23 abril 2010

Viva o Livro!















o livro, o livro, o livro
o livro, o livro, o livro
o autor, o autor, o autor
mas o livro, mas o livro, mas o livro
mas o autor, mas o autor, mas o autor
o livro e o autor, o livro e o autor
e os direitos do autor, o livro, e o livro













o livro, a cultura, a leitura
o livro, a cultura, a leitura
leitura&cultura, leitura&cultura
literatura, leitura, tertúlia, leitura, cultura
o livro, o livro, o livro
o livro, o livro, o livro
o autor do livro, leitura do livro
o autor do livro, leitura do livro














Cervantes, Shakespeare,
a rosa e o livro
o livro e a rosa
abril, abre o livro, São Jorge
e o livro do livro?
leitura dos livros e dos livros
na cultura dos livros a leitura dos livros
e de se fazerem livros não há fim
mas em Abril o livro é pensado
proclamado, o livro o direito do autor
te amo livro meu
viva o livro

20 abril 2010

MÃE



MÃE

linda
teu olhar
profundo
amparo
neste mundo
e PAZ
doce paz
nos cabelos
grisalhos
mãe
mãezinha
mamã
ah
doce aconchego
na placenta
pequena deusa
musa encantadora
mãe
mãezinha
mamã
eu te amo
MÃE do mundo
nas costas
o mundo
perpetuação
da VIDA
no esquecimento
o sofrimento
o tormento
no Beiral
esquecida
os dentes
evaporados
na mente
o SONHO
mãe
mãezinha
mamã
thanks MOTHER
ngasakidila
mãe querida

19 abril 2010

Carmo Neto - Novo SG da UEA


A União dos Escritores Angolanos – UEA, a mais antiga organização cultural depois da independência de Angola, fundada aos 10 de Dezembro de 1975, proclamada pelo primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, tem agora uma nova direcção. Ela ocupa um estatuto reconhecido de associação prestigiada e com um historial de estabilidade e democracia a toda a prova.

Foi eleito o escritor Carmos Neto, (na foto) para dirigir os destinos da instituição no triénio 2010-2013. Dos 45 votantes, num universo de 120 membros de pleno direito da UEA, 41 votaram a favor da lista única, enquanto dois o fizeram contra e igual número de votos brancos.

A nova direcção tem Adriano Botelho de Vasconcelos, na presidência da mesa da assembleia-geral, Roderick Nehone, como vice-presidente, e Aguinaldo Cristóvão, como secretário.

Na comissão directiva está como secretário-geral, Carmo Neto, secretário das actividades culturais, Abreu Paxe, e secretário das relações exteriores, Albino Carlos.

O conselho fiscal é presidido por Álvaro Macieira, tendo como secretário João Rosa Santos e relator Yolanda Dias dos Santos.

A anterior direcção era dirigida pelo também deputado Adriano Botelho de Vasconcelos.

Para Carmo Neto, “a anterior direcção concretizou muitos projectos em prol do desenvolvimento da instituição e dos seus associados e, como alguns não foram concluídos e considerando a sua importância para a vida da UEA, é necessário dar continuidade ao trabalho. Uma das metas é procurar aumentar e rentabilizar o património imobiliário da UEA, com o intuito de gerar receitas que possam se reverter a favor dos seus associados e para investir em actividades de grande vulto a serem realizadas pela instituição agremiação literária”. Dar-se-á igualmente maior enfoque a internacionalização da literatura angolana, uma forma de permitir que as obras dos autores nacionais possam ser lidas no país e no estrangeiro, quer por angolanos como por cidadãos de outras origens.

Para ser membro da associação tem de se ter no mínimo duas obras publicadas e apresentar dois padrinhos que sustentem a candidatura, devendo estes serem escritores.

