29 dezembro 2006

O choro de Joaninha


O choro de Joaninha são lágrimas de sangue
Ela banha nas lágrimas do seu rosto por seis dias a fio
Suas lágrimas denunciam a tristeza da alma não fecundada
E jorram angústias e lamentos rubros no canal do seu rio
Quem a liberta deste ciclo que se repete 28 mil dias?

Ela sorgue alegre em campos férteis
Anseia espasmos orgasmicos carregados do branco da vida
Ela anseia a simbiose com o divino na criação de um ser
Clama estridente com seus grandes e pequenos lábios
o amor que se afoga nas dibinzas da vida
e se esconde na camisa sensual e legal devido a sida

Chora, chora, chora Joaninha
Fofinha vistosa e formosa, mãe da vida

Chora, chora, chora Joaninha
lágrimas de sangue sedentas de afecto, carinho
Vem de mansinho seu eterno amor
Joãozinho

Navegam nas estrelas ritmicas do prazer e da responsabilidade
Cessa o choro de Joaninha que goteja alegria divinal
E o ciclo fecha-se por 9 milhões de meses.



Nguimba Ngola, CCBL 29/12/2006, 11:23’.

09 novembro 2006

O grito da manhã

A manhã corre cansada
corre que corre e
suada trilha os caminhos da labuta
com lutas marciais para a vitória da pontualidade

A manhã é um veado
corre que corre e
solta golpes no cavalo azul e branco
adormecido no trânsito maldito
afogado no garrafão

O suor, a catinga, a dor da frustração
exalam palavras ofensivas que estilhaçam
o cérebro amarrotado

A manhã grita estridente
sons cinzentos denunciando o efeito da chuva
que rasga a kianda em pedaços

Nos amassos malcheirosos do uaua e
no ferir dos tímpanos do kuduro malcriado

a manhã chora lágrimas de sangue
clamando aos céus que intervenha
no concerto das entranhas moribundas
e dos esgotos e sargetas sem costuras

A manhã volta a kubata
escondido no pôr do sol
amanhã é outro dia de luta


Nguimba Ngola na Estrada de Cacuaco, 9/11/2006 6:50’

03 outubro 2006

Pincel sinfónico da mente






Meu ser errante navega pensante
no onírico silencioso da noite
e marcas do real desafiam nas nuvens tortuosas
do subconsciente amarrotado e
quadros plásticos a preto e branco
pintam o dilema do povo que clama o pão do amor

Anseio pinceladas a óleo no cinzel da paz
desmistificando o ópaco da mente
ciente de um amanhã contente
esquecido da nebulosidade do real

Na teimosa utopia da alma
o povo canta sinfonias do bem estar
saboreando quitabas alegres
debaixo da mulembeira e da mafumeira

Dançam o semba da vida na in transparência
do céu...
oh céu, que teimas em acordar-me do meu mundo verde
porquê te alegras com o meu sofrer?
se o “o mais importante é resolver os problemas do povo” ?

Deixa o pincel sinfónico pintar o branco do amanhã
com o cinzel onírico da paz
que me apraz.

27 setembro 2006

Tímpanos feridos




Feriram os meus tímpanos
a lira barulhenta ecoou solta no cavalo azul e branco
e gotejou notas sínfonicas venenosas
que sangraram meu silêncio

Minh’alma rasgou-se em pedaços
ofegando amassos da catinga que gargantava
derramando frustrações sedentas do bálsamo
roubado pelo kuduro malcriado

“kota se quiser cai”

E caí...
Sim caí, na poeira dos meus pés
que transportaram-me na serenidade da mente
quase demente
Caí...
do cavalo que serpenteava a esquerda e a direita
sob o olhar impávido da ganância corrupta

Divorciei-me dos decibéis destruidores
que feriram meus tímpanos e
Divorciei-me do casamento do ferro com joelhos
e livrei-me do emagrecimento compulsório
caí do azul e branco de todas as jornadas
armadas de veneno mortífero dos incivilizados



Nguimba Ngola, debaixo da Mulemba xa Ngola aos 27/09/2006

O Encantar do Lev’Arte


O Encantar do Lev’Arte
Isalino Augusto * 25/09/2006



Carríssimos leitores, eis-me aqui mais uma vez para compartilhar com vocês os momentos poéticos vividos no King’s Club. Como disse no último artigo, o King’s já virou tradição Poética toda a quinta-feira. Nesta última, dia 21 de Setembro, o tema de conversa foi a musa poética de Benguela, Alda Lara.

