha mente

Sonho, de amor

Terra de Sonhos

Uma indescritível crónica sobre a luta pela vida

"Ler é um hábito" e o dia da literatura infantíl



▼ Março (16)

O Forno, o Feminino e o João Tala

Folha8 15 anos na Cultura

Entrevista no Semanário Independente nº. 102, 20 d...

Ngonguita lança "No Mbinda..."

Indescritível

Viva a Poesia

“A fotografia é uma arte sim..” - Wagner Dias na M...

Feliz Dia dos Pais

"Há que tornar a escola numa fábrica de leitores"

Dya Kasembe

Força Mulher

Mayamba Editora - ler é desvendar o mundo

Um ano de vida

Kilumba Afrikana

Os poetas não vão para o céu

Quinta-Feira Cultural



▼ Fevereiro (8)

A poesia de Matadi Makola

Mário Pinto de Andrade: um olhar íntimo

Maka na União

Desporto & Cultura - Parabéns kilumbas douradas

O melhor amigo do homem

Amor & Esperma

João Melo na Mesa Bicuda

sabe Deus a razão do amor



▼ Janeiro (10)

Comentáriosquasepoétikos

Sobre a Língua Portuguesa em Angola, como língua o...

Lutando Contra as Trevas

Concupiscência

Coisas do Futebol

Cultura Angolana

The Kings Club e a poesia

Escrever e ponto final

A Razão do Verso

Quando penso na poesia, ela fica cada vez mais longe!

▼ 2009 (3)

▼ Julho (2)

A Mátria de Nguimba Ngola

É já neste Sábado!



▼ Maio (1)

Inovação linguística em “Uma Maria João e os Knunc...

▼ 2008 (4)

▼ Outubro (2)

A juventude e sua expressão cultural

O prefácio como discurso introdutório e autónomo d...



▼ Julho (2)

Lev´Arte - Dois anos de poesia

Arte africana e seu futuro

▼ 2007 (9)

▼ Dezembro (2)

A zungueira e a “poética” da sobrevivência

A dimensão cultural de Jorge Macedo



▼ Maio (1)

África mãe do cordão umbilical



▼ Março (1)

Altar dos teus seios



▼ Fevereiro (5)

Carnaval

Levarte na Bienal do Livro

A plateia vibrante do King's.

Declamando no King's

Teus olhos lindos brancos de criança

▼  2006 (23)

▼ Dezembro (1)

O choro de Joaninha



▼ Novembro (1)

O grito da manhã



▼ Outubro (1)

Pincel sinfónico da mente



▼ Setembro (6)

Tímpanos feridos

O Encantar do Lev’Arte

Poesia

“A magia das palavras”

Vitória Certa

No caminhar das unhas



▼ Agosto (4)

O Rei ficou mais Rico na Vila Alice

Nas asas das éguas

A canção pensante da Kianda

A minha poesia



▼  Julho (10)

O fogo dos meus olhos

Insaciáveis

No mar da vulva

Magestosa mulembeira

Mulemba Xa Ngola

Oremos

Sonho despedaçado (conto)

A música da cevada e da uva

Extase na solidão da noite

Amiga da zunga

13 julho 2010

As feiras do livro na comunicação

(Minha família no Jardim do Livro Infantil)




Por Jomo Fortunato in Jornal de Angola


A leitura, entendida como processo de reconstituição da mancha gráfica do texto, proporciona à criança uma eficaz diminuição da possibilidade de ocorrência do erro ortográfico, dilatando, consequentemente, os limites do seu imaginário e criatividade.

A literatura infantil, no âmbito das edições de autor e da ficção popular, que engloba a tradição dos contos populares maravilhosos, como material pedagógico, associado à escolarização, e focalizada na vertente industrial, visando o mercado, deve ser sempre encarada como alternativa e um contraponto à oferta aliciante do mundo iconográfico, desenvolvido pelo advento das modernas tecnologias da esfera “informacional”.

Fonte de transmissão de valores, a literatura infantil angolana deve estar associada, no texto cultural, ao imaginário tradicional angolano e à cultura africana. A “Canção Mágica”, do escritor e poeta John Bella, é um notável exemplo, entre outros, de uma tendência de africanização e angolanização textual, num processo distintivo e complementar com os cânones da literatura infanto-juvenil universal.