A União dos Escritores Angolanos (UEA) assenta a sua actividade nos seguintes princípios fundamentais:

a) Independência intelectual e orgânica;

b) Liberdade criativa;

c) Promoção dos valores culturais nacionais e de todas as conquistas universais; posicionamento contra todas as formas de discriminação étnica, racial, sexual, nacional, cultural e outras;

d) Profunda e activa solidariedade humana;

Carmo Neto é natural de Malanje, cidade onde nasceu em 1962. Contista e cronista, tem no mercado as obras "A forja", 1985, "Meu réu de colarinho branco", 1988, "Mahézu", 2000, "Joana Maluca", 2004, e "Degravata: entre ter, aparecer e ser", publicada em 2007.


15 abril 2010

O sonho, a língua e os provérbios no “Vimbo Li´Olonjoi”



 
Boa noite minhas senhoras e meus senhores, ilustres convidados e amigos do autor. Destaco a presença do ilustre escritor Wanhenga Xitu, certamente o nosso mais velho aqui nesta sala em que os olhos secos de Kilamba nos observa.

Conhecemo-nos por mera casualidade num evento como este. Qual aprendiz a escriba, (ou escrevedor como diria José Menas Abrantes em “apuros dos poetas”) detive-o logo que o avistei pois dele já bebera alguns versos em “Raízes do Porvir” no “A luz alfabetizada das palavras” e ainda no “Vocifuca Colonyañe”. Despi-lhe imediatamente das outras vestes, pois desde menino o via nas mais variadas actividades inerentes às suas funções de tamanha importância públicas. Afastei rispidamente a teimosa timidez que de vez em quando tenta apossar-se de mim e lá soltei a língua. Trocamos algumas impressões e os contactos. Explicou-me resumidamente sobre o surgimento do pseudónimo Domingos Florentino e, daí em diante o contacto foi estabelecido ainda que relutantemente até me surpreender e de que maneira, apresentar o seu primeiro livro de contos.

É tarefa nada fácil para mim, o último dos que tacteiam timidamente no mundo das letras angolanas. Quanta ousadia! Mas ao mesmo tempo muito gozo pela honra que a mim foi concedida e, coincidentemente neste 14 de Abril o dia que relembra Hojy-ya-Henda e aclamado dia da juventude angolana. Ora, é exactamente o que eu desejo ver, a interacção dos escritores consagrados de outra geração com os mais jovens conforme asseverei em uma recente entrevista num jornal.

Dito o acima, passemos à ingente tarefa.

Na oralidade africana o contar é parte essencial da vida. O hábito de ouvir e contar estórias vem acompanhando a humanidade em sua trajectória no espaço e no tempo. É no sec. XIX e XX que a forma escrita ganha forma mas, a oralidade torna-se fundamental à literatura angolana, daí que muitos autores encontram nela socorro por ela mesma, a oratura, “encerrar em sí as conotações de um sistema estético, um método e uma filosofia” segundo Luís Kandjimbo referenciando Ngunji wa Thonga. (Revista Austral nº45, 2003)

Domingos Florentino, traz-nos assim o “Vimbo Li´olonjoi” onde nos leva alegoricamente para um mundo ou melhor “Terra dos Sonhos”. Ah e como é bom sonhar! E como escreveu Eráclito Alírio da Silveira “…quando eu sonho eu sou transportado para um mundo indizível, não sei se esse mundo é possível entretanto, tenho a premonição de que esse mundo já foi meu”. (http://www.eraclito.recantodasletras.com.br)

Eis que o autor de o “Vimbo…” leva-nos colectivamente para “Sikulo Ndavita” onde encontraremos todo um “hibridismo histórico-cultural” mas desde já acautelando-nos “assimilar esta toda ficcionada estória a qualquer tipo de realidade não passa de mera manobra perigosa” cautela que serve mais a estória do mais velho Kalavelu Lopesi, a segunda parte deste livro. No entanto, no “Sikulo Ndavita” sonhemos à vontade pois para Jung, o sonho “é um auto retrato espontâneo e forma simbólica da real situação no inconsciente”. Diria que o sonho eleva-nos no imaginário e na fantasia e em literatura, é essencial, é característico no conto.