Dilson, o apresentador do Lev’Arte, lamentou o facto de haver muito pouca informação sobre Alda Lara, a grande Poetisa. Disse ter consultado várias fontes, incluindo na internet, mas a informação em todas elas eram escassas. No entanto a plateia bebeu com alegria a informação obtida, para uns era tudo novidade e para outros serviu de acréscimo ao que já sabiam. Aliás, é um dos objectivos do projecto, divulgar vários nomes da Poesia Angolana e além fronteira incentivando assim, a sua leitura.

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962, casada com o escritor Orlando Albuquerque que propôs-se editar-lhe postumamente toda obra, resultando em um volume de poesia e um caderno de contos. Grande declamadora que alegrou grandes Poetas Africanos na casa do império, Alda brindou-nos com excelentes versos. Dilson destacou o Poema “Testamento” que pediu a participação da plateia para interpretarem os versos do testamento a prostituta mais nova do bairro mais velho e escuro. A prostituta que mereceu os brincos lavrados em cristal, límpido e puro...

E como a Poesia nos permite várias interpretações, alguns da plateia sugeriram a sua percepção do Poema, tal foi o caso do jovem Krumane que comentou que Alda, mesmo sendo abastada, preocupava-se com os desafortunados, nas contas do outro sofrer ela deixou o seu rosário para os iletrados e os poemas loucos deixou-os para seu amor Albuquerque. Outras interpretações surgiram e enriqueceram o tema.

Dilson, depois de ler o prólogo do evento, começou a chamar ao palco os Poetas da noite. O projecto tem ainda como objectivo tirar do anonimato artistas com talento para exporem os seus trabalhos, daí surgiram da plateia Poetas “curiosos”, os que pela primeira vez pisam o palco do King’s para o doce recital. Nzacran foi o primeiro com o poema de sua autoria “Sou nato de Angola”

Visto o desprezo sem luz

Nas manhãs sem verniz

Seguiram-se outros poetas gotejando seus versos que levaram ao êxtase a plateia maravilhosa que rasgou palmas de alegria, deixando ao rubro as mãos. Dentre os quais Poetas que cantaram o amor:



Gostaria de saber

A regra do amor

Está na lua nas palavras

O rosto de uma princesa sem príncipe. Krumane



Incubados fica o nosso destino

Caminhamos longe no infinito

do amor. Ludmila



A doce Jandira, ao subir ao palco, a plateia cobrou-lhe o poema “Esclareça” onde o eu Poético pede ao seu amor que se esclareça se apenas quer usa-la ou ama-la de verdade entre outros esclarecimentos devidos, a mulher amada.

Notei com muita atenção o jovem João Papelo cujas metáforas despertaram minha curiosidade, “Inconsciência”

Eu vi mistérios isolados

Nas unhas da madrugada

Noite felina de cantos tristonhos

Saudava as trevas na sua fresca expansão



Quebrou-se o momento de versos declamados para os versos cantados pela viola do Nelson Guitarra com a música “Monangamba, monangaba zé, monangabe monangaba ó”. Os Poetas da casa arrebataram as emoções da plateia. Dilson chamou ao palco o carismático Zé Isolde com o Poema “Quando cair a madrugada”. Ele disse que:



Quando cair a madrugada

Vai chover SIDA nas torneiras daquele bordel

Na Condel

Bem junto da casa do kota Fidel



O show de cores e luzes que o Patolas captou as imagens, continuou vibrante quando Kardo Bestilo, o autor do Controverso, declamou o Poema que pariu na madrugada daquele dia, “Oh Caneta Perdida!”. Nguimba Ngola levantou a plateia com o seu característico ‘boa noite’, ele com o chapéu a moda do Poeta Agostinho Neto, cantou com a plateia o seu poema “A canção pensante de Kianda” , mais vibração. Lenny matou a plateia de risos com o que ousarei chamar croni-poema que falou do peido da vizinha no elevador, ele que ia perfumado no dia do homem, sexta-feira, a uma patuscada e, como ironia, suas meias também escondiam um forte kibuzo de chulé.

Na segunda parte do programa, Zé Isolde, Kardo, Jandira, dilson e Nguimba Ngola, despejaram mais versos metaforizados para os presentes. O evento culminou com todos os poetas no palco para a habitual mistura, recitando versos no momento com um tema sugerido pela plateia “Contraste” e foi um verdadeiro contraste no palco, que o diga o Sábio.

