13 julho 2010

As feiras do livro na comunicação

(Minha família no Jardim do Livro Infantil)




Por Jomo Fortunato in Jornal de Angola


A leitura, entendida como processo de reconstituição da mancha gráfica do texto, proporciona à criança uma eficaz diminuição da possibilidade de ocorrência do erro ortográfico, dilatando, consequentemente, os limites do seu imaginário e criatividade.

A literatura infantil, no âmbito das edições de autor e da ficção popular, que engloba a tradição dos contos populares maravilhosos, como material pedagógico, associado à escolarização, e focalizada na vertente industrial, visando o mercado, deve ser sempre encarada como alternativa e um contraponto à oferta aliciante do mundo iconográfico, desenvolvido pelo advento das modernas tecnologias da esfera “informacional”.

Fonte de transmissão de valores, a literatura infantil angolana deve estar associada, no texto cultural, ao imaginário tradicional angolano e à cultura africana. A “Canção Mágica”, do escritor e poeta John Bella, é um notável exemplo, entre outros, de uma tendência de africanização e angolanização textual, num processo distintivo e complementar com os cânones da literatura infanto-juvenil universal.



Jardim do Livro Infantil


Criado em 1979, interrompido durante dez anos, e retomado em 2007, o Jardim do Livro Infantil, que este ano foi realizada de 24 a 27 de Junho, no Parque da Independência, em Luanda, engloba, além da exposição e venda de livros de literatura infanto-juvenil, um conjunto de actividades de carácter cultural educativo. Lançamento de livros, tenda das letras - um espaço de interacção dos escritores com o público - seminários de leitura pública, escrita criativa, de ilustração de livros para crianças, concertos e visitas guiadas são os grandes atractivos deste certame.

O Jardim do Livro Infantil é um momento, entre vários, que completa o ciclo de comunicação literária, um sistema que inclui a promoção e defesa dos direitos do autor, do editor, do importador, do livreiro, do distribuidor e da crítica literária, instâncias que, na cadeia de promoção da leitura, devem estar articuladas.



Feira da Música e da Leitura


A IV edição da Feira Internacional da Música e da Leitura, que este ano vai de 23 a 29 de Agosto, é um projecto cultural de apoio à música e à literatura e, consequentemente, de promoção do livro e do disco. A realização está a cargo da editora Arte Viva, edições e eventos culturais. O evento tem tido o apoio de instituições públicas e empresas privadas, que, cada vez mais, se vão interessando na concretização do projecto.

O certame obedece às linhas mestras do discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, proferido no III Simpósio sobre Cultura Nacional, que vai ser realizada sob o signo “Criar novos factos culturais”, frase da autoria do Chefe de Estado, criando, deste modo, uma imagem positiva do Presidente da República em relação à cultura.

A realização do evento é uma oportunidade ímpar de convívio e de intercâmbio cultural, no domínio do livro e do disco, abrindo oportunidades comerciais, entre os países com representação diplomática em Angola que pretendam dar a conhecer a sua literatura e a sua discografia referencial, nos diferentes géneros e “conseguimentos” estilísticos.

O evento persegue os seguintes objectivos: promover a circulação do livro e do disco entre livreiros, editores e alfarrabistas angolanos e os representantes de editoras dos países convidados, facilitar o acesso e a circulação, num só espaço, de livros e discos, mais representativos, produzidos pelas editoras convidadas, proporcionar à juventude angolana - principal público alvo - e às comunidades estrangeiras residentes e visitantes em geral o gosto e o conhecimento dos principais referentes culturais no domínio da literatura , da música angolana e das culturas internacionais, reforçar o intercâmbio cultural e comercial entre editores, livreiros, “discotecários”, músicos e artistas angolanos e os expositores estrangeiros. Por último, alargar e proporcionar o debate sobre música e literatura, constituindo o resultado do ciclo de conferências e debates uma fonte de documentação e registo.

A participação na Feira Internacional da Música e da Leitura está reservada aos editores, livreiros, alfarrabistas angolanos e editores discográficos dos países convidados pela organização e pelos serviços culturais das embaixadas representadas em Angola, desde que vendam os seus produtos a preços promocionais.

Está prevista uma programação cultural, que engloba, sete concertos, lançamentos de livros e discos, teatro, artes plásticas, um ciclo de palestras e debates sobre a história da música e da problemática da edição, dança e cinema.



Promoção da leitura pública


A promoção da leitura nas bibliotecas escolares, definindo estratégias de incentivo à cultura da leitura, deve ser um imperativo do sistema de ensino, incentivando a criação de programas específicos nas escolas. Daí que seja importante estimular e apoiar a criação de projectos comunitários voltados para o estímulo e para consolidação do hábito de ler. A crescente revalorização do livro e da leitura passa pela introdução de inovações nos currículos de formação dos docentes, permitindo uma alteração, sistematizada, dos métodos didácticos no tratamento das questões relativas ao livro, à leitura e à escrita.

Neste processo, as escolas devem desenvolver programas criativos de aprendizagem, actualização e aperfeiçoamento dos professores, incluindo bibliotecários escolares, relacionados com a natureza e desenvolvimento dos processos de leitura e escrita para crianças e jovens.



Rede de bibliotecas


As bibliotecas devem constituir um espaço de frequência habitual das crianças e adolescentes, em idade escolar, e de fácil acesso às diferentes manifestações da língua e da informação, num processo em que o sistema nacional da rede de bibliotecas públicas deve ser alargado aos distintos níveis da administração territorial.

Com o advento da paz, rumo ao progresso social e económico, é urgente aprovar a Política do Livro e da Promoção da Leitura Pública, criando-se um dispositivo legal que seja abrangente, nos seus mais nobres contornos estruturais, com claros objectivos para que o conhecimento científico e literário se alargue a toda a população, invertendo o quadro actual de difícil acesso e custo do livro. Neste sentido, as edilidades locais devem contribuir para a democratização do saber para que o conhecimento seja um factor de acesso ao emprego e de diminuição das assimetrias sociais.

Apesar dos inegáveis avanços da alta tecnologia no campo das comunicações, ao contrário dos profetas que advogam o fim do livro, onde a escrita alfabética seria substituída por uma cultura de sinais, o livro continua a ser a nossa melhor ferramenta de trabalho e de acesso à cultura e o companheiro ideal em todos os momentos.

O livro, manuseado desde tenra idade, pode constituir uma ferramenta útil para a coesão cultural, numa fase em que assistimos a um crescente movimento editorial que, na sua história, regista, com a União dos Escritores Angolanos, um passado glorioso e vem dando sinais de qualidade concorrencial e, consequente, afirmação internacional.

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