25 novembro 2010

A dimensão social da Literatura Angolana 35 anos depois da independência

A literatura para De Bonald é a expressão da sociedade e, aos olhos românticos, aproxima-se da vida. Mas do que só entretenimento, a literatura ainda tem o objectivo de sensibilizar e guiar a sociedade. Ao longo dos anos depois da independência, a literatura angolana tem sido marcada com vários discursos. Vamos aqui ater-nos aos aspectos sociais que intrinsecamente encontramos na literatura de angolana.

Em Dezembro de 1975, os escritores angolanos reunidos constituem a União dos Escritores Angolanos. Eles são chamados a permanecerem na vanguarda, face às grandes tarefas de libertação e reconstrução nacional. Foi assim com os predecessores dos novos escritores na altura que, na sua época, exprimiram os anseios das camadas sociais mais vulneráveis, que mais sofreram a exploração do então regime colonial.

Os escritores eram como “o sacerdote do povo e, do povo cantavam as angústias, a dor e alegrias”. Não sendo apenas uma necessidade estética, a literatura servia também como um meio de afirmação do Homem Angolano.
Com as suas especificidades culturais e suas tradições, Angola tinha que continuar em busca da independência cultural. Nesses primeiros anos de liberdade, a literatura ainda carregava o legado das gerações passadas.

Agostinho Neto, um ícone da literatura angolana, mais propriamente da poesia, pretendia uma literatura engajada. Por seu lado, o escritor Eugénio Ferreira, em 1979, incentiva os seus companheiros de letras e cultura, sublinhando que o fundamental “é que a obra literária ou artística responda às exigências de luta das massas populares... a matéria-prima de toda literatura e de toda arte deve ser a realidade social”.

Para Sainte-Beuve, as transformações políticas e sociais exercem influência estimulante no conteúdo da arte e na sua função actuante na sociedade. Assim foi que de 1975 a 1985, a carga ideológica do momento vivido em Angola foi muito marcante. Na poesia os nomes de Jofre Rocha com o seu “Assim se Fez Madrugada”, Manuel Rui com “11 Poemas em Novembro”, Ruy Duarte de Carvalho com “A Decisão da Idade”, ainda Jorge Macedo com o livro “Clima do Povo” entre outros poetas, reflectem os contornos da situação do momento.

O escritor Henriques Abranches mostra nessa altura o seu posicionamento com o texto “Reflexões sobre a Cultura Nacional - UEA, edições 70, 1980”. O romancista Pepetela vem com um discurso crítico-social, verdadeiras análises sociológicas, que se pode notar na obra “O Cão e os Calús”, publicada em 1985, onde a figura central é Tico, um poeta, filho de uma quitandeira que vive da especulação facilitada pelas dificuldades de abastecimento de produtos alimentares essenciais.

Nesta escrita inconformista, vale a pena citar ainda o escritor Manuel dos Santos Lima e o seu livro “As Lágrimas e o Vento” e, com certa ironia e um modo divertido Manuel Rui aborda vários aspectos do que caracterizava o quotidiano do momento com o seu livro “Quem me dera ser onda, 1982”.

Dinâmica literária juvenil e novos ventos literários

Em 1981, os jovens escritores que foram referidos por "novíssima geração" surgem na arena com um “discurso de nítido pendor militante”, de acordo com o crítico Pires Laranjeira. A Brigada Jovem de Literatura preencheu os espaços poéticos da década de 80, tendo publicado alguns números da revista Aspiração que deu alento a um novo período da literatura angolana - o da Renovação – movimento que tentava responder às expectativas dos responsáveis oficiais que, face à incapacidade de resposta no que diz respeito à literatura, em sede universitária, procuravam motivar e interessar a juventude para a "coisa" literária. Destaca-se também o grupo Literário OHANDANJI, formado em 1984, com Luís kandjimbo, Lopito Feijóo, António Panguila, Cikakata Mbalundu (Aníbal Simões), Domingos Ginginha e Joca Paixão e outros.

De 1985 aos anos 90, a literatura angolana preenche-se com a temática da desilusão e da angústia diante da situação de Angola que enfrentava problemas sociais gravíssimos.

Os anos 90 trazem novos ventos políticos, manifestações jubilosas anunciavam o fim da guerra em 1991. É o inaugurar de uma era nova para o país.

O dilema se o escritor deve tomar posição em frente aos problemas contemporâneos ou atender ao seu mundo interior, continua. Os escritores angolanos continuam a revelar aos seus leitores, o amor, as emoções e os actos de altruísmos perante o sofrimento dos outros e o apelo à mudança de consciência perante os comportamentos negativos.

Na óptica de Pires Laranjeira, um estudioso da literatura de Angola, esta “é uma literatura como a de qualquer outro país, com escritores de variados géneros e estilos; com temáticas universais como a morte, a luta pela sobrevivência, a critica do poder político, a critica social, etc. …”

Finalmente, o brasileiro Ricardo Riso, ao criticar a obra de Roderick Nehone escritor que se revelou nos anos 90 considera que a literatura angolana passou da “euforia comunista dos primeiros anos do país à grave crise que se espalhou nas décadas de 1980/90, motivada pela guerra civil”, realçando que “o fim do sangrento conflito no início deste século e a entrada desenfreada do capital estrangeiro, consequência da estabilidade política, Angola, mais precisamente Luanda, com suas peculiaridades e contradições, sempre foi um terreno fértil para os escritores”.

Presentemente, não é exagero afirmar que a literatura angolana ganhou maturidade e consistência e um contínuo espelhar da sua dimensão social.
Nota das fotos: Capa do livro de Pepetela, foto da net; Luís Kandjimbo, foto de Ricardo Riso e Nguimba Ngola, foto do Movimento Lev´Arte.