Fui, mais volto, pois continuarei a seguir as pisadas do Lev’Arte.



www.artesaovivo.bravehost.com

Poesia








linguagem ritmada
e amada
que excita a imaginação
e provoca a sugestão
o sonho...

poesia bonita
imaginação infinita

é o que me corre na alma
e transforma meu sangue
em rimas opulentas
imperfeitas
e consonantes
e gota a gota
pintam o poema da minha existência...

“A magia das palavras”


“A magia das palavras”
Isalino Augusto debaixo da Mulemba xa Ngola, aos 20 de Setembro de 2006.



Lev’Arte, a magia das palavras. Com esta frase estampada na parte de frente das camisolas, e atrás o sinal de prioridade com a frase ‘Prioridade a Leitura’ os Poetas da casa, deram as boas vindas ao público amante da poesia.

King’s Club já virou tradição poética toda quinta-feira a noite. Na semana passada a casa encheu literalmente. Ângelo Reis na apresentação debruçou-se, na primeira parte do programa, sobre o grande enigma, Fernando Pessoa, o poeta místico. A plateia bebeu um pouco mais da seiva de Pessoa, o Alexander Search ou o Alberto Coeiro. Deixa p’ra lá o homem é mesmo místico, aliás foi membro da ordem da Rosa Cruz.

Vai abaixo o poema “Deixem-me o sono ! Sei que é já manhã”



Deixem-me o sono! Sei que é já manhã.
Mas se tão tarde o sono veio,
Quero, desperto, inda sentir a vã
Sensação do seu vago enleio.

Quero, desperto, não me recusar
A estar dormindo ainda,
E, entre a noção irreal de aqui estar,
Ver essa noção finda.

Quero que me não neguem quem não sou
Nem que, debruçado eu
Da varanda por sobre onde não estou,
Nem sequer veja o céu.





Foi o enigma em Pessoa que passou, na semana passada dia 14 de Setembro. No dia 7 de Setembro reflectiu-se sobre o que é Poesia? De facto toda quinta- feira, o Rei torna-se cada vez mais rico ali no King’s. O pessoal é arrebatado as alturas com metáforas sonantes e rios de lágrimas de alegria. Rasgam-se as mãos com palmas de satisfação.

O Lev’Arte, como o nome indica, pretende levar a arte para vários recantos recônditos desta cidade da Kianda. Em Agosto os jovens artistas deslocaram-se ao Instituto Normal de Educação Garcia Neto.



Instilaram nos jovens estudantes o desejo de escrever. Descobriu-se jovens com potencialidades poéticas com metáforas maravilhosas, lembro-me dos lábios órfãos num verso do poema do estudante Sidrake. Ângelo Reis vibrou, o Maximus Angelicum, o poeta dos pés descalços como podem notar na foto abaixo.(Aqui vê-se a foto acima)

Hoje não é quinta-feira por acaso? Epá já estava esquecido, é proibido faltar. Vou preparar minh’alma para mais logo cair na Pompílio Pompeu e desfrutar com os Kings poéticos, hoje falarão da linda Alda Lara, a musa benguelense. Está feito o convite, assista poesia todas as quintas-feiras no King’s Club. Fui, até pela semana.


Texto original em www.arteaovivo.bravehost.com

26 setembro 2006

Vitória Certa




Comí impaciente a dor da labuta
insatisfeito no jogo da procura e da oferta
automotivei-me no sonho da votória certa
na certeza do branco da paz de tanta luta

Será assim até na longevidade dos anos?
ou apenas utopia dos meus olhos
e amanhã chuva de espinhos e abrolhos
gotejando ódio e sangue violento no ânus?

Já é enciclopedia do passado aquela dor
agora deleito-me na onda do amor
na paz de espírito do saber viver

Agora sou empreendedor do amanhã
arquitecto do sonho do camboga do Unguanhã
transformando Angola no canteiro do amor.





Mulemba Xa Ngola, 12/08/2006

14 setembro 2006

No caminhar das unhas

No caminhar das unhas
encontrei o fantasma do mal
na odisseia humana de cunhas
o sonho se despedaça qual anormal

Beijo o céu noturno, violento
e no tormento dos injustiçados
chora a dor da alma cansada
na terra do safa-se quem poder

No onírico verdejante do amanhã
saboreio a ondulação marítima da paz
que me apraz
mortificando o cansaço da dor
olvidando a desgraça do desgraçado

Desperto do meu mundo utópico
vislumbro as marcas do real
e fios de lágrimas banham-me
até as vísceras
pois ainda não acabou
a odisseia dos monangamba
que andam na corda bamba
na terra do safa-se quem puder

Valha-me Deus
e livra-me dos algozes
dos montes e ilhas perenes
que estão nem aí com a dor
dos sofredores


Mulemba xa Ngola 14/09/2006 0:15'

25 agosto 2006

O Rei ficou mais Rico na Vila Alice

O Rei ficou mais Rico na Vila Alice
Isalino Augusto * 18/08/2006



O convite viajou rápido no veículo da tecnologia de informação “Assista Poesia Toda Quinta-Feira no King’s Club, O Rei ficou mais rico na Vila Alice, com Poesia ao ViVo ao som de Guitarra Nacional”.

