23 julho 2010

Cavaco Silva na Mulemba waxa Ngola



Cada manhã é para mim um milagre constatar que ainda há fôlego de vida em mim pelo que, agradeço ao Senhor da vida. Aos ateus que me desculpem mas honra e glória seja ao Ser mais inteligente do universo imenso.

Quinta-feira, 22 de Julho de 2010, Luanda é a capital da CPLP e muitos visitantes foram acolhidos de braços abertos pela kianda hospitaleira. Na minha agenda destacava-se a apresentação da rubrica “Mesa Bicuda” no Lev´Arte com o Gilmário Vemba dos Tunezas, humorista que me quebrou as costelas de tanto rir. Dele ainda falarei, estou editando as fotos do evento e tenho algum atraso em reporta-lo. Mas o que vale mesmo é a maior surpresa da minha vida que ficará como um registo histórico na minha existência que Ngana Nzambi vai permitindo com algumas carências básicas aqui e outras alegrias acolá e vou andando, graças à Deus.

Meu telemóvel soava insistente, não me apetecia atender aquele número estranho. Coloco a escova de dentes na boca e lá o pequeno aparelho põe-se novamente aos gritos. Bem, lá fui atender e saber quem tanto insistia do outro lado.

- É o senhor escritor Nguimba Ngola?



- Por favor quem deseja falar? – respondi com outra pergunta. A voz soava com autoridade o que me deixou meio incomodado e submisso.

- Estou ligando para lhe comunicar que o senhor deverá estar presente na Mulemba waxa Ngola, marco histórico da soberania de Ngola Kiluanji kya Samba. O Presidente da República portuguesa, Cavaco Silva far-se-á acompanhar da sua delegação e a ministra da Cultura angolana, Rosa Cruz e Silva ao local para merecida homenagem ao Rei do Reino do Ndongo.

Não acreditei depois de ter desligado e ter sido informado da hora. Quem sou eu para merecer essa indicação de também estar ao pé de ilustres visitantes? Terá haver com o meu pseudónimo que leva o nome Ngola? Aliás Nguimba é mesmo meu nome, acrescí apenas o nome Ngola em honra ao Rei Ngola. Contei para minha esposa que animada aprontou logo o fato mais bonito, na verdade o único pois essa coisa de fato não é comigo, gostaria mesmo é de sempre me vestir com roupas africanas e ou ainda de roupas produzidas aqui mesmo. Mas já lá se foi o tempo que ainda me lembro de ter usado uma camisa da Limar. Será que um dia a industria têxtil angolana ressurgirá? Espero pois até temos bons estilistas e com os tecidos das revitalizadas Textang I e II, que agora são armazéns comerciais, será muito bom. Lembro-me agora do tio Antero Hipólito que foi Eng.º Quimico numa dessas unidades.

Voltando a visita. Cavaco Silva e a comitiva que o acompanhou chegaram de carros luxuosos que coroou o meu bairro poeirento com o senão de criarem alguns constrangimentos no trânsito, engarrafando-o pois os demais automobilistas tiveram de parar por alguns largos minutos até que a caravana da visita passasse. Na verdade não foi lá grande coisa pois já estamos habituados aos grandes engarrafamentos aqui na banda que virou um grande canteiro de obras, estradas que nunca mais terminam, cavam aqui e acolá, desviam ali e sempre em obra, viva depois do constrangimento vem bonança.

A imponente árvore sorria de alegria, parecia que o Rei Ngola estava animado com a visita do ilustre presidente de Portugal, nosso colonizador. E era uma honra ver um dos filhos da metrópole vir com seu punho assinar frases quase poéticas no seu caule. Eu pulava de alegria. O Senhor presidente deu-me um abraço e disse:

- Quero que o jovem continue engajado com seu pequeno contributo a estimular cada vez mais as crianças e os jovens para adquirirem hábitos de leitura e do conhecimento da Língua Portuguesa. É primordial que os escritores e poetas se empenhem nessa nobre missão.

Eu, tão humilde e o último na fila dos escritores angolanos, diga-se temos bons escritores e poetas, estava visivelmente emocionado. O ilustre visitante continuou:

- Espero também que haja muito mais escritores angolanos a participarem em feiras portuguesas” - disse Cavaco Silva, acrescentando que as editoras portuguesas têm cada vez mais o dever de contribuírem para esse intercâmbio.

Do mesmo jeito que chegaram, foi também como evaporaram do local, os estrangeiros hospedados no Resort Hotel Mulemba que circunda a imponente árvore, alguns portugueses também, alegraram-se e cumprimentaram-me animados. Senti-me nas estrelas e, lá fui contar como tudo correu na esposa e porque estava atrasado para o evento com o Gilmário Vemba.

- Papá, papá, hoje não vais trabalhar? Já são 8 horas.



- Filho, trabalhar!

Caramba, meu filho veio e acordou-me do gostoso sono, eu debaixo de cheirosos lençois abraçado à minha costela que também escrevia sonhos na memória depois de na madrugada atender o pequeno Jamiel Ngola, nosso pequeno patrão. Foi tão real!

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