14 julho 2006

O fogo dos meus olhos














O fogo dos meus olhos
fervilha candente

Olhando o amanhã
o sol nascente
oxigenando a mente

Contente com o verde clorofila
dos pastos relvosos
com enxurradas de pão e vinho

E a criança de trapo farrapo de Angola
lambuzando leite e mel
que jorram do deslumbrante kwanza.

O fogo dos meus olhos
alegra-se com o instante utópico
banhando-os com lágrimas de esperança.



12/07/2006 1:47 AM

Insaciáveis

_Uau comprei um fusca meus cambas!
O encanto do dudu faz tudo evaporou. O tempo, o dinheiro, o desejo do novo, moldou as circunstâncias para desejar o VW touareg.
Ora os bens materiais são de uma vida efémera, precisam ser substituídos.
Muito bem, o que dizer então do desejo carnal libidinosopromíscuo, o sumo sexual?
_ Fiz amor com a Paula, a Ângela, a Priscila, a Xunga, a Buculalucuaco e a tua amiga, hoje eu quero você meu bem.
_Olha fofo eu transei com o Xico, com o Vivaço da Vida, com o teu pai, mas ainda quero mais, quero eterno orgasmo.
Insaciáveis, procuram o orgasmo bestial, homossexual, orgiáco-bisexuado-lésbico. Nem sífilis nem SIDA nem raios que o partam os detém.
Correm, correm e alcaçam o nada. Navegam em muitas águas. Os poços recebem filetes de água de vários rios e nada, ninguém saciado.
_E eu vou comer só na mesma panela? Todos os dias o mesmo bife?
Filosofos da desgraça “torram o kumbu dos bolsos furados”, o tempo e a saúde “e lá vão adormecendo na cova escura e agora quem é o culpado?”
Pois é, pergunta o poeta, quem é o culpado ó insaciáveis? Renunciastes a moral?
Então se assim for pagareis com os espinhos na carne, ó insaciáveis.


Mulemba waxa ngola, 12/07/2006 4:00 AM

12 julho 2006

No mar da vulva

Desaguei no mar da vulva
saboreei uvas maduras e verdes

As uvas verdes já perderam o himen
tão cedo...
sem medo...

As uvas maduras
fervilham de gostos virulentos
causando tormentos na banda

Oh kianda!
as uvas venderam a moral?

Oh poeta
há quem se importa salvaguarda-la?

Sei lá...



12/07/2006 2:10 AM

11 julho 2006

Magestosa mulembeira

Mulemba Xa Ngola




Oh que majestosa e frondosa árvore
Mulemba Xa Ngola
Que eterna árvore
Marco histórico da soberania
de Ngola Kiluanje kia Samba

Mulemba Xa Ngola
Sua beleza é divinal e inspira minh’alma
Majestosa árvore
que me vê passar todos os dias
que na calada da noite,
inspira-me a escrever
Escrever que Mulemba Xa Ngola
é árvore majestosa e venerada de Angola

Do Cacuanco ao Sambizanga
Do Farol das Lagostas ao Cémitério do 14
Bem no centro está você
charmosa e vistosa árvore.




05/07/1998

Oremos




Quando chamo, responde-me, ó meu Deus justo.

Na aflição tens de fazer para mim um amplo espaço.

Mostra-me favor e ouve a minha oração.
(Salmos 4:1)

07 julho 2006

Sonho despedaçado (conto)