23 novembro 2010

Consulado do Vazio - Poesia de Gociante Patissa


Não se fez manhã ainda

Sou mais um
um mais apenas
entre milhares de anónimas penas

Pinto nestas linhas de poema desarmado
um marco de respeito pelas ideias
que morreram no peito
sem terem subido à boca
ou descido às mãos
ou beijado montras

Àqueles cuja imaginação e sonhos
se tornaram predilectos rivais
empresto uma certeza
com o calibre das outras e algo mais
não se fez manhã ainda
e não há obstáculo cricial
quando vai o coração aos pedais


Contemplação

Contemplei a equação da calema
um tanto brava
e ao mesmo tempo de toques ternos
afaguei as águas que no vai-e-vem
talvez química biologia - não sei
conservam o eterno frio sob azul

Li em cada movimento um verso
descontraído ajoelhado
como se a rezar o terço
mas a vida não é como mar
tem escala relógio e bumbar
o dever não quis esperar
e tive de zarpar


in Consulado do Vazio - KAT, Benguela 2008.

Gociante Patissa - Natural de Benguela é fundador da Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), estudante de Linguística no ISCED de Benguela.

Escreveu também:

A última Ouvinte, UEA 2010. Contos

O blog do poeta:
http://angodebates.blogspot.com/

A decomposição da humanidade e a sobrevivência de Simba Ukolo





O sol, como bola de fogo a esconder-se entre as árvores da Avenida de Portugal, despedia-se depois de ter cumprido com mais uma missão. Meus pés corriam lesto ao Instituto Camões. “O Quase Fim do Mundo”, novo romance de Pepetela, foi o motivo de cerca de três centenas de pessoas lotarem o auditório atribuído o seu nome, em homenagem ao Prémio Camões de 1997 ganho pelo mesmo escritor.

Foi um lançamento despido dos discursos de apresentação a que nos habituaram na nossa praça. Um diálogo sorridente entre Jacques dos Santos da Editora Chá de Caxinde, Fernando Telles, embaixador de Portugal em Angola, e o “monstro” da narrativa angolana, em perfeita interacção com a magnífica plateia em que desabrochavam distintas figuras da vida social angolana.

Segundo Pepetela, autor da obra, o livro deve apresentar-se por sí, pelo que escusado é apresentação extra. As primeiras páginas do seu romance, com um relato sobre Simba Ukolo, sobrevivente do fim do mundo, aguçaram o nosso desejo de leitura.

Uma longa fila (não de contratados, claro) de leitores, “afadigavam-se” para autografarem seus exemplares. Esgotaram-se os mais de 200 exemplares que a Chá de Caxinde levou ao local do evento, onde muitos leitores se viram frustrados, “lerparam”, por não terem conseguido comprar o livro que estava a ser comercializado por 2.500,00 kwanzas.

No final o brinde com um cockatail e, a correria dos repórteres a caçarem momentos memoráveis, e eu qual aprendiz a escriba sacando a pose com o guru . Felicitações ao escritor e que a caminhada literária seja longa com intuito de proporcionar ao espaço lusófono, anglofóno e todos outros possíveis, agradáveis emoções.




Nota: Texto publicado no Jornal Folha8, 23 de Fevereiro de 2008. Trago-o em retrospectiva.

21 novembro 2010

Os artistas e a independência

35 anos de independência! Estamos deveras livres do "fardo" colonial. Muitas figuras destacaram-se nesse tempo sendo protagonistas políticos. O Semanário Angolense, edição 392, destacou várias personalidades dentre as quais, artistas que não ficaram de parte no processo. Na música os nomes de Urbano de Castro, Artur Nunes, David Zé sempre ficarão na memória e, Viteix nas artes plásticas. Repesco de lá duas figuras que marcam as letras angolanas, artistas da palavra, Manuel Rui e Wanhenga Xitu.



RUI MONTEIRO

MRM é um dos autores angolanos mais traduzidos no estrangeiro. Um feroz cultor das tertúlias intelectuais, causou furor quando, defendendo as posições do Governo, derrotou Sousa Jamba, um intelectual que perfilava a periferia da UNITA, num debate televisivo transmitido depois de Setembro de 1992, em Lisboa e em Luanda, para discutir as causas do conflito pós-eleitoral. Nenhum desses factos, porém, lhe haverá de conferir um lugar incontornável na nossa história recente. MRM será definitivamente recordado pela história por, em Julho de 1976, ter conduzido a acusação contra 13 mercenários britânicos e norte-americanos, aprisionados nos meses precedentes, enquanto participavam em acções de combate no interior de Angola. O julgamento foi o primeiro em todo o Mundo em que o mercenarismo, uma das mais antigas profissões do planeta, foi levado a tribunal, dando lugar à condenação dos seus agentes e a uma drástica mudança de atitude dos Estados face ao fenómeno. A opinião pública simpatizou tanto com o processo, ao ponto de um dos seus mais influentes representantes da época, o falecido jornalista australiano Wilfred Barchet, ter escrito logo a seguir um livro em que considerava os mercenários «prostitutas de guerra». Manuel Rui é colaborador do Semanário Angolense, em que publica as suas crónicas dedicadas às suas «primas».


MENDES DE CARVALHO

Pode gabar-se de ser o único angolano que já chegou a ministro da Saúde sem ser médico. Conseguiu isso como uma espécie de reconhecimento pelo importante papel que desempenhou na luta política contra o colonialismo português, que lhe custou amargos anos de cadeia. Fez parte do «Processo dos 50», um julgamento político que se tornou histórico por marcar uma fase decisiva da mobilização dos angolanos para a luta pela independência. Mas, é também como escritor de primeira água que se tornou notável, já na pele de Wanhenga Xitu. Livros como «Manana», «Mestre Tamoda», «Bola com Feitiço», «O ministro» e «Os discursos de Mestre Tamoda» são as suas principais credenciais neste sector, tendo tido o privilégio de a sua obra ser estudada em universidades estrangeiras. Já octogenário, fez-se notar como homem que buscava equilíbrios entre partes desavindas, sobretudo no seio do seu partido ou como um excelente defensor das gentes humildes deste país, com pronunciamentos incisivos no Parlamento. Ficou também famoso por ter o único que, no grande debate «onomatopaico» havido aí há uns anos, conseguiu provar a Mena Abrantes, sem recurso a grandes oratórias, que até os homens podem relinchar…
Fonte dos textos sobre os escritores: Semanário Angolense, edição 392.