No “Sikulo Ndavita”, onde encontraremos o maravilhoso, como um mundo de faz de contas, Domingos Florentino habilmente interliga acontecimentos estranhos que fogem ao nosso entendimento se são reais ou estamos perante a percepção do que é aceitável ou daquilo que é credível. Tome nota que o fantástico não pode ser explicado racionalmente. Simplesmente admiraremos tal como as gentes do “Sikulo Ndavita” com expressões ou “interjeições e locuções interjectivas” depois de terem acordado do sono:

“ – Haka, ene akwetu, ndicimuilanye, a suku yange, eló, a mâi wé, atate wé, e coisas assim” (pg. 16).

Mas o velho Já Sem Dentes-o-Tchamapunho, vem acalmar as gentes no seu linguajar difícil tentando expressar-se na língua estranha que não lhes pertencia.

“ – Num é wima nata! Num é wima nata! É sikulo nda vita! É sikulo nda vita!” (pg. 18).

Tal como nos diz o autor na nota explicativa, este hibridismo é um problema com que as nações africanas se debatem “fruto do contacto com as culturas forasteiras “impostas” e, por isso, não correctamente assimiladas” o que normalmente “vai resultar numa “quase” rejeição da própria identidade sem, no entanto se poder adoptar na plenitude o modelo supostamente superior proveniente do exterior”.

Para Jorge Macedo, estimado professor que viaja em outras luas, (ou na memória de Deus Pai Filho Espírito Santo?) “o contacto cultural com os demais povos não deve resultar na perda da personalidade do angolano no contexto dos seus valores antopológico materiais e espirituais” (Macedo 2006).

O conto “Vimbo Li´Olonjoi” pode ser também, ainda rebuscando o pensamento do professor Macedo “alerta para os nossos compatriotas constantemente mobilizados para abandonarem a sua riquíssima identidade cultural africana em busca da cultura universal, quando todos os povos cada um, de per sí, prezam os traços identitários e inconfundíveis da sua cultura”.

No “Vimbo Li´Olonji” é valorizada a língua pois ela traz consigo uma visão de mundo. Ela e os provérbios (destaque também neste conto) aparecem como elementos de valor na filosofia bantu, sendo a língua a base sobre a qual o pensamento assenta e, os provérbios a sua elaboração primeira.

Não é estranho portanto, ouvir Agostinho Neto, o poeta, dizer “... é mais triste que espantoso que uma grande parte de nós, os chamados assimilados, não saber falar ou entender qualquer das nossas línguas! E isto é tanto mais dramático quanto é certo que pais há que proíbem os filhos de falar a língua dos seus avós. É claro, quem conhece o ambiente social em que estes fenómenos se produzem e vê no dia a dia o desenvolvimento impiedoso do processo de “coisificação” não se admirará de tanta falta de coragem. Este desconhecimento das línguas que impede a aproximação do intelectual junto do povo cava um fosso bem profundo entre os grupos chamados assimilados e indígena... a maior parte dos poetas (Domingos Florentino o é) tem sido capaz de manter um contacto mínimo com populações do seu meio e identificar-se, traduzir a vida desses homens nos seus poemas...” e acrescento, nos contos como neste que ora vos apresento.

Em se tratando dos povérbios, Luís Kandjimbo nos diz “os provérbios ocuparam sempre um lugar de destaque nas obras dos autores angolanos do sec. XIX e XX” e cita entre os quais Cordeiro da Matta. Os alusapo ou jisabu (na minha língua, o kimbundu), constituem um conjunto de ditados e máximas caracterizados pela brevidade, e a ele associado uma estética de transmissão de pensamento, crenças, ideias, valores e sentimentos.

Domingos Florentino traz-nos muitos destes como se pode notar nas páginas 29, 33, 34, 35, 42:

“Weyile eye l´okuenda – tudo que sobe há de descer”; onduko yimola mola muele – as pessoas saem o nome que têm; cavonga omundi kapule vimbo – se um terreno aparentemente fértil está em pousio por muito tempo, vá a aldeia e pergunte, ou seja, quando a esmola é grande o pobre desconfia”, fiquemos apenas por estes exemplos.