Jardim do Livro Infantil


Criado em 1979, interrompido durante dez anos, e retomado em 2007, o Jardim do Livro Infantil, que este ano foi realizada de 24 a 27 de Junho, no Parque da Independência, em Luanda, engloba, além da exposição e venda de livros de literatura infanto-juvenil, um conjunto de actividades de carácter cultural educativo. Lançamento de livros, tenda das letras - um espaço de interacção dos escritores com o público - seminários de leitura pública, escrita criativa, de ilustração de livros para crianças, concertos e visitas guiadas são os grandes atractivos deste certame.

O Jardim do Livro Infantil é um momento, entre vários, que completa o ciclo de comunicação literária, um sistema que inclui a promoção e defesa dos direitos do autor, do editor, do importador, do livreiro, do distribuidor e da crítica literária, instâncias que, na cadeia de promoção da leitura, devem estar articuladas.



Feira da Música e da Leitura


A IV edição da Feira Internacional da Música e da Leitura, que este ano vai de 23 a 29 de Agosto, é um projecto cultural de apoio à música e à literatura e, consequentemente, de promoção do livro e do disco. A realização está a cargo da editora Arte Viva, edições e eventos culturais. O evento tem tido o apoio de instituições públicas e empresas privadas, que, cada vez mais, se vão interessando na concretização do projecto.

O certame obedece às linhas mestras do discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, proferido no III Simpósio sobre Cultura Nacional, que vai ser realizada sob o signo “Criar novos factos culturais”, frase da autoria do Chefe de Estado, criando, deste modo, uma imagem positiva do Presidente da República em relação à cultura.

A realização do evento é uma oportunidade ímpar de convívio e de intercâmbio cultural, no domínio do livro e do disco, abrindo oportunidades comerciais, entre os países com representação diplomática em Angola que pretendam dar a conhecer a sua literatura e a sua discografia referencial, nos diferentes géneros e “conseguimentos” estilísticos.

O evento persegue os seguintes objectivos: promover a circulação do livro e do disco entre livreiros, editores e alfarrabistas angolanos e os representantes de editoras dos países convidados, facilitar o acesso e a circulação, num só espaço, de livros e discos, mais representativos, produzidos pelas editoras convidadas, proporcionar à juventude angolana - principal público alvo - e às comunidades estrangeiras residentes e visitantes em geral o gosto e o conhecimento dos principais referentes culturais no domínio da literatura , da música angolana e das culturas internacionais, reforçar o intercâmbio cultural e comercial entre editores, livreiros, “discotecários”, músicos e artistas angolanos e os expositores estrangeiros. Por último, alargar e proporcionar o debate sobre música e literatura, constituindo o resultado do ciclo de conferências e debates uma fonte de documentação e registo.

A participação na Feira Internacional da Música e da Leitura está reservada aos editores, livreiros, alfarrabistas angolanos e editores discográficos dos países convidados pela organização e pelos serviços culturais das embaixadas representadas em Angola, desde que vendam os seus produtos a preços promocionais.

Está prevista uma programação cultural, que engloba, sete concertos, lançamentos de livros e discos, teatro, artes plásticas, um ciclo de palestras e debates sobre a história da música e da problemática da edição, dança e cinema.



Promoção da leitura pública


A promoção da leitura nas bibliotecas escolares, definindo estratégias de incentivo à cultura da leitura, deve ser um imperativo do sistema de ensino, incentivando a criação de programas específicos nas escolas. Daí que seja importante estimular e apoiar a criação de projectos comunitários voltados para o estímulo e para consolidação do hábito de ler. A crescente revalorização do livro e da leitura passa pela introdução de inovações nos currículos de formação dos docentes, permitindo uma alteração, sistematizada, dos métodos didácticos no tratamento das questões relativas ao livro, à leitura e à escrita.