29 outubro 2010

Do Inferno ao Céu


Depois do Parandele de Belize, Alírio da Cruz é o segundo poeta natural de Cabinda que conheci. Ambos solicitaram-me para que comentasse seus textos poéticos. Devo salientar que apresentar uma obra literária é tarefa árdua pois que cada texto pessoal é fruto de condições únicas que respeitam ao seu contexto de produção. Há ainda os constrangimentos recíprocos na hora do pedido mas no final cedemos e arriscamos.

É dizer ainda que não somos especialista em matéria de teoria literária pelo que exercícios do gênero são frutos de autodidatismo e o intrínseco gosto pela arte literária. Assim sendo faremos uma breve apresentação para tentar indicar os propósitos da obra do amigo Alírio da Cruz e que desde já digo é puramente indispensável pois o livro por si deve apresentar-se.

Vamos reter o termo inferno que é usado por diferentes religiões, mitologias e filosofias, representando a morada dos mortos, ou lugar de grande sofrimento e de condenação. A origem do termo é latina: infernum, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior". Na visão espiritista, o inferno é um estado de consciência da pessoa que incorre em ações contrárias às estabelecidas pelas leis morais, as quais estão esculpidas na consciência de cada pessoa.

Quando maculamos nossa consciência passamos a viver em desajuste mais ou menos significativo de acordo com o grau de gravidade das nossas acções infelizes e, consequentemente surgem os desequilíbrios no campo espiritual, emocional, psicológico ou até mesmo orgânico. Eis que esta situação causa tremendos sofrimentos.

Dai, o poeta pensa em soltar gargalhadas ao inferno de modo a destroçar “o inferno da vida/ vida retida em ventos inquietando a retina”. As gargalhadas permitirão às “almas cativas no pranto vivo” a caminhar. (p.21)

Alírio da Cruz apropria-se da metáfora do inferno para cantar a “dor de ser gente” (p.23):


Indecifráveis são os segredos íntimos da alma
Consolada
Na calma da madrugada adormecida
Em quatro estrelas
Sentinelas vadias da alvorada molhada
Num rosto que fala mas não diz nada
Se cala
Sentindo o inferno da gente
Queimando o pouco ar que o faz ser gente”

O poeta com seu olhar microscópico mostra-nos alguns “produtos do inferno” (p.26):

“Enquanto vidas deambulam despercebidas/ Na calçada do dia/ o inferno vende seus produtos...” que são:

“peito exposto ou decotes mal protegidos” o que resulta em “um cálice de desejos/ temperando carne crua na churrasqueira da noite”. O fuzil que planta medo, a arrogãncia alcoolizada, “o rebento de um fecto parido” provavelmente deixado ao relento da vida, são “moedas do inferno”. (p. 39) Nessa interacção infernal, alguns actores sociais são “vendedores do inferno” e o poeta a estes avisa que “Não compramos /dores infinitas/ dissabores/ prantos.../ Não compramos os teus fingidos beijos/ os teus caprichosos desejos libidinosos anseios/ de nos encaminhar no mar de fogo...”

Quem sente hoje essa caminhada infernal? Muitos povos certamente e, aqui fica nas entrelinhas um clamor às autoridades governamentais para que se empenhem em ajudar o povo a sair do inferno da miséria, da pobreza pois Angola já está em paz e o povo, este sofrido povo, ainda tem “confiança alicerçada na tolerância zero e combate a corrupção” (p.59).

O amor é também causa de sofrimentos? Sim para o poeta que exprime maioritariamente nos seus cerca de 9 dezenas de textos um forte lirismo. O poeta chora, “chora amargamente”, tem angústias amorosas, é profundamente apaixonado e por amar demais ele sofre, que inferno!

“Paz não encontro, sofro/ não me concentro e choro.../ a quem dei meu amor/ como um grande refém/ em sua vida me retem/ e morto ou vivo, não me quer...” (p.17) e o pranto continua:

“És verdade, como um sonho para esquecer/ de querer aumentar no fogo a chama do amor/” .

Eis o fogo do inferno do amor não correspondido mas, para consolo “sempre vence o amor” (p.33) dai que o poeta brinda ternas palavras a virgem bela do Maiombe cujos os “pés desenham pureza” (p.81), essa “mulher ibinda/ formosa e linda.../ de panos e missangas.../ encanta a todos...” (p.84).

O poeta já não quer mais inferno, nem para si, nem para sua amada, nem para nenhum ser vivente, ele quer tão-somente:

“colher frutos/ verdes frutos/ colher doces.../ colher cinzas vivas/ esconder folhas mortas/ não quero/ não, inferno não.

Segue daí o desejo de o Céu atingir “no lugar certo eu quero estar...” i.é, na “casa de Deus “ (p.97)

“Arrebata-me senhor/ junto de ti/ nas nuvens onde esperas por mim/ para me envolveres com teu amor sem fim”. É a crença do poeta que é cristão num futuro feliz.

Alírio da Cruz que na outra pele é licenciado em Direito, brinda-nos assim com estas palavras artisticamente desenhadas, que em Cabinda tem comovido corações de muitos ouvintes nas diversas actividades sócio-culturais.

As “sanzalas d´alma” do poeta aspiram continua busca no labor poético. Em muitos dos poemas sentimos a “musicalidade” que é dada pelo ritmo e pelas rimas, essas repetições criativas de alguns sons no final ou no interior dos versos. Mas no presente poemário alguns textos não atingem já um conseguimento estético da poesia na forma e no conteúdo o que denota um incipiente labor da palavra. É também chamar atenção ao uso da Língua Portuguesa, pois encontramos erros ortográficos e gramaticais em alguns textos o que me parece não terem merecido uma cuidada revisão.