Com uma organização simples, e onde a trama é linear, deleitamo-nos com personagens bem construídos cujos os nomes são a representação da suas acções. Os leitores vão saborear os alimentos típicos da terra, mais propriamente da parte sul de Angola como o iputa, a batata-doce vindos das ovapia e olonaka, os frutos do ocumbo e beber kacipembe, kandingolo, vão calçar olohaku e ainda vão temer a ociliangu e quiça, vão docemente apalpar (os rapazes) as raparigas nos oviwo. Portanto eis o convite para à “Terra dos Sonhos” onde as visões de Pokanano, Tchimutue e o passeio em Onirilãndia (espaços imaginários sem pressão de tempo e coisas assim) vão certamente encher-vos de gozo. Gozo que nos fará certamente muito bem na medida que também sonhamos com um país novo (renovado) em que os que tratam do bem estar das nossas gentes devem empenhar-se seriamente para tal e aí o sonho tornar-se realidade pois, bem sentenciou o velho Tchamapunho “ – Mulo vimbo li´olonjoi kalotele atundemo – isto é terra de sonhos, quem não sonhar que se retire daqui”.

Obrigado

Nguimba Ngola,

Mulemba waxa Ngola, 14 de Abril de 2010.

"O mundo não desaba quando termina uma relação..."

Penelas Santa, jovem escritor que vai já no seu quarto livro em prosa, este último a exemplo do penúltimo, "Quando o adultério é sinónimo de amor", aborda aspectos do foro sentimental, familiar, os relacionamentos entre marido e mulher. Desta feita ele nos acautela que a relação pode terminar mas no entanto não cometamos actos bárbaros, hediondos pois o mundo não desaba, coisas boas ainda podem surgir.

Quantos casamentos desabam quando há falta de diálogo no lar, quando as finanças não cobrem o alto custo de vida, quando surge traições no meio? Há toda uma necessecidade de repensar a vida familiar. A base em que assenta os relacionamentos deve ser forte e bem ponderada. As relações hoje são descartáveis. Não há o sentido de compromisso. Mas quando já não há mais amor? E quando já erramos o bastante e o outro lado já não consegue perdoar-nos e aponta e reponta sempre nossos erros passados? Vamos continuar no barco ou saltamos dele? E os filhos? Toda uma reflexão que devemos fazer.

Mas no "o mundo não desaba quando termina uma relação...", Penelas traz duas estórias que descambam em trajédia. Vale mesmo matar por ter sido traído? Leiamos o livro.

O lançamento foi no hall do BPC que se tornou já um "jango cultural". É assim que as empresas podem contribuir para o desenvolvimento da nossa cultura, apoiando iniciativas do tipo.


O meu pequeno, Joel Lino também esteve presente ao lançamento acompanhando o papá. Guilherme da Paixão, jornalista e representante do projecto editorial de Penelas Santana. Estivemos antes no programa de rádio "Madrugada Ecclésia" da Rádio Ecclésia, onde abordamos aspectos ligados a problemática dos jovens escritores e os hábitos de leitura por parte dos jovens e não só. Estiveram no programa, Carlos Pedro, poeta, Penelas Santana, o nosso amigo de que vos falo, Alcides, educador social e mais dois amigos, um linguista e outro estudante de ciências políticas, foi um debate saudável.





Alcides, o educador social e sua namorada, eles compreendem que se deve manter saudável uma relação. Jomo Fortunato, director da Arte Viva meu editor, estará tecendo comentários sobre o livro? Ele é também crítico literário. Kardo Bestilo, coordenador do Movimento Lev´Arte, pensando na relação? Boas tens sido chefe de família exemplar. O momento cultural foi abrilhantado por Ângelo Reis, o poeta dos pés descalços e Wladimir Gonga que casaram o semba e a poesia. Foi bom ouvir-vos.


Elas também certamente preocupam-se com as suas relações . Alice Cruz, jornalista, Kátia Melin, apresentadora dos eventos do Lev´Arte e duas amigas que relutaram em fazer a foto, e lá cederam quando lhes convencí que é para uma causa nobre, agradecido por me permitirem publicar vossa foto.