O chorar das águas da chuva sobre o zinco a encomodavam de tal maneira que desistiu de estudar para o exame final no dia seguinte.
Os olhos cansados e doridos resultante do esforço que fazia para ler devido a fraca iluminação que a luz da vela lhe oferecia e o organismo a reclamar por descanso, levantou-se e foi correndo para o berço e aproveitar as poucas horas que ainda lhe restavam.
Beleza divinal, corpo angelical, olhos radiantes e uma farta cabeleira que fazia inveja a toda garotada do seu bairro, o Kandua. Os rapazes derretiam-se tentando de todas as maneiras conquista-la. Primo Xico vizinho dela já casado, tentara viola-la ao dar-lhe boleia da escola para casa.
Xula Pedro na sua extravagância, subiu no azul e branco a caminho do Instituto Médio do Kikolo onde estudava o 1.º ano do curso de gestão. Seus sonhos para o futuro giravam em torno de terminar os estudos e conseguir um emprego para ajudar a mãe Dona Sessa,viúva e, os seus sete irmãos menores sendo ela a primogénita. O pai tinha outros filhos, oito, com duas mulheres, para além de outras concubinas sabe-se lá deixou-lhes filhos também pois no seu enterro ouviam-se boatos de que tinha engravidado duas moças de dezassete anos, ele que já chegara aos cinquenta e pouco, era um verdadeiro ‘ngombidi’.
Xula não tinha duzentos dólares para pagar os professores, tinha negativas em quatro disciplinas e podia reprovar perdendo o acesso no ano seguinte, o que seria mais difícil ainda. Na sua cabeça um verdadeiro conflito.
“Mais quem vai me arranjar esse dinheiro todo meu deus, eu que estou numa verdadeira dibinza, agora é que estou paiada” pensava ela, enquanto reescrevia as perguntas da prova que estava fora do alcance dela devido a fraca preparação e, muitas das questões da prova eram matérias dadas superficialmente pelo professor da disciplina.
Xula já carregava kilapes a maneira e Mingota não parava de a pressionar pelos cem dólares de roupinhas do Brasil que estavam na moda.
_ Xula e cumué o kumbu então? Tens de pagar já, a minha tia vai viajar depois de amanhã, assim não dá para te dar mais kilapi.
Mesmo sem saber onde sairia o dinheiro ela se endividava para satisfazer o desejo de estar na moda. Outras vezes pedia emprestado as roupas das amigas quando fosse cair na noite.
_ Oi Sarita, empresta-me lá aquela tua ‘sintura baixa’, vou cair na noite, sabes as minhas roupas não me ficam bem p’ra ir na disco.
O namorado, este um homem já casado, enchia-lhe de promessas e usava-a e abusava-a até mesmo um dia ter feito aborto sob orientação deste.
_ Ta qui o dinheiro é ir já sacar esta merda da barriga, eu sou casado e não vou poder te assumir ta ouvi bem xe canuca. Dizia ele.
Depois da prova ela foi ter com o professor e tenta negociar a nota.
_ Prof estou mal, ainda não tenho dinheiro, mas gostaria que o prof visse minha maka.
O professor Ngulo a Kime estava nem aí, os seus olhos fitavam o umbigo parafusado de Xula e parte dos pelos púbicos a espreita, desnudou-a com intensos olhares e fornicou-a em pensamentos. Xula fingiu não ver o avolumar das calças do professor cheio de tusa.
_ Não tem maka aluna, isso resolve-se já. Dizia ele, mandando a aluna ter com o delegado, o Jorgito, seu intermediário no processo da corrupção.
_ Delegado, o prof mandou-me ter consigo.
_ Yá dama está aonde a massa então, eu ponho já o nome aqui na lista.
_ Mas delegado eu já falei com o prof.
_ Bem se já falaste com ele é melhor ele me pontualizar, porque aquí é só mesmo massa a não ser que...
_ A não ser que... anda delegado fala.
_ Bem é assim, eu sei que o prof te curte bué, e que tal se lhe dares uma fezada, ele até te ajuda já noutras disciplinas mesmo sem massa dama. Insinuava o delegado que já sabia das malandrices do professor Ngulo a Kime. Ele também já tirou ‘proveito’ das safadezas do professor, ‘comendo’ a Saluka.
Xula pensou na possibilidade, ‘bem e se o prof me disser que quer me ngombelar e me ajuda mesmo a passar em todas? Também não vai custar nada né, uma rápida e pronto, aquele gajo do meu namorado também não quer ajudar só promete, porra isso já é demais’. Xula lutava com os seus pensamentos enquanto seus passos cruzavam a sala dos professores.
_ Prof e cumué então a minha maka? O delegado insiste em pedir dinheiro e eu ainda não tenho prof, me ajuda só depois te pago.
_ Bem aluna é assim, vamos fazer um acordo. Disse o professor Ngulo a Kime enquanto tirava água do bebedouro.
_ Que tipo de acordo prof? Xula fica ansiosa, ‘o que será que ele vai me dizer?’
Dá um gole na água e dirige-se para a aluna _ Me dás a rata, transamos numa boa e ta tudo resolvido, eu trato de tudo nas outras disciplinas tásse?
_ Mais prof, isto até é muito feio! Não acredito no que estou a ouvir. Xula fingia muito bem, já esperava ouvir aquelas besteiras do professor.
_ O feio mesmo vai ser reprovares e ficares um ano em casa.
Xula baixa a cabeça, os pensamentos corriam-lhe intensamente na cachimonia ‘e se... mas e se ele...’. O professor no seu jeito malandro insistia com a Xula e esta não resiste a pressão e cede.
As mãos do professor Ngulo a Kime apoderaram-se das tetas de Xula e a outra serpenteou a vulva. _ Mas prof aqui? _ Calma aluna não tem maka só estamos nós todo mundo já saiu. Enquanto respondia já ele tinha o seu orgão genital entesado que atravessa as entranhas de Xula e, esta deixa-se dominar deitando sob a bata que trazia e, pimbas!
O professor Ngulo esquecera-se de que o Director do Instituto ainda estava lá dentro só que tinha deixado o carro no portão de entrada. O delegado também ainda estava lá com os guardas e denuncia o professor ‘o prof Ngulo está fechado na sala dos professores com uma aluna’. Este vai a caminho da sala dos professores e cruza-se com o Director e empurram a porta que afinal Ngulo a Kime não fechara devidamente.
Xula e o professor Ngulo a Kime foram apanhados com a boca na botija. Foram literalmente escorraçados do recinto escolar depois de fotografados pelo Director com seu telemóvel. O assunto virou manchete no JA, notícia de primeira página “Professor e aluna surpreendidos a fazerem amor na sala de professores no IMGK”.
Xula e Ngulo a Kime foram expulsos do sistema de ensino por decreto ministerial.
E o sonho de Xula de terminar os estudos ficou despedaçado para o desepero de Dona Sessa que sentiu como que um golpe com uma machadada na sua esperança de melhorar a vida com o apoio da filha.