Força poeta de Cabinda e continua a brindar-nos com belos versos.



Nguimba Ngola

Talatona, aos 28 de Outubro de 2010.

20 outubro 2010

Grande Prémio Sonangol de Literatura, edição 2011

Sob o olhar de Corsino Fortes, o prémio:

• Contribui e incentiva o gosto e a criação estética e a produção científica nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

• Promove a troca de experiências múltiplas e permite o desenvolvimento e o equilíbrio cultural e os interesses comuns no âmbito das artes e da literatura.

• É um importante vector para o desenvolvimento da arte, da ciência, e do intercâmbio cultural na comunidade.


O Vencedor do prémio


É o antropólo e historiador cabo-verdiano, João Lopes Filho concorrendo com o pseudónimo “Osagyeto Moisés.

A obra “Percursos & Destinos”

De acordo com o presidente do júri, o cabo-verdiano Corsino António Fortes, que fez o anúncio na sala de conferências da Sonangol, a escolha foi por unanimidade. Fortes fundamentou que o júri atribuiu o prémio pela audácia, pormenor descritivo e qualidade formal com que se retratou o percurso da insularidade, processos sociais, culturais de um determinado histórico da vida do povo cabo-verdiano.


Menções honrosas

O corpo de jurado da 11ª edição do grande prémio Sonangol de Literatura 2011 atribuiu menções honrosas às obras “Laço de Aço Lasso” de Jordão Augusto Trajano, de pseudónimo “Serafim”, de Angola, por constituir uma excelente partitura literária plasmada em sonetos.

A outra menção honrosa foi atribuída à obra “Filho do Planalto” de Marcelo Panguana, de pseudónimo “Zé Chibadura”, de nacionalidade moçambicana, pela coerência interna do seu conteúdo, pertinência, cristalização de formas, estilo e por permitir uma leitura lúdica.


              
O corpo de juri

Constituído pelo presidente, Corsino António Fortes, Cornélio Caley – Sonangol
Manuel Muanza - União dos Escritores Angolanos
Frederico Gustavo dos Anjos - São Tomé e Princípe
Francisco Conduto de Pinapela - Guiné Bissau
Carlos Paradona - Moçambique
António Fernandes da Costa - Ministério da Cultura de Angola.


Premiados em edições anteriores

2005 Obras Vencedoras:

Retalhos do Massacre de Batepá
Ficção histórica
Malé Madeçu (São Tomé)

Baban - O Ladino
Romance
Fidalgo Preto (Cabo Verde)

2003 Obras Vencedoras:

Tábua
Poesia
Adriano Botelho de Vasconcelos (Angola)

A Candidata
Romance
Vera Valentina Duarte (Cabo Verde)
Pseudónimo: Di-Ana

2001 Obra Vencedora:

A Dívida da Peixeira
Jacinto Lemos (Angolano)
Pseudónimo: Kalunga

Menção Honrosa:
Contos
Filipe Miguel

2000 Prémio Revelação:

As Asas do Sonho Ferido
Pombal João Manuel Maria
Pseudónimo: J. Tchingueia


1999 Obras Vencedoras:

Berta Ynari ou Pretérito Imperfeito da Vida
Jacques Arlindo dos Santos (Angola)
Pseudónimo: Kassala Kamukuku

Na Corda Bamba
Carlos Manuel de Melo Araújo (Cabo Verde)

Prémio Revelação
A Contagem Regressiva
José Correia Gonçalves
Pseudónimo: Zezo Baptista

1998 Obra Vencedora

O Ano do Cão
Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso
Pseudónimo: Roderick Nehone

Menção Honrosa:

Catorze Poemas em Abril
Ana Maria de Fátima dos Santos Pereira
Pseudónimo: Lwey

Pausa
Cristóvão Luís Neto
Pseudónimo: Manuel Nginga

1996 Obra Vencedora

Estórias Dispersas da Vida de um Reino
Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso
Pseudónimo: Roderick Nehone

Menção Honrosa:

Inkuna Minha Terra
Manuel Augusto Fragata de Morais
Pseudónimo: Roberto Vanulu

Amores Desencontrados
João Melo
Pseudónimo: Pedro Kameka

1995 Menção Honrosa:

O Rival
Ana Francisca de S. Major
Pseudónimo: Doriana

A Estrada da Secura
Luís Kandjimbo
Pseudónimo: Sá Kandingi

1994 Obra Vencedora

Caminhos dos Encantados
José Mena Abrantes

Menção Honrosa

Sinos d'Alma
Cristóvão Luís Neto
Pseudónimo: Manuel Nginga

Cacimbos
Mário Arsénio Gonçalves

Sacudidos pelo Vento
Isequíel Cristóvão Cori

O Sal dos Olhos do Mar
António Narciso Pompílio da Silva

1993 Obra Vencedora

O Homem das Sereias
João Espírito Santo
Pseudónimo: N'Lussolo

Menção Honrosa

Estrela Lundu
Ana Francisca da Silva Major
Pseudónimo: Doriana


O Grande Prémio Sonangol de Literatura foi instituído em 1987 e é entregue no dia 25 de Fevereiro, de cada ano, data de aniversário da Sonangol.


      Nas  foto: joão lopes filho - foto da net e
      Nguimba Ngola com o Jordão Trajano "Serafim"











Do punho do meu amigo Carlos Pedro, 3 anos depois...

É difícil mergulhar no mais profundo subterrâneo da poesia e, trazer à superfície a real intenção do criador enquanto o mesmo, sujeito-poético, limita-se em traduzir de uma forma recriada movido por um sentimento próprio ou emprestado à beleza do mundo (material ou imaterial) que o rodeia com todas as suas peripécias, utilizando um recurso inalcansável que se chama subjectividade, cujos os ditos phd, litero-psicopatas ou pedras vitalícias no mundo da literatura não conseguem penetrar, sem que o autor que nem sempre é o dono da criação (sabe-se lá de onde vem a inspiração, mistério dos deuses ou Deus) possa decifra-lo.