O Poeta do Amor e sua namorada, ele declamou um lindo poema. Menina do protocolo, aceitou prontamente que fosse fotografada, gostei.

A Brigada Jovem de Literatura também esteve bem representada.

E assim foi mais um lançamento, é mais um livro que vale ler. Sucessos Penelas Santana.

Niterói, Niterói, como dói, como dói

(Foto retirada do site da primeira edição)


É com o coração a rasgar-se em dor que vejo o que as gentes em Niterói estão passando. Foi assim no Haiti e mesmo no meu país (diga-se das enchentes no Cunene) e em outras partes onde as catástrofes naturais estão devastando, dizimando vidas. Junto-me portanto a  esse povo e com eles chorar, lamentar, clamar e apelar por ajuda. Tenho lá um amigo (virtual, ou mais que isso?) estudando e, por sinal é angolano, estou sem notícias dele.

É como escreveu o professor Benito no su blog (http://benito-blogdobenito.blogspot.com/), onde resgatei o título para este post, "Culpa nossa, culpa da ambição humana que quer transformar tudo que a natureza nos deu de graça em luxo ou conforto pessoal.

Imaginem um planeta sem rios, imaginem um mundo sem as florestas que garantem o ar que respiramos. Sem nenhum catastrofismo, os cientistas estão alertando para o perigo de uma seca definitiva ou uma enchente total. São tufões, ciclones, tsunamis, tudo invadindo essa imensa praia ecológica que Deus nos permitiu...

É preciso, urgentemente, que paremos de transformar vida em lucro; é preciso, urgentemente, podar essa consciência imediatista e pensar nas futuras gerações. É tanta fumaça, é tanto carbono invadindo a atmosfera, é tanta fabrica de tanta coisa que estamos perdendo a capacidade de discernir entre os que nos faz bem e o que nos faz mal."

Oh Deus, salve-nos, tenha piedade de nós.

Amém.

13 abril 2010

Esta mulher inebria a minha mente


Esta mulher inebria a minha mente

E como me alegra olhar nos olhos dela!
o branco da PAZ que transpira da alma dela
me eleva no mais alto dos montes
na terra da Nossa Senhora do Monte

E nas curvas lindas da Leba do corpo dela
eu faço imaginações lúdicas e didácticas
pois dela flui um rio
cuja fonte é a Rocha mais branca do Lubango
dos meus sonhos

Tem olhar de mumuíla
e pernas douradas de gazela
quero muito estar com ela
nas nuvens
e em doces fantasias
acorrentado no Bailoço da Vida
escrever os mais belos versos de AMOR

Ah! Como ela é atraente é um encanto de mulher
ela tem fogo nos lábios e os sábios perdem a razão
e caem na emoção que alimenta a vida

Esta mulher inebria a minha mente

Vistosa gostosa ela se confunde com a natureza
que riqueza de mulher flor reluzente do meu olhar

Aceita meu colar de versos para te enfeitar os cabelos
cheirosos de um perfume apaixonante
Você me cuia kilumba dos meus sonhos

Esta mulher inebria a minha mente.

12 abril 2010

Sonho, de amor




O meu sonho
é uma madeixa dos teus cabelos
sufocada ao luar de uma noite
cansada de amor

O meu sonho
somos nós, tu e eu
no corcel da vida
à procura do sol

Falo do sonho, amor
do nosso sonho
em que brincamos com crianças não paridas
com esperanças sangrando desesperanças

O meu sonho
és tu, Minda-a-Mulata
sonhando com a vida e morrendo
em tempo de fome farta
e a guerra a acabar
(ou a reatar?)