A música da cevada e da uva

Mentes afogadas no rio de nganza
transam promiscuamente a vida

esquecem-se que o amanhã ainda virá
e trará
a esperança de um sol
ameno
eterno...

Dançam a musica da cevada e da uva
estilhaçam os figados
gotejando o amarelo da desgraça

Não dão graças a Deus pelo coração
caem na ilusão
e na emoção
torrando o kumbu dos bolsos furados
e lá vão
adormecendo na cova escura

e agora quem será o culpado?


26/01/2006

Extase na solidão da noite

Na solidão da noite
paira a voz,
a saudade
o desejo de reencontro
do amor perdido

Na solidão da noite
assaltei teus pensamentos
ajoelhei-me
suplicando-te perdão
carinho e paixão

Na solidão da noite
beijei teus carnudos
avermelhados
lábios
estasiei-me com o seu amor
afoguei-me no lago castanho dos teus olhos
inebriei-me com o calor dos teus seios maboques

Na solidão da noite
reafirmei-te o meu amor
meu eterno amor

viajamos na espaçonave orgasmica
com espasmos rítmicos
da química amorosa

na cama de areia branca do mar
com música romantica das ondas
abençoados pelo reluzente luar
e as estrelas quais anjos de guarda
na solidão da noite.

05/06/2006

Amiga da zunga

Raios do sol ainda a espreguiçarem-se
ja ela está de pé com a kinda na cabeça

Carrega nas costas o seu rebento
e sai correndo a cidade
na ânsia de conseguir pão para os seus

Pés calçados com a poeira da jornada
a descer a calçada
cansada, suada
zunga Luanda
vem de recantos recônditos da cidade cruel

"Amigo está aqui água fresca é cinco kwanza"

Lábios ressequidos da fome que lhe assalta o estomago
Brilho nos olhos negros,
ávida da vida que lhe foge da alma
Esperança negra, já não há verde...

Chega a kubata com os parcos proventos do dia
faz o comer do insensível dono
que a quer "comer" de qualquer jeito

Que vida dura
Leva surra se ela rejeita
jaz fatigada na esperança de mais um dia chegar

Fortaleça-te Deus ó amiga da zunga