Minha alma amante apaixonada pela poesia saltou alegre ao local do evento. 17 de Agosto de 2006, King’s Club recebia assim outros amantes da poesia. Com um ligeiro atraso dos convidados, próprio num dia de semana, ainda assim a casa não deixou de acolher o calor de rostos brilhantes que decidiram deleitar-se com palavras carregadas de mensagem lírica com imagens e ritmos de acabar com o stress e levar-nos ao sonho.

Kussi Bernardo na apresentação, levantou as almas dos convidados que adormeciam no frio do doce cacimbo com sua poderosa voz. Kiamboteeee, o microfone gritou alto cumprimentando o pessoal. Começou o evento acordando nossas faculdades mentais para a personagem tão bela como a flor rica de doces e aprazíveis versos. Florbela Espanca, alguns na plateia tinham alguma noção de quem se tratava e Kussi, despejou em resumo parte da vida e obra da musa literária portuguesa. Eis alguns aspectos da sua vida: 1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa. - 1915: Casa com Alberto Moutinho. - 1919: Entra na Faculdade de Direito, em Lisboa. - 1919: Primeira obra, Livro de Mágoas. – 1923: Publica o Livro de Soror Saudade. – 1927: A 6 de Junho, morre Apeles, irmão da escritora, causando-lhe desgosto profundo. - 1930: Em Matosinhos, Florbela põe fim à vida. - 1931: Edição póstuma de Charneca em Flor, Relíquias e Juvenília e ainda das colectâneas de contos Dominó Negro e Máscara do Destino. Reedições dos dois primeiros livros editados. Verdadeiro começo da sua visibilidade generalizada.

Foram convidados voluntários da bonita plateia num número considerável que encheu a casa, para recitarem sonetos de Florbela Espanca. O António e a Manuela, deixaram de lado sua timidez e apresentaram-se ao palco. Kussi terminou a apresentação da vida e obra de Florbela Espanca com o seguinte terceto do soneto intitulado “Eu”;

Sou talvez a visão que alguém sonhou

Alguém que veio ao mundo para me ver,

E que nunca na vida me encontrou!



De seguida começou o desfile dos Poetas no palco do Rei, com fundo de tijolo verniz. Kussi, anunciou o primeiro Poeta da noite, Nguimba Ngola, que segundo o Kussi ‘o jovem que dá cabo dos nossos microfones’ recitou um soneto de sua autoria com o título “nas asas das éguas” note o segundo quarteto da poesia;



O vício cravou-lhe o ânus

Poisou em muitas águas

Cavalgando nas asas das éguas

Sangrou a raiz do prazer dos anos



Desfilaram outros Poetas maravilhosos que emprestaram o seu talento, Manuela, a linda menina com maravilhosas metáforas na sua poesia, Rodrigo, grande apaixonado da arte que vem já emprestando sua voz no espaço Bahia e, seguiram-se o Francisco, um virgem. Chamam virgem a todo Poeta que sobe pela primeira vez ao palco para o recital. Recitou também o Sábio e a linda Ludmila, com o Poema que fala dos pelos do namorado da sua amiga. Quebrou-se o clima para outro campo de arte, a guitarra do Nelson com seus dedos mágicos brindando-nos com a bonita música “umbi umbi yangue va kuele kala kassimbamba vossala possi”. A plateia vibrou, pulou e feriram as mãos com palmas alegres. Seguiu-se no desfile Ângelo Reis, eu gosto chama-lo Maximus Angelicum, o Poeta dos pés descalços que emocionou a plateia convidando-os a participarem da recitação do Poema “Sara eu te traí” abaixo alguns versos;