O meu sonho
é sonho de mar
as ondas indo e vindo
do fim do Mundo
as aves a voar

(Domingos Florentino in Raízes do porvir)



Fonte das fotos:
Google
1. Mulher Muila
2. Domingos Florentino

08 abril 2010

Terra de Sonhos

O escritor angolano Domingos Florentino, pseudónimo literário de Marcolino Moco, lança dia 14 de Abril de 2010, na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda, o seu primeiro livro de contos, intitulado “VIMBO LI’OLONJOI”, língua nacional umbundu, que em português significa " Terra de Sonhos”

O livro, editado pela UEA, contém dois textos diferentes ( de contos e Estória), o primeiro retrataso com uma expressão metafórica do hibridismo histórico-cultural as nações africanas e as respectivas culturas e línguas, e o segundo é uma historia sobre os tempos actuais em que esperanças outrora guardadas surgem como que diluídas face à conjunturas delicadas do próprio existir.

Nascido no Huambo, aos 19 de Julho de 1953, Marcolino Moco ou seja Domingos Florentino, publicou as obras “Raízes do Porvir” (1995) e “A luz alfabetizada das palavras” (2002) e “Vocifuka Colonyane” - "Na ilha das garças” - (2007.

Marcolino Moco é mestre em Ciências Jurídico-político e desempenhou vários cargos políticos e de governação a nível de país, com destaque para governador do Bié e Huambo, ministro da Juventude e Desportos, secretário-geral do MPLA, primeiro-ministro e Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Para além de escritor, Moco é docente Universitário e consultor.

Amor de Fátima
Assistente do autor

07 abril 2010

Uma indescritível crónica sobre a luta pela vida

Ao visitar o espaço do meu amigo Nguvulo Makatuka (http://makatuka.spaces.live.com/blog), pude notar que ele publicou a crónica "Indescritível" que postamos aqui no blog no dia 25 de Março o que me alegrou pois assim os visitantes daquele espaço também puderam ler a citada crónica. em meio a dois comentários que ele recebeu em resultado do texto, fui tocado pelo comentário de uma amiga do Nguvulo e quero partilha-lo aqui com os amigos.

"Alpha Leninha wrote:


Meu caro amigo, confesso-lhe que demorei, a contragosto, para comentar este texto. Contribuíram para isso:
- o fato de eu ter adoecido (estou com um forte resfriado que mina minhas forças e me desvia do que preciso e gosto de fazer);
- assolar-me um certo receio em estar me imiscuindo em assuntos locais;

- a dificuldade de compreensão de muitos dos termos utilizados.

Fenômeno interessante me aconteceu: a cada melhora no meu estado de saúde, meu primeiro pensamento era vir aqui...Depois racionalizei no argumento dois : Sou uma livre pensadora e Angola é um país regido por uma Constituição que me assegura direito de expressão, muito parecidos somos nós – Brasil e Angola! E, em terceiro lugar, sabe, caríssimo?, dei-me conta ao ler este texto de que entendo sim esta linguagem! E sabe porque? Porque ela, para além das palavras, intui-se visualmente!.

Tentando entender o texto, deparei-me com o fato de que este é um problema típico das grandes cidades, dos maus governos, da distância abissal e incômoda dos incluídos e dos excluídos sociais... Angola e particularmente Luanda (perdoe-me e releve se estiver a falar bobagens) tem crescido e se impondo a uma velocidade vertiginosa. Há um fenômeno muito comum nas cidades e países que crescem assim: há um contingente de pessoas que, ao buscar melhores condições de vida, anulam-na e marginalizam-se neste próprio ideal de vida que imaginaram... Nesta inumana condição de vida tais marginalizados sobrevivem com os restos daquilo que endeusam... sobrevivem na crítica, no modo subversivo ou conservador de suas origens... e talvez, nessa verdadeira luta pela sobrevivência – já agora de si, singular - , a palavra de ordem seja viver: qualquer trabalho serve... e às vezes, até mesmo podem-se questionar certos valores morais... Na luta pela sobrevivência, da qual temos nós, notícias de longe, às vezes é necessário, correto negociar a “mbunda”... mesmo que a consciência e o corpo avise que isso não “está certo”, a necessidade se impõe e depois ...ah, depois a consciência e o corpo fazem as pazes, porque os fins justificam os meios...