Cada poeta na psiquiatria literária é um mundo diferente do outro e, dentro dele e nele vive as suas loucuras. O mais disperso e loucuroso poeta convence o mundo, quer seja hoje ou daqui a milhares de anos, quando escreve com veracidade as realidades da sua época eternizando-o num tempo para as gerações vindouras, sem ter que temer os críticos que por vezes não conseguem criar o que criticam e, se criam não têm o livro como modelo capaz de mudar o Mundo ja que o artista, como diz o conceito netiano, é um formador de consciência, como é o caso do poema kumbú sujo que se assemelha a vida de muitos jovens desempregados ou mal empregados que não desfrutam os momentos hilariantes da vida com a mulher do sonho porque não há agulha política para remendar-lhes os bolsos rasgados.

Meu kamba das batalhas infinitas e das conversas filosóficas sabor a vinho, a medida que te escrevo e me escrevo neste dia cinzento em que os fantasmas anunciam a não entrega do prémio literário Antóno Jacinto por falta de qualidade sengundo os mesmos, há uma parte do universo literário que se afunda dentro de mim porque a história traz-me lembranças amargas de grandes poetas, artistas eternizados no tempo que na sua época mal entendidos, foram escorraçados ou até mesmo mortos aprovados somente por esta geração, por isso o poeta não precisa de perguntar ao outro poeta se o é, porque já o é mesmo sem querer ainda que os habitantes desta época não o aprovam.

O poeta é como as ervas daninhas, nascem por sí só, mesmo sem serem regadas estão sempre novas e verdes. O mais importante é estar no meio dos poetas a crescer, ler, pesquisar, debater e estabelecer um intercâmbio com a arte nas mais variadas disciplinas.

A nossa geração vencerá, aguardo-te na verdadeira união dos escritores angolanos dos nossos sonhos, lá.... no lá a frente das nossas vidas.

Carlos Pedro

Poeta e Estudante de Línguas e Literaturas Africanas.

Sede da Brigada Jovem de Literatura de Angola , aos 01 de Setembro de 2007.

07 outubro 2010

Literatura não pode ser só divertimento

O escritor peruano, Mario Vargas Llosa é o Prémio Nobel da Literatura de 2010. O escritor considera a possibilidade de a literatura "se converter nalguma coisa de marginal, relegada cada vez mais como actividade minoritária, e desenvolvida em catacumbas". Esta possibilidade encerra consequências graves para a humanidade, "haverá um grande empobrecimento da Humanidade". "E será por nossa causa, porque a literatura deve fazer parte da vida das famílias e dos programas de ensino a todos os níveis".

Qual o papel da literatura?

Num século onde o "best-seller" triunfa, deixa o escritor sem saber responder a essa pergunta. A escrita hoje é do tipo "light". Mesmo aceitando a sua função de entretenimento, avisou que a literatura não pode ser só divertimento. "Se o fosse, seria ultrapassada por outras formas mais eficazes. Não pode competir com a televisão e o cinema". "A riqueza não são as imagens. São ideias materializadas em palavras que se dizem nos livros".

O livro de literatura, é imprescindível para ensinar a falar as pessoas, defende o Nobel . "O vocabulário, os matizes, as subtilezas dão-os a boa literatura, que é aquela que mantém um alto nível de criatividade, daquilo que é diferente, do que não temos e com que sonhamos". Uma das superioridades da literatura, é a "vocação crítica, que os audiovisuais não têm ou têm domesticada".


Bibliografia


Ficção

Os Chefes (1959)
A cidade e os cachorros ("La ciudad y los perros") (1963)
A casa verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos)
Conversa na catedral (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
Tia Júlia e o escrevinhador (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
Historia de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993). Premio Planeta
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A festa do bode (2000) - novela sobre a ditadura do general da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo
O Paraíso na Outra Esquina (2003) - novela histórica sobre Paul Gauguin y Flora Tristán.
Travessuras da Menina Má (2006)


Teatro

A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios(1996)


Ensaio

García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volúmen I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volumen II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004) - ensayo


Prêmios e condecorações

Ao longo de sua carreira, Mario Vargas Llosa recebeu inúmeros prêmios e condecorações. Destacamos alguns: o Premio Rómulo Gallegos (1967) e principalmente o Prémio Cervantes (1994). Outros prêmios, a saber, o Prêmio Nacional de Novela do Peru em 1967, por seu romance A Casa Verde, o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha (1986) e o Prêmio da Paz de Autores da Alemanha, concedido na Feira do Livro de Frankfurt (1997). Em 1993 foi concedido o Prêmio Planeta por seu romance Lituma nos Andes. Uma grande relevância na sua carreira literária Prêmio Biblioteca Breve, que se deu por Batismo de Fogo, em 1963, marca o início de sua brilhante carreira literária internacional. É membro da Academia Peruana de Línguas desde 1977, e da Real Academia Española (RAE) desde 1994. Tem vários doutoramentos honoris causa por universidades da Europa, América e Ásia; pode-se citar os concedidos pelas universidades de Yale (1994), Universidade de Israel (1998), Harvard (1999), Universidade de Lima (2001), Oxford (2003), Universidade Europeia de Madrid (2005) e Sorbonne (2005). Foi condecorado pelo governo francês com Medalha de honra en 1985.


Nobel da Literatura

Ganhou o prémio Nobel da literatura em 2010


Referências



30 setembro 2010

Manguxi uma homenagem de jovens poetas!


Vamos declamar Poemas de NETO no Belas Shopping.
Venha partilhar o seu conhecimento sobre Agostinho Neto, escutar os seus belos Poemas e visitar a linda exposição de fotos que estará patente até ao dia 19 de Setembro.