Quando tu esperavas por mim

Numa langerie vermelha no nosso

Esperançoso cadeirão preto

Oh! Sara eu te traí



A plateia não se conteve quando foi brindada com teatro do Grupo Teatral “Muana Mwa Zanga” com Nelson e companheiros, jovens ilhéus talentosos com uma peça sobre o casamento, este mesmo Nelson brindou ainda a plateia que se fartou de rir liberando o stress do dia, com poesia cómica. O evento no auge surgiu em palco Kardo Bestilo, o autor do livro que será muito brevemente lançado, o Controverso, recitou no seu estilo característico, correndo e pulando no palco como que num grande ‘Kibidi’ rebentando com o microfone e elevando a plateia ao delírio com o Poema que retrata o conflito entre fiscais do governo de Luanda e os zungueiros, vendedores ambulantes desta urbe, “Kibidi”;



Eles silenciaram minha razão de viver

naquele kibidi

E ainda me deixaram cego e paralizado

mas garanto que um deles

jamais vai fazer uso do mambo



Na segunda parte do evento, na revira volta ou 360º em que os Poetas voltam com um segundo Poema na noite. Nguimba Ngola foi anunciado e pulou ao palco com o Poema “Extase na solidão da noite” e Ângelo Reis declamou “Eu sou o anjo que caiu do seu para te amar”, em seguida Kussi, anunciou o Poeta que enlouquece a plateia com seus maravilhosos versos, o inspirado Zé Isolde, que chegou atrasado ao evento. Recitou o Poema que escreveu no mesmo dia em pleno candongueiro, o azul e branco de todos os dias, “Assim que morrer”;



Assim que morrer

coloquem meu corpo

no alto das cruzes do musseque

em jazigo de areia pedra e barro

o barro que não custa fortuna de

cimangolas bricomates e portland filleres

o barro é de graça



A banda que leva o nome da casa, Os The Kings, brindaram-nos com uma linda música “Hotel California”, com a plateia alegre no bater de palmas acompanhando o maravilhoso som.

Já para fechar o evento, subiram ao palco todos os Poetas da noite naquilo que ousaram chamar de projecto mistura, recital de poesia em grupo, cada um criava versos no momento, lindas metáforas e imagens coloridas com ritmo de mexer corações surgiram do que foi realmente uma liberdade total de criação.



Não me arrependi ao decidir ir para Rua Arsénio Pompílio Pompeo do Carpo, na Vila Alice, no Kings Club local bem aconchegante, desfrutando de momentos artísticos criados por jovens apaixonados pela arte. O projecto Lev’Arte, apresenta todas as quintas-feiras eventos do género e estão desejosos de expandi-lo para outros locais. Deus abençoe estes jovens que não se deixam levar pelos críticos que amarram a arte intitulando-se os donos dela. Neste ecletismo eles vão melhorando cada vez mais e amanhã, acreditem amanhã nascerão daí verdadeiros Poetas que enriquecerão nossa literatura. Eu cá já tomei minha resolução, todas as quintas-feiras os meus caminhos vão dar ao Kings Club deleitando-se com rimas e metáforas coloridas.

texto publicado no www.artesaovivo.bravehost.com

18 agosto 2006

Nas asas das éguas

A dor deitou-se na cama do vício
sequelas de longíquas boemias
sob o manto de cacimbo das gemeas
gazelas calejadas no ofício

O vício cravou-lhe o ânus
poisou em muitas águas
cavalgando nas asas das éguas
sangrou a raiz do prazer dos anos

Os ossos despiram-se da carne
sangrou tinta do pénis boemio
pseudokambas evaporaram do gremio

A carne secou de dor
madeira verniz afundou na cova nova
no inconsequente caminho do cu que leva a cova



Casa da mamoite do coqueiro, 16/08/2006

11 agosto 2006

A canção pensante da Kianda





Oh, oh, oh kianda
Oh, oh, oh kianda

A kianda sentou-se
no sofá da baía
adornada de luzes cintilantes
deleitando-se com a música
dos motores barulhentos e fumegantes

Oh, oh, oh kianda
Oh, oh, oh kianda

Kianda bebeu o suor de corredores
ávidos da boa forma
sobem e descem gotejando a gordura
dos excessos no comer e no beber

Oh, oh, oh kianda
Oh, oh, oh kianda

Kianda estasiou-se com o cheiro luandense
do frio de cacimbo no mês de agosto
com cesta básica de desgostos
e no uirom,uirom da caça aos bandidos
ou do boss que passa no cortejo da boa vida?