Algo sobra neste “Ndengue fudido”, aliás, abunda: a consciência de estar sendo “fudido” (desculpe) e uma lucidez de dar inveja a muitos. E em sua impotência e cansaço pede que o vejam como realmente é... e não no que se tornou.Em seu linguajar simples, corrompido existe tanta verdade...tanta solução: ele fala de impacto social, da ausência de infra- estrutura nas obras das cidades, da supervalorização da fachada capitalista que gera lucros ao empresário e miséria ao empregado, ele fala da fome de pão que mate a fome do corpo e da fome de cidadão que espera, confia e vota em um representante dos seus anseios...


Sintomática é a fala: “Vai lá no vosso governo e resolver os problemas do povo e fala mesmo que o Ndengue Fudido está muito triste com as coisas que andam a acontecer nesses país, agora já na 3ª república. Tipo vamos chegar na república 12 e condições de vida melhor nada”. Vejo aqui uma separação entre o cidadão que se sente consciente mas desesperançado: sua voz já não tem mais peso; é preciso lançar mão da voz de outrem ...quiçá se fará ouvir por lá, se não lhe acharem ridículo, manchete bizarra...bêbado célebre por um dia... nos demais dias resta o consolo das “bolhas a borbulharem no seu cérebro”...


Como lhe disse, não entendo bem a questão das desapropriações , essas milhares que aconteceram. Mas sempre procurei entender de algo: gente. E penso, não me esquecendo de que estou a “meter o nariz onde não fui chamada”, que os governantes deveriam sempre colocar o povo em primeiro lugar, que todas as ações públicas deveriam ter por base a prioridade do bem estar social, da dignidade do homem... A fachada externa, a vitrine das obras deveria ser colocada em segundo plano.


E para falar a verdade, penso também que nenhuma riqueza externa sobrevive à pauperidade daqueles que a extraem... O povo, de onde saem os governantes, não é tolo, como imaginam estes assim que chegam ao Poder... Mesmo que existam golpes de estado, que aconteçam períodos negros de abuso de poder, sempre existirão Ndengues fudidos a escancararem o incorreto. E mesmo que não se dêem conta disso, o próprio exemplo de aberração - que incomoda no perfeito que se insinua nas propagandas - serve de mote aos novos pensadores e inquiridores para que se repense o injusto.


Identifiquei na fala do Ndengue fudido uma fala encontrada em todos os cantos do mundo: a dos excluídos, como disse. Revi em meu próprio País a saga de inúmeros sertanejos, nordestinos, enfim, pessoas que, seduzidas pelo brilho da cidade, deixaram suas vidas no campo (onde o descaso dos governantes contribuiu para sua expulsão) para tentar a dignidade de um bem viver, mesmo que modesto.


Lembrei-me de um ilustre compositor, já falecido: Adoniran Barbosa (1910-1982). Não sei se o conhecem por aí. Pois bem, Adoniran compôs algumas músicas numa fala propositalmente “incorreta”; expressava-se ele com o linguajar dos iletrados, digamos, quase como o Ndengue fudido. E nessa sua fala quanta sabedoria e denúncia! Como o Ndengue fudido. Deixo com você e seus leitores uma amostra e os links para as versões musicadas no Youtube.


Parabéns, caríssimo. Seu trabalho na rede é deveras importante e necessário. Sinto-me bastante orgulhosa em poder contribuir com meus modestos comentários à sua nobre causa. Um sincero e fraternal abraço.
Despejo na favela

(Adoniran Barbosa)


Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E contra o seu desejo
Entregou pra seu Narciso
Um aviso, uma ordem de despejo
Assinada "Seu Doutor"
Assim dizia a petição:
"Dentro de dez dias quero a favela vazia
E os barracos todos no chão"
É uma ordem superior
ô, ô, ô, ô, meu senhor
É uma ordem superior
Não tem nada não, seu doutor
Não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não
Vou sair daqui
Pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema
Em qualquer canto eu me arrumo
De qualquer jeito eu me ajeito
Depois, o que eu tenho é tão pouco
Minha mudança é tão pequena
Que cabe no bolso de trás
Mas essa gente aí
Como é que faz?
ô, ô, ô, ô, meu senhor
Essa gente aí
Como é que faz?