Neste processo, as escolas devem desenvolver programas criativos de aprendizagem, actualização e aperfeiçoamento dos professores, incluindo bibliotecários escolares, relacionados com a natureza e desenvolvimento dos processos de leitura e escrita para crianças e jovens.



Rede de bibliotecas


As bibliotecas devem constituir um espaço de frequência habitual das crianças e adolescentes, em idade escolar, e de fácil acesso às diferentes manifestações da língua e da informação, num processo em que o sistema nacional da rede de bibliotecas públicas deve ser alargado aos distintos níveis da administração territorial.

Com o advento da paz, rumo ao progresso social e económico, é urgente aprovar a Política do Livro e da Promoção da Leitura Pública, criando-se um dispositivo legal que seja abrangente, nos seus mais nobres contornos estruturais, com claros objectivos para que o conhecimento científico e literário se alargue a toda a população, invertendo o quadro actual de difícil acesso e custo do livro. Neste sentido, as edilidades locais devem contribuir para a democratização do saber para que o conhecimento seja um factor de acesso ao emprego e de diminuição das assimetrias sociais.

Apesar dos inegáveis avanços da alta tecnologia no campo das comunicações, ao contrário dos profetas que advogam o fim do livro, onde a escrita alfabética seria substituída por uma cultura de sinais, o livro continua a ser a nossa melhor ferramenta de trabalho e de acesso à cultura e o companheiro ideal em todos os momentos.

O livro, manuseado desde tenra idade, pode constituir uma ferramenta útil para a coesão cultural, numa fase em que assistimos a um crescente movimento editorial que, na sua história, regista, com a União dos Escritores Angolanos, um passado glorioso e vem dando sinais de qualidade concorrencial e, consequente, afirmação internacional.

“- P’ra mim é melhor morrer com um tiro na cabeça. É tudo rápido.”


António Quino *



Por que razão julgo que seria interessante e oportuno ler “O último recuo”, de Isaquiel Cori?

Para início de conversa, permitam-me que me apoie em algumas fundamentações teóricas. Prometo não cansar.

Na sua “Teoria do romance”, Donaldo Schuler afirma que “Podemos teorizar o romance de muitas maneiras. (...) Podemos investigar as relações com o contexto. Podemos inquerir o trabalho autorial. Podemos investigar a experiência da leitura. Podemos nos colocar na posição do leitor”.

Tal como Schuler sugere, coloco-me na posição do leitor. E é como leitor que vos falo, fazendo uma, dentre milhares de leituras possíveis.

Uma sociedade, um problema, um livro, um objecto, uma realidade, um espaço físico ou mesmo uma personagem podem ser vistos de diferentes pontos de vista, resultando em imagens diferentemente deformadas.

Por exemplo, a descrição que encontramos no livro , na sua página 17, pode ser vista como imagem com características globais, próprias de situação que o contexto padroniza:

“De olhares longínquos e sem brilho, vestiam ridículas roupas de fardo e pareciam objectos de exposição de um exótico museu vivo, a denunciarem, de modo patético, a violência e a estupidez de uma guerra que lhes invadira as terras, penetrara-lhes na alma e esvaziara-lhes o olhar e o futuro”.

Ou ainda (p.16):

“... apesar de tudo, antes de dormir, de toda a incerteza que o atormentava, ainda estava vivo”.

São exemplos de imagens globais que podem ser projectadas e deformadas em função dos pontos de vista dos leitores.

No caso concreto das imagens locais, elas apresentam-nos características mais suaves e reais às nossas experiências e vivências, e a quantidade de informações disponíveis oferecem-nos condições para mais facilmente nos identificarmos com elas. Aliás, a existência desses caracteres comuns pode ajudar a definir a estrutura literária de uma determinada obra, não fosse esta produção artística produto da experiência ou imaginário do autor.

Indo ao livro, e apoiando-nos na coincidência entre Calú e Luanda, o leitor pode encontrar imagens locais. Calú, terra natal da personagem principal, é o espaço físico onde se centralizam as acções principais que corporizam a narrativa de “O último recuo”, e parece uma cópia de Luanda, terra natal do autor do livro.