Com as palavras acima, o Lev´Arte, movimento literário que tem realizado grandes tertúlias, convidou todos amantes da poesia de Agostinho Neto.

Este poeta, que sempre estará vivo nas nossas mentes, foi homenageado por estes dedicados jovens que fazem da poesia seu modo de vida. Não me lembro terem falhado uma semana sem brindarem seus convidados com muita poesia. Eles realizam incansáveis todas as Quintas – Feiras do mundo, eventos de poesia, a partir das 19 horas, no King’s Club, bairro Vila-Alice. O Movimento foi criado no dia 20 de Julho de 2006 e conta já com uma obra literária intitulada “Palavras”, editada pela EuroPress, uma antologia que vale a pena ler.

A viúva do poeta também esteve presente e certamente partilhou bons momentos com a juventude que aprecia Agostinho Neto.

Abaixo o poema Quitandeira, que declamei no programa Jovial Cidade da Rádio Luanda em homenagem ao poeta maior. 
 
 
 
Quitandeira



A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.

- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!

A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.

A quitandeira
que vende fruta
vende-se.

- Minha senhora
laranja, laranjinha boa!

Compra laranja doces
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.

Compra-me a infância do espírito
este botão de rosa
que não abriu
princípio impelido ainda para um início.

Laranja, minha senhora!

Esgotaram-se os sorrisos
com que chorava
eu já não choro.

E aí vão as minhas esperanças
como foi o sangue dos meus filhos
amassado no pó das estradas
enterrado nas roças
e o meu suor
embebido nos fios de algodão
que me cobrem.

Como o esforço foi oferecido
à segurança das máquinas
à beleza das ruas asfaltadas
de prédios de vários andares
à comodidade de senhores ricos
à alegria dispersa por cidades
e eu
me fui confundindo
com os próprios problemas da existência.

Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.

Tudo tenho dado.

Até mesmo a minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.

Agora vendo-me eu própria.
- Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
- sangue.

Talvez vendendo-me
eu me possua.

- Compra laranjas!


(Sagrada esperança)


Fotos do Lev´Arte, excepto a de ANeto retirada da Net.

O MENINO POETA


(Angola, um país de poetas. O menino poeta da foto encantou no lançamento do livro "Cartas à um Viciado do Joel e Ivandra. É pena não ter conseguido o poema. O ditado ainda é válido, "é de pequeno que se torce o pepino..." e como escreveu o escritor Luis Carlos Amorim "Que melhor maneira de iniciar nossas crianças na poesia, na literatura, do que apresentá-las à obra de grandes mestres na mais tenra idade? Sempre defendi que a criança que gosta de ler e que sabe o que ler é a criança que conviveu com livros e com literatura desde muito pequena, em sua casa, com sua família".)








O menino poeta

não sei onde está

procuro daqui

procuro de lá

tem olhos azuis

ou tem olhos negros?

Parece Jesus

ou índio guerreiro?

Ai! que esse menino

será, não será?

procuro daqui

procuro de lá.

O menino poeta

quero ver de perto.

Quero ver de perto

para me ensinar

as bonitas coisas

do céu e do mar.

(Henriqueta Lisboa)
 
 
Fonte: http://luizcarlosamorim.blogspot.com/2009/10/crianca-e-poesia.html

28 setembro 2010

Paralisia nos dedos?

Meus amados amigos!

Como puderam notar, este humilde espaço ficou muitos dias sem actualização. São vários os motivos que não me possibilitaram continuar a postar o que vai acontecendo...

Tive dificuldades de acesso à internet (não é fácil aqui...). também fiquei algo triste pois os pequenos ladrões fizeram questão de roubarem a minha máquina fotográfica com a qual ia tirando as fotos para ilustrar os meus escritos.

Aconteceram vários lançamentos de livros,  incluindo o lançamento do meu amigo José Luís Mendonça. Em breve estarei postando alguma coisa sobre o livro deste ilustre poeta. A feira da leitura e da música também foi um sucesso, as fotos estavam na máquina que chatice, e teria postado aqui a minha foto com a professora de língua e Literatura Portuguesa, Fátima Fernandes, PH.D., que acompanhou-nos ao longo da semana no Curso de Escrita Criativa na feira. Aconteceu ainda o Luanda Cartoon festival dos amigos Olímpio e Lindomar de Sousa e outras cenas culturais marcantes.

Continuem visitando que faremos tudo para não parar de partilhar o que bom ou quase isso... pois não há paralisia nos dedos.

Kandandu

Chagas de salitre (Ainda te sinto Ruy Duarte)




Olha-me este país a esboroar-se

em chagas de salitre

e os muros, negros, dos fortes

roídos pelo vegetar

da urina e do suor

a carne virgem mandada

cavar glórias e grandeza

do outro lado do mar.



Olha-me a história de um país perdido:

marés vazantes de gente amordaçada,

a ingênua tolerância aproveitada

em carne. Pergunta ao mar,

que é manso e afaga ainda

a mesma velha costa erosionada.



Olha-me as brutas construções quadradas:

embarcadouros, depósitos de gente.

Olha-me os rios renovados de cadáveres,

os rios turvos de espesso deslizar

dos braços e das mãos do meu país.



Olha-me as igrejas restauradas

sobre ruínas de propalada fé:

paredes brancas de um urgente brio

escondendo ferros de educar gentio.



Olha-me a noite herdada, nestes olhos

de um povo condenado a amassar-te o pão.

Olha-me amor, atenta podes ver

uma história de pedra a construir-se

sobre uma história morta a esboroar-se

em chagas de salitre.



(A decisão da idade)

10 agosto 2010

Gerações literárias angolanas – adjectivações precipitadas?


Com o título acima, que denota alguma polêmica, quero fazer uma breve incursão na questão das gerações literárias a que o professor e crítico literário Abreu Paxe, no caso da literatura angolana, considera terem sido adjectivadas precipitadamente.