Oh, oh, oh kianda
Oh, oh, oh kianda

Kianda sorriu perdidamente
não de contente
pois seu doce coração
esvaziou-se de emoção
que lhe fugiu no dia a dia
nas asas de malambas

Oh, oh, oh kianda
Oh, oh, oh kianda

Kianda consolou-se no kilamba
bebeu o caldo na tigela de madeira
e a kissangua de poeira
da vida de Luanda


Deserto do Eixo-Viário 01/08/2006

04 agosto 2006

A minha poesia




A minha poesia é o grito dos injustiçados
Grito estridente pela paz e amor
Grito pela carteira e giz
Grito pelo progresso

A minha poesia é sem rima
Leva nas metáforas o som da muxima
Nos hinos, nos salmos, e nas malambas do povo
Alimentados com esperanças incertas

Promessas do outrora
Inanimadas na ganância das estrelas

Oh céu
A minha poesia chora
O pão da terra

Lamenta a sorte dos desafortunados
Machucados na alma
Tombados no sonho despedaçado

A minha poesia
Só quer pão para todos
Casa para todos, saúde para todos
Entendam bem

Para todos


Mulemba xa ngola 08/07/2006

14 julho 2006

O fogo dos meus olhos














O fogo dos meus olhos
fervilha candente

Olhando o amanhã
o sol nascente
oxigenando a mente

Contente com o verde clorofila
dos pastos relvosos
com enxurradas de pão e vinho

E a criança de trapo farrapo de Angola
lambuzando leite e mel
que jorram do deslumbrante kwanza.

O fogo dos meus olhos
alegra-se com o instante utópico
banhando-os com lágrimas de esperança.



12/07/2006 1:47 AM

Insaciáveis

_Uau comprei um fusca meus cambas!
O encanto do dudu faz tudo evaporou. O tempo, o dinheiro, o desejo do novo, moldou as circunstâncias para desejar o VW touareg.
Ora os bens materiais são de uma vida efémera, precisam ser substituídos.
Muito bem, o que dizer então do desejo carnal libidinosopromíscuo, o sumo sexual?
_ Fiz amor com a Paula, a Ângela, a Priscila, a Xunga, a Buculalucuaco e a tua amiga, hoje eu quero você meu bem.
_Olha fofo eu transei com o Xico, com o Vivaço da Vida, com o teu pai, mas ainda quero mais, quero eterno orgasmo.
Insaciáveis, procuram o orgasmo bestial, homossexual, orgiáco-bisexuado-lésbico. Nem sífilis nem SIDA nem raios que o partam os detém.
Correm, correm e alcaçam o nada. Navegam em muitas águas. Os poços recebem filetes de água de vários rios e nada, ninguém saciado.
_E eu vou comer só na mesma panela? Todos os dias o mesmo bife?
Filosofos da desgraça “torram o kumbu dos bolsos furados”, o tempo e a saúde “e lá vão adormecendo na cova escura e agora quem é o culpado?”
Pois é, pergunta o poeta, quem é o culpado ó insaciáveis? Renunciastes a moral?
Então se assim for pagareis com os espinhos na carne, ó insaciáveis.


Mulemba waxa ngola, 12/07/2006 4:00 AM

12 julho 2006

No mar da vulva

Desaguei no mar da vulva
saboreei uvas maduras e verdes

As uvas verdes já perderam o himen
tão cedo...
sem medo...

As uvas maduras
fervilham de gostos virulentos
causando tormentos na banda

Oh kianda!
as uvas venderam a moral?

Oh poeta
há quem se importa salvaguarda-la?

Sei lá...



12/07/2006 2:10 AM

11 julho 2006

Magestosa mulembeira

Mulemba Xa Ngola




Oh que majestosa e frondosa árvore
Mulemba Xa Ngola
Que eterna árvore
Marco histórico da soberania
de Ngola Kiluanje kia Samba

Mulemba Xa Ngola
Sua beleza é divinal e inspira minh’alma
Majestosa árvore
que me vê passar todos os dias
que na calada da noite,
inspira-me a escrever
Escrever que Mulemba Xa Ngola
é árvore majestosa e venerada de Angola

Do Cacuanco ao Sambizanga
Do Farol das Lagostas ao Cémitério do 14
Bem no centro está você
charmosa e vistosa árvore.




05/07/1998

Oremos




Quando chamo, responde-me, ó meu Deus justo.

Na aflição tens de fazer para mim um amplo espaço.