Começando pelos problemas na distribuição de energia eléctrica , à sucessão de becos e contra-becos, chão abaixo do nível do quintal , casas em cima da estrada , absentismo quase generalizado em dias posteriores às grandes ressacas , a descrença nas instituições, que se mistura com a arrogância e o individualismo velados no ego de muitos cidadãos das grandes cidades, como o descrito na página 16 do livro:

“Sou o quê? (...) Cuidado que eu posso te dar um tiro aqui mesmo”.

Outro elemento em comum encontramo-lo nas páginas do livro, onde se percebe a forma como a guerra fez milagres e miseráveis.

Há uma personagem, Matuba Grande, que o narrador garante que se não fosse a guerra, certamente continuaria como um camponês cujos horizontes dificilmente ultrapassariam os marcos da região natal e arredores .

Essas palavras do narrador são confirmadas pela própria personagem na página 44:

“- (...) eu considero a guerra como uma coisa querida. A guerra tirou-me do meu destino de camponês. Deu-me poder”.

Mas há aqueles que enfrentaram a guerra. “Não fugiram, apegavam-se às suas casas, às suas terras como o único bem precioso que possuíam, com o risco da própria vida. Gente honesta, inocente, apanhada no turbilhão de uma guerra cujas causas verdadeiras desconheciam” .

Entre Calú e Luanda há ainda em comum o facto de haver em muitos jovens a descrença no amanhã e o cego mergulho no mundo do álcool. E o diálogo entre jovens presente na página 20 é bem prova disso:

“- A birra está fixe, esta é que é vida! Gostava de morrer com uma bem fresca na mão...”

Vezes há em que, em tom descontraído, a morte se torna o centro das conversas, anulando a vida:

“- Sabem qual é a maneira mais bala de baicar? É a comer a garina do tipo mais achado da banda...”

“- P’ra mim é melhor morrer com um tiro na cabeça. É tudo rápido.”

Vemos também, em Calú (p. 20), jovens abordando a problemática da velhice versus feitiço, uma discussão patente em Luanda e que representa um cancro para a sociedade luandense em particular e dos cidadãos da terceira idade em geral:

“- (...) Vou mas é morrer bem velho, não me importa se vão me chamar de feiticeiro”.

Este diálogo termina num: - “Nós somos imortais!”, reflexo da inconsequência de muitos jovens em Luanda, arriscando a vida por um vintém.

Igualmente, em Calú, o autor projecta uma realidade ficcionada, em que as relações sociais de classe se estabelecem num restrito núcleo, em que há os cidadãos indesejáveis, vistos como uma espécie de bacilos de cock pela elite, elemento extremamente nocivo e contagioso, que devia ser evitado a todo custo.

Na página 98 do livro há o relato de um camponês projectado ao generalato que evita João Segura, seu ex-companheiro de armas

“- Demasiadas pessoas já me viram a conversar contigo. E isto não é bom para mim”.

Mas a razão dessa sociedade ficcionada e fraccionada pode esbarrar numa solução, pois, como descreve nas páginas 106 e 107, a sorte pode vir vestida de quotidiano: mulher velha encolhida sob o peso da banheira de pão na cabeça, moça esticada em cima duns sapatos altos, o homem encerrado num fato pesado, mulher cantarolando cantos religiosos, e um Manecas Ladeira, mutilado, a oferecer emprego ao seu ex-comandante.

Nessa questão das semelhanças, há um diálogo, na página 68, que se afigura como um interessante recado ao leitor, um experimentado homem de cabelos brancos aconselha um jovem cujo destino se afigura incerto:

“- Coragem e paciência. E não tente compreender tudo o que te acontece. Deixe as coisas acontecerem.”

E o que tudo isso tem a ver a minha recomendação em ler a obra? Já aí chegaremos.

“O último recuo” narra a história de João Segura, um despromovido Tenente-coronel do exército, de 42 anos de idade, formado numa Academia Militar da ex-URRS, e caído em desgraça fruto duma cabala montada contra si e ordenada por uma invisível ordem superior.

A nossa personagem principal, militar profissional treinado para combater e, eventualmente, morrer pela pátria, homem ligado à elite militar, acaba transfigurado, num ápice, em roboteiro que se apaixona por uma prostituta, a Ricarda. É, portanto, também uma história de amor, que se reparte em 16 capítulos (duas partes) espalhados em 134 páginas.