O professor Abreu Paxe, que muito estimo e considero, aborda de memória os primórdios da nossa literatura. A fase crucial da literatura angolana, fase fundamental, foi quando se divulga a primeira obra literária, em 1849 por José da Silva Maia Ferreira, obra poética intitulada, espontaneidade da Minha Alma. Vem em seguida outros momentos que marcam a geração de 40 e 50, com o projecto “Vamos descobrir Angola”.

Geração, o que vem a ser? Socorrendo-me em Massaud Moisés , o vocábulo latino, generatio, onis ou seja , reprodução, geração, é do séc. XII mas a idéia nela contida remonta à história pré-cristã. Os latinos dividiam o século em três aetates, três gerações, assim também Herodoto nas suas histórias. O interesse consciente pelo tema geração, ressurge no séc. XIX.

Os debates em torno do tema acentuaram-se na França com Comte, Balzac, Sainte-Beuve e outros e, o mesmo se deu na Alemanhã. Já no séc. XX o debate alcançou o clímax com George Renaurd. Na alemanha destacaram-se nomes como Wilhelm Pinder, Alfred Lorenz, com alto grau de tensão. Ortega y Gasset, da Península Ibérica, também vem contribuir para o tema tal como Fidelino de Figueiredo, português e na américa do sul, Brasil, Paulo Sobrinho.

Entre as várias discussões, geração vem sendo encarada por alguns como “uma zona de 15 anos durante a qual uma certa forma de vida foi vigente. A geração seria, pois, a unidade concreta da autêntica cronologia histórica”. Para Július Petersem que descarta o conceito temporal, certo número de anos, para ele geração trata-se de um tempo interior. Ele enumera os factores que formam a geração a saber:

• Herança
• Data de nascimento
• Elementos educativos
• Comunidade pessoal
• Experiências da geração
• O guia, organizador que se coloca à cabeça dos homens da mesma idade, o mentor que atrai e assinala o caminho aos mais jovens.
• A linguagem da geração, o factor elementar.

Nota-se a idade e ideologia em afinidades para caracterizar uma geração apesar de, nem todos os seres contemporâneos formarem uma geração.

Entre nós, Luís Kandjimbo, crítico, ensaista e poeta, vem adjectivar alguns momentos da historia literária angolana. A geração do silêncio, que marca os anos 70, a geração das incertezas, que alude aos anos 80. Ainda é conhecida a geração da Mensagem (1950-53), revolução decisiva na sociedade colonial constituidos de jovens angolanos que deram o rosto e assumiram uma atitude de combate ante o sistema colonial vigente, a geração da utopia.

Mas para Abreu Paxe, é precipitada adjectivações do tipo acima “porque a literatura Angolana como realidade escrita é culturalmente marcada por dois períodos: um primeiro período em que ela é produzida sobre o manto colonial com dois segmentos, por um lado, os reprodutores dos ideiais, sonhos e utopias coloniais e, por outro, os nativistas e ou nacionalistas. Depois, um segundo período que é o do pós-independência”. A. Paxe acrescenta dizendo que não é num intervalo de dez anos que se pode fazer gerações literárias.

O que estará por detrás das adjectivações das gerações literárias angolanas tal como gerações da incertezas defendida por Luís Kandjimbo? Para Abreu Paxe o fundamental é que a literatura tem um princípio, o de ela ser regulada por método e fundamento, logo, sempre que se marca uma posição deve-se anunciar o método que se seguiu e os fundamentos que o guiam.

Para Carlos Sérgio Ferreira Cassé, escritor e jornalista, “...nunca fui muito adepto de dividir a literatura por gerações. Porque há casos de escritores que já estavam adiantados no tempo, e que a gente não pode classificar como sendo da geração do ano «x» da década «x». Eu prefiro analisar as coisas dentro da perspectiva do tempo, ou seja, o António Jacinto viveu no ano «x», morreu no ano «x» e, durante a sua vida, o tipo de literatura que António Jacinto produziu foi esta, aquela ou foi aqueloutra. E juntá-lo depois a outros escritores de outras gerações, digamos, que adoptaram a mesma corrente literária. Eu preferiria talvez ir por aí. Nunca fui muito adepto de dividir as coisas por gerações, porque há gerações que não existem em termos práticos, ou seja, que não sei que diferença há entre o princípio da minha geração e a geração de 60, por exemplo. Não há grandes diferenças em termos de forma e conteúdo. Eu não concordo muito com esta divisão geracional. Só porque eu tenho 40 anos sou assim. Às vezes, o que tem 20 tem mais ligação comigo do que outro de 40”

Ainda para Cassé, geração de incertezas deveria ser entendida como sendo “A geração que apanhou a independência com 15 anos e pouco é uma geração perdida. Não de incertezas. O problema é que as certezas desapareceram completamente. E nem sequer ficaram as incertezas, quer dizer, ficou é a certeza de um pessimismo muito grande, há uma descrença muito grande, e que é preciso ter muita coragem e muita força para manter uma certa linha de orientação que a gente traçou desde os 20 anos”.

Nas minhas leituras da história da nossa literatura, sinto-me confortado a periodiza-lo da seguinte forma:

Era

• Colonial que vai dos anos 1840 à 1975
• Pós-Independência de 1975 até hoje

Época

• 1840-1945, Origem e formação
• 1945-1959, Vamos descobrir Angola
• 1960-1979, Exaltação nacionalista
• 1980-1997, Brigadismo
• 1997- A Contínua Busca Estética e Inovações

Para mim, não será já a periodização e a consequente adjectivação das gerações a questão primordial, antes a história mais abrangente da nossa literatura pelo que, urge a sua reescrita.

Concluo fazendo minhas as palavra do crítico brasileiro Ricardo Riso “...assim é a Literatura. Ela não vive sem polêmicas” .