Mostra-me favor e ouve a minha oração.
(Salmos 4:1)

07 julho 2006

Sonho despedaçado (conto)

O chorar das águas da chuva sobre o zinco a encomodavam de tal maneira que desistiu de estudar para o exame final no dia seguinte.
Os olhos cansados e doridos resultante do esforço que fazia para ler devido a fraca iluminação que a luz da vela lhe oferecia e o organismo a reclamar por descanso, levantou-se e foi correndo para o berço e aproveitar as poucas horas que ainda lhe restavam.
Beleza divinal, corpo angelical, olhos radiantes e uma farta cabeleira que fazia inveja a toda garotada do seu bairro, o Kandua. Os rapazes derretiam-se tentando de todas as maneiras conquista-la. Primo Xico vizinho dela já casado, tentara viola-la ao dar-lhe boleia da escola para casa.
Xula Pedro na sua extravagância, subiu no azul e branco a caminho do Instituto Médio do Kikolo onde estudava o 1.º ano do curso de gestão. Seus sonhos para o futuro giravam em torno de terminar os estudos e conseguir um emprego para ajudar a mãe Dona Sessa,viúva e, os seus sete irmãos menores sendo ela a primogénita. O pai tinha outros filhos, oito, com duas mulheres, para além de outras concubinas sabe-se lá deixou-lhes filhos também pois no seu enterro ouviam-se boatos de que tinha engravidado duas moças de dezassete anos, ele que já chegara aos cinquenta e pouco, era um verdadeiro ‘ngombidi’.
Xula não tinha duzentos dólares para pagar os professores, tinha negativas em quatro disciplinas e podia reprovar perdendo o acesso no ano seguinte, o que seria mais difícil ainda. Na sua cabeça um verdadeiro conflito.
“Mais quem vai me arranjar esse dinheiro todo meu deus, eu que estou numa verdadeira dibinza, agora é que estou paiada” pensava ela, enquanto reescrevia as perguntas da prova que estava fora do alcance dela devido a fraca preparação e, muitas das questões da prova eram matérias dadas superficialmente pelo professor da disciplina.
Xula já carregava kilapes a maneira e Mingota não parava de a pressionar pelos cem dólares de roupinhas do Brasil que estavam na moda.
_ Xula e cumué o kumbu então? Tens de pagar já, a minha tia vai viajar depois de amanhã, assim não dá para te dar mais kilapi.
Mesmo sem saber onde sairia o dinheiro ela se endividava para satisfazer o desejo de estar na moda. Outras vezes pedia emprestado as roupas das amigas quando fosse cair na noite.
_ Oi Sarita, empresta-me lá aquela tua ‘sintura baixa’, vou cair na noite, sabes as minhas roupas não me ficam bem p’ra ir na disco.
O namorado, este um homem já casado, enchia-lhe de promessas e usava-a e abusava-a até mesmo um dia ter feito aborto sob orientação deste.
_ Ta qui o dinheiro é ir já sacar esta merda da barriga, eu sou casado e não vou poder te assumir ta ouvi bem xe canuca. Dizia ele.
Depois da prova ela foi ter com o professor e tenta negociar a nota.
_ Prof estou mal, ainda não tenho dinheiro, mas gostaria que o prof visse minha maka.
O professor Ngulo a Kime estava nem aí, os seus olhos fitavam o umbigo parafusado de Xula e parte dos pelos púbicos a espreita, desnudou-a com intensos olhares e fornicou-a em pensamentos. Xula fingiu não ver o avolumar das calças do professor cheio de tusa.
_ Não tem maka aluna, isso resolve-se já. Dizia ele, mandando a aluna ter com o delegado, o Jorgito, seu intermediário no processo da corrupção.
_ Delegado, o prof mandou-me ter consigo.
_ Yá dama está aonde a massa então, eu ponho já o nome aqui na lista.
_ Mas delegado eu já falei com o prof.
_ Bem se já falaste com ele é melhor ele me pontualizar, porque aquí é só mesmo massa a não ser que...
_ A não ser que... anda delegado fala.
_ Bem é assim, eu sei que o prof te curte bué, e que tal se lhe dares uma fezada, ele até te ajuda já noutras disciplinas mesmo sem massa dama. Insinuava o delegado que já sabia das malandrices do professor Ngulo a Kime. Ele também já tirou ‘proveito’ das safadezas do professor, ‘comendo’ a Saluka.
Xula pensou na possibilidade, ‘bem e se o prof me disser que quer me ngombelar e me ajuda mesmo a passar em todas? Também não vai custar nada né, uma rápida e pronto, aquele gajo do meu namorado também não quer ajudar só promete, porra isso já é demais’. Xula lutava com os seus pensamentos enquanto seus passos cruzavam a sala dos professores.
_ Prof e cumué então a minha maka? O delegado insiste em pedir dinheiro e eu ainda não tenho prof, me ajuda só depois te pago.
_ Bem aluna é assim, vamos fazer um acordo. Disse o professor Ngulo a Kime enquanto tirava água do bebedouro.
_ Que tipo de acordo prof? Xula fica ansiosa, ‘o que será que ele vai me dizer?’
Dá um gole na água e dirige-se para a aluna _ Me dás a rata, transamos numa boa e ta tudo resolvido, eu trato de tudo nas outras disciplinas tásse?
_ Mais prof, isto até é muito feio! Não acredito no que estou a ouvir. Xula fingia muito bem, já esperava ouvir aquelas besteiras do professor.
_ O feio mesmo vai ser reprovares e ficares um ano em casa.
Xula baixa a cabeça, os pensamentos corriam-lhe intensamente na cachimonia ‘e se... mas e se ele...’. O professor no seu jeito malandro insistia com a Xula e esta não resiste a pressão e cede.
As mãos do professor Ngulo a Kime apoderaram-se das tetas de Xula e a outra serpenteou a vulva. _ Mas prof aqui? _ Calma aluna não tem maka só estamos nós todo mundo já saiu. Enquanto respondia já ele tinha o seu orgão genital entesado que atravessa as entranhas de Xula e, esta deixa-se dominar deitando sob a bata que trazia e, pimbas!
O professor Ngulo esquecera-se de que o Director do Instituto ainda estava lá dentro só que tinha deixado o carro no portão de entrada. O delegado também ainda estava lá com os guardas e denuncia o professor ‘o prof Ngulo está fechado na sala dos professores com uma aluna’. Este vai a caminho da sala dos professores e cruza-se com o Director e empurram a porta que afinal Ngulo a Kime não fechara devidamente.
Xula e o professor Ngulo a Kime foram apanhados com a boca na botija. Foram literalmente escorraçados do recinto escolar depois de fotografados pelo Director com seu telemóvel. O assunto virou manchete no JA, notícia de primeira página “Professor e aluna surpreendidos a fazerem amor na sala de professores no IMGK”.
Xula e Ngulo a Kime foram expulsos do sistema de ensino por decreto ministerial.
E o sonho de Xula de terminar os estudos ficou despedaçado para o desepero de Dona Sessa que sentiu como que um golpe com uma machadada na sua esperança de melhorar a vida com o apoio da filha.