Mas retenho-me ao que o ex-comandante se tornou enquanto atravessava o deserto: um roboteiro, termo utilizado para designar aqueles cidadãos que carregam mercadorias nos e para os mercados formais e informais, armazéns, casas dos clientes e afins, nas cabeças ou em carros de mão.

O autor deixa em segundo plano o facto de a personagem ter sido oficial do exército, de ter acabado como professor, e promove não só a sua actividade laboral como fundamental para a compreensão da obra, como é nesse período em que deixa transbordar o intelectual que havia em si. Com toda a carga pejorativa que este adjectivo/substantivo (roboteiro) transporta, não serão, em essência, roboteiros muitos intelectuais? E o inverso?

Mas, há aqui um conjunto de coincidências que não podem passar despercebidas. Comecemos pelas que existem entre o autor e a personagem principal. Da mesma faixa etária, ambos ex-militares, ambos amantes da leitura, ambos naturais de cidades que só diferem no nome.

Donaldo Schuler, em “Teoria do romance”, refere que “a arte romanesca se distancia da realidade para ver melhor, mesmo que o afastamento abra abismos” .

Essa relação binária entre autor e personagem permite-me especular que os monólogos do narrador ao longo da obra são, no fundo, passeios ao íntimo refúgio do autor:

“Como a vida seria boa e fácil se fosse apenas sono e sonho? A realidade seria virtual e aleatória”.

“É uma pena que a grande maioria dos cidadãos não saiba ler ou, mesmo sabendo, não tenha hábitos de leitura. Não haja dúvida que a literatura é uma das melhores formas de tomada de consciência de uma Nação”.

Aliás, Catherine Millot, em entrevista conduzida por Betty Milan e reproduzida no livro “A força da palavra”, refere que “o escritor vive uma determinada experiência que poderia ser qualificada de mística, se ela não acontecesse num contexto exterior ao da religião, a experiência de algo enigmático, que o sujeito procura decifrar escrevendo”.

Lévi Strauss acaba sendo mais profundo na sua análise, ao considerar que o autor escreve para preencher o vazio de um desejo de satisfação espiritual, “tanto que a maioria deles ganha dinheiro com outra profissão. A arte, em geral, tem o sentido simbólico do prazer, e isso é individual, por isso o apelo da arte é para a solidão, para o individualismo” .

Gostaria de lembrar que mesmo entre a incomum imagem local deformada pode sempre haver pontos de convergência. Ou seja, os vários leitores deste livro, trazendo experiências diferenciadas, podem encontrar elos comuns, isso porque o conhecimento adquirido individualmente, mas numa comunidade, se torna património colectivo, memória e consciência colectiva.

No caso concreto da literatura, há um elemento denominado invariante, uma modalidade essencial através da qual a literatura participa da universalidade e o meio pelo qual ela reveste todos seus elementos comuns de uma significação universal.

Quando Claude Lévi-Strauss se refere ao conceito de invariante é para vigiar a base, de carácter binário, de sustentação da estrutura, pois a invariante gera novas imagens deformadas, no fundo variáveis comuns de uma significação universal, mas que permitem uma percepção local.

Imaginemos que o narrador queira nos propor uma história que actue no imaginário da consciência colectiva para propor soluções sobre conflitos reais.

No caso de “O último recuo”, o invariante, para nós leitores angolanos, provavelmente nos conduzirá ao récem-terminado conflito armado. Mas, mesmo perante este invariante, a experiência de cada um de nós nos levará às imagens locais deformadas. Assim, uns poderão pensar em ente-queridos, outros em bens móveis ou imóveis perdidos e outros ainda em sonhos ou projectos de vida desfeitos.

O autor cria a amargura no coração do leitor, mas oferece um projecto que poderá trazer mudanças. E é Manecas Ladeira, um mutilado, um sindicalista, um professor, um ex-militar, quem trás a novidade para a mudança, com um livro, descrevendo 3 revoluções que terão abalado o seu país.