Referências

http://www.ricardoriso.blogspot.com/2008/04/agostinho-neto-no-foi-um-poeta-medocre.html
Moisés, Massaud Dicionário de Termos Literários, 12ª edição 2004 Cultrix, São Paulo






06 agosto 2010

Ngola dá palestra para a juventude

Uma iniciativa louvável. A juventude angolana quer abordar, com profundidade, assuntos ligados ao alcoolismo e ao processo de aprendizagem. Para isso, a JMPLA adstrita ao comité de ensino médio da escola de formação de professores “Garcia Neto” chamou o escritor Nguimba Ngola para esclarecer melhor alguns aspectos relacionados com a questão do “Alcoolismo e o processo de aprendizagem”, que foi tema de uma palestra. O escritor incentivou os jovens a tomarem consciência do perigo existente no consumo excessivo do álcool. Foi uma palestra bastante concorrida entre professores e alunos da escola Garcia Neto. O docente de Filosofia José Cativa, membros da associação de estudantes e Helga Faz Tudo também estiveram entre os presentes. A música e o teatro complementaram a actividade. No final, o orador respondeu as 20 perguntas colocadas pelos alunos, que demonstraram grande interesse pelo tema.
Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/18/72/ngola_da_palestra_para_a_juventude, 05 de Agosto, 2010


Foi na Sexta-Feira, 30 de Julho. A interacção com os alunos foi muito boa. Assinei o livro "Mátria" e até mesmo as T-Shirts de alguns que têm estimado a rubrica "Sugestões de Leitura" que apresento no programa Tchilar da TPA2 toda a Sexta-Feira.
A Indira Pedro e o Tino Epalanga, ambos da JMPLA.

O professor Cativa e alunos do Garcia Neto, valeu ter estado com vocês.

A música e o teatro.

No final recitei o poema "Malefício do vício" in Mátria:

Penetra esguia Mente

o putrefacto odor do alcoolismo
nas colinas tímidas do lar

Solta lavas incandescentes
no escabelo das almas
que se acocoram nas barricadas
                                        [do medo

É o kumbú que míngua nos bolsos
da despensa anorética
clamando pão e serapilheira
para o adorno da carne nua

Oh malefício do vício que mortifica
a paz e harmonia Seja tua habitação
as fendas escuras do além





05 agosto 2010

A semana do Atelier Monumental

A jornada de reflexão artistico-cultural da Associação Cultural Atelier Monumental (anunciamos aqui o evento, http://nguimbangola.blogspot.com/2010/07/semana-monumental-jornada-de-reflexao.html)
encerrou no passado dia 29 de Julho. No encerramento, foram distinguidos com um troféu e diploma, os artistas nacionais ligados à literatura, música, dança, teatro e artes plásticas, que muito se empenharam  para o desenvolvimento da cultura nacional.

O dia de abertura foi concorrido. Várias individualidades ligadas à moda, artes plásticas e demais disciplinas culturais fizeram-se presente. Eis algumas imagens que falam mais do que palavras. Vê-se a sala da União dos Escritores Angolanos engalanado com os quadros do artista plástico Álvaro Macieira, literalmente cheia. Miguel Gonçalves, artista plástico em destaque. Abaixo a designer de moda e estilista Maryth Jóia, enquanto apresentava o tema "Linguagem Estética da Moda". Cláudio Rafael, publicitário falou sobre problemática das marcas. 



O artistas plástico Dom Seba Cassule, Olímpio de Sousa ligado a banda desenhadae o Sabby, artista plástico. Meninas ligadas à moda aprenderam certamente com o tema da Marith Jóia.


Filipe Vidal, historiador crítico de arte, animou o debate muito polémico sob o tema "O Estado das Artes e a Nova Ordem Tecnológica" mas que esbarrou também em assuntos sensíveis da realidade angolana, na quarta feira, 28. Foi muito interessante.


No Centro Recreativo e Cultural Chá de Caxinde foi onde a festava tomou dimensão maior. Eis a lista dos galardoados: Wanhega Xitu, ausente, Manuel Rui Monteiro e Cremilda de Lima, também ausente essa escritora da literatura infantil ( Literatura), Massano Júnior e a "dupla" Filipe Zau e Filipe Mukenga (Música), Mendes Ribeiro, Marcela Costa, foi representada pela filha e, Paulino Damião (Artes Plásticas), Tony Amado e o Ballet Nacional (Dança) e o grupo Miragens, o Calí representou o grupo (Teatro).





Os galardoados foram unânimes em reconhecer o prémio. Conversei com cada um deles e, estavam deveras satisfeitos. Em conversa com o Mukenga, ele disse, "estou satisfeito, os jovens reconheceram o nosso valor". Sobre a música feita pela juventude disse, "os jovens estão no bom caminho, certamente têm que continuar a aprender".

Filipe Zau, homem de fácil trato abordei-o e comentou "Muito bom, os jovens valorizam-nos e, não é necessário que seja com honras faustosas nem valiosas, vale a expontaneidade do acto. Os jovens estão atentos". Disse ainda "Já temos música boa" e referenciou Jacques Canga, que cantou e encantou no evento, o jovem Kanda, Sandra Cordeiro, Yola Semedo, Konde entre outros.


Manuel Rui, também gostou do galardão e aconselhou a juventude, que se dedica à escrita, a ter o gosto pela leitura. Sobre a literatura feita pela juventude respondeu "tu és um exemplo dos jovens que querem continuamente aprender, o Nok e outros  tantos que estão dando bons passos".

Mendes Ribeiro, o kota da UNAP - União Nacional dos Artistas Plásticos, relutou inicialmente em falar comigo apesar da atenção que me dispensou. Já tinha sido entrevistado por mais de um jornalista e queria saber que instituição eu representava. Respondi-lhe, "escrevo de modo independente num blog", franziu os sobrolhos e disse "os jovens estão no bom caminho, sensibilizados para a arte. Devem continuar a buscar ensinamentos". Na pintura de novos artistas referenciou a busca da Clara Monteiro, que também é cantora. A UNAP está a organizar-se cada vez mais para ajudar os artistas, disse. M.Ribeiro tem