A música da cevada e da uva

Mentes afogadas no rio de nganza
transam promiscuamente a vida

esquecem-se que o amanhã ainda virá
e trará
a esperança de um sol
ameno
eterno...

Dançam a musica da cevada e da uva
estilhaçam os figados
gotejando o amarelo da desgraça

Não dão graças a Deus pelo coração
caem na ilusão
e na emoção
torrando o kumbu dos bolsos furados
e lá vão
adormecendo na cova escura

e agora quem será o culpado?


26/01/2006

Extase na solidão da noite

Na solidão da noite
paira a voz,
a saudade
o desejo de reencontro
do amor perdido

Na solidão da noite
assaltei teus pensamentos
ajoelhei-me
suplicando-te perdão
carinho e paixão

Na solidão da noite
beijei teus carnudos
avermelhados
lábios
estasiei-me com o seu amor
afoguei-me no lago castanho dos teus olhos
inebriei-me com o calor dos teus seios maboques

Na solidão da noite
reafirmei-te o meu amor
meu eterno amor

viajamos na espaçonave orgasmica
com espasmos rítmicos
da química amorosa

na cama de areia branca do mar
com música romantica das ondas
abençoados pelo reluzente luar
e as estrelas quais anjos de guarda
na solidão da noite.

05/06/2006

Amiga da zunga

Raios do sol ainda a espreguiçarem-se
ja ela está de pé com a kinda na cabeça

Carrega nas costas o seu rebento
e sai correndo a cidade
na ânsia de conseguir pão para os seus

Pés calçados com a poeira da jornada
a descer a calçada
cansada, suada
zunga Luanda
vem de recantos recônditos da cidade cruel

"Amigo está aqui água fresca é cinco kwanza"

Lábios ressequidos da fome que lhe assalta o estomago
Brilho nos olhos negros,
ávida da vida que lhe foge da alma
Esperança negra, já não há verde...

Chega a kubata com os parcos proventos do dia
faz o comer do insensível dono
que a quer "comer" de qualquer jeito

Que vida dura
Leva surra se ela rejeita
jaz fatigada na esperança de mais um dia chegar

Fortaleça-te Deus ó amiga da zunga