O livro de Manecas Ladeira é, na realidade, o retrato do “O último recuo”, recuando no tempo e na história, narrando o estado caótico em que o país da ficção se encontrava.

E a pergunta do João Segura na página 129, que é a do autor provavelmente e que é a dos leitores, acaba por ser contagiante:

“- E o livro fica por aí, acaba assim?... (descrevendo as revoluções) Não aponta saídas?”

Contudo, e voltando ao conceito de consciência colectiva, um outro invariante que poderá emergir do texto é o da crença colectiva por uma bonança no pós tempestade.

A ideia de consciência colectiva, de Émile Durkheim, pressupõe a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros da comunidade, formando um sistema autónomo, isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as gerações .

Portanto, os factos sociais narrados em “O último recuo” demonstram que a consciência colectiva anula a consciência individual e se contrapõe à consciência de classe, esta que privilegia as diferenças existentes entre a própria situação de classe e a de outro indivíduo ou indivíduos.

Com a consciência colectiva, nada depende de um indivíduo. Tudo depende de um todo.

“O último recuo” é, a meu ver, um olhar ao passado para melhor avançarmos para o futuro e alimenta os átomos individuais duma consciência colectiva que este país precisa de inventar, de regar e de colher.

Como disse, essa é a minha leitura.

Boa leitura.

 
Bibliografia

CORI, Isaquiel. O último recuo. Colecção Nzadi / Mayamba, Luanda, 2010.
Durkheim, Émile. Da divisão do trabalho social. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2008.
MILAN, Betty. A força da palavra. Editora Record. Rio de Janeiro, 1996.
SCHULER, Donaldo. Teoria do romance. Editora ática, São Paulo, 2000.

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NOTA: Texto de apresentação do romance "O Último Recuo", de Isaquiel Cori, lido no dia 19 de Maio de 2010, na sede da União dos Escritores Angolanos, em Luanda.


*António Quino é docente de Língua Portuguesa no ISCED. Para quem o quiser contactar, eis os seus contactos:
Departamento de Língua Portuguesa
Instituto Superior de Ciencias da Educaçao de Luanda
Caixa Postal N. 10609 ou 16117
Telef: 222 401 311 / 923311453 / 912050293


Fonte do texto: http://isaquielcori.blogspot.com/

Apresentação do livro "Mátria" de Nguimba Ngola








15 de Julho de 2010, 17H00
Anfiteatro da Escola Nginga Mbande
Luanda - Angola



No próximo dia 15 de Julho de 2010, pelas 17 horas, no anfiteatro da Escola Nginga Mbande, irá ser apresentado o livro de poesia “Mátria”, da autoria de Nguimba Ngola, uma edição da Arte Viva, edições e eventos culturais.
O livro que vai já na sua 2ª edição será apresentado à convite do Secretariado Nacional da JMPLA enquadrado nas festividades do aniversário do Comandante Hojy ya Henda.

 
Sobre o Livro (escreve Abreu Paxe):
"O texto poético de Nguimba Ngola, pelas nossas constatações, está alicerçado num discurso fluido e marcantemente dialogal... A palavra “Mátria” que dá título ao poemário... pelo seu significado, dá-nos a ideia da pátria vista do lado feminino. Ao pensarmos nisso, somos assaltados pela ideia da Mãe, que é África, o berço da humanidade, o que o poeta alude como “África mãe do cordão umbilical p.31”... Pensamos também na mãe criada pelo poeta através das imagens e símbolos que dão força e expressão ao topos da nossa experiência comum...”


Sobre o autor:

Nguimba Ngola, Isalino Nguimba da Cruz Augusto, natural dos Dembos (1976), é membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola – BJLA e do LEV´ARTE. Tem textos e poemas no suplemento cultural do Jornal de Angola e em antologias. Com um grande sentido humanista empenham-se em contribuir para que mais jovens cultivem os bons hábitos de leitura. É Estudante de Sociologia, Gestão de Empresas e Filosofia da Religião.

Ndembo a Kizele, Luanda 09 de Julho de 2010.


Para mais Informações:
Nguimba Ngola
Tlf.: 923303800