SAUDOSA MALOCA (Adoniran Barbosa)
Si o senhor não tá lembrado

Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construimos nossa maloca
Mais, um dia
nois nem pode se alembrá
Veio os home cas ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemos tudo as nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homi tá cá razão
Nós arranja outro lugá
Só se conformemos quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertô"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida
http://www.youtube.com/watch?v=Mbr84hqawaQ&feature=related"



Fonte da caricatura: Semanário angolense.



06 abril 2010

"Ler é um hábito" e o dia da literatura infantíl

A literatura infantil é muitas vezes vista como sendo uma literatura menor, no entanto, ela é também arte que deleita nossos sentidos porquanto o escritor desse gênero procurará com a sua sensibilidade, encantar, trabalhar o imaginário e a fantasia.

Foi no longíquo Séc.XVII que a literatura infantil constitui-se como gênero. A família burguesa, na sua mobilidade social, valoriza cada vez mais a criança e reorganiza a escola e, atendendo sua associação com a pedagogia, a literatura infantil começa a desenvolve-se.

Este ano, o Dia Internacional do Livro Infantil, 2 de Abril, coincidiu com as festividades da Sexta-Feira Santa. O dia homenageia o escritor Hans Christian Andersen. Hans foi um renomado escritor dinamarquês de histórias infantis e escreveu mais de 156 contos.

Na quinta-feira, fui convidado ao programa Zimbando da TV Zimbo, onde também estiveram os escritores que escrevem para crianças, John Bella, Yola Castro (na foto ao lado) e ainda o radialista Quim Freitas ou simplesmente "Tio Quim" como é carinhosamente conhecido pelas crianças. Fomos unânimes em defender a necessidade de se continuar a produzir e divulgar a literatura infantil angolana, certamente com os apoios de toda a sociedade porque, o texto literário infantil é capaz de criar situações que promovam a discussão acerca de valores morais, sentimentos e atitudes.

Diversas actividades ocorrera para saudar a data. No Kuito-Bié, a Biblioteca Provincial  realizou uma exposição de literatura infantil com cerca de mil setecentos livros diversos. Em Luanda, na praça da Independência, Maria Aline com o projecto "Ler é um hábito" juntou escritores e livrarias para exporem seus livros e assim festejar condignamente a data e contribuir no incentivo do gosto pela leitura no seio dos alunos.


Para a escritora Marta Santos (na foto acima), "incentivar o gosto pela leitura, é EDUCAÇÃO, ler instrui", logo a iniciativa da Maria Aline deve ser apoiada bem como demais iniciativas.

Conversei com diversas crianças no local que visivelmente estavam animadas. O Lucílio (na foto acima), do colégio Bifânia, na Kalemba 2, deixou a seguinte mensagem para seus colegas e amigos, "quero que as crianças leiam mais e estudem mais e que os papás ensinem as crianças a gostarem de ler". A mãe do Lucílio, Albertina Soba,  acrescentou que "leio para os meus filhos desde cedo e assim eles vão ganhando o gostinho de ler. Ela mostrou-se regozijada pela iniciativa da feira e fez um apelo aos empresários que devem continuar a apoiar iniciativas do gênero.

Diversos títulos infantís foram expostos a destacar-se o livro infanto-juvenil  "As aventuras de Ngunga" de Pepetela.


Os adultos também alegraram-se com a quantidade de títulos apesar de os preços dos livros ainda serem caros. A senhora Rosa, que não aceitou ser fotografada, disse que " as autoridades governamentais têm a maior responsabilidade de incentivar os hábitos de leitura e devem influenciar na redução dos preços dos livros. Desse modo os pais vão certamente comprar livros para os filhos e não só brinquedos, porque o livro ajuda no desenvolvimento cultural das crianças e, mesmo para as crianças que não podem ler, as figuras, as cores influenciam no crescimento da criança".

Força ao projecto "Ler é um hábito" da Maria Aline e viva a literatura infantíl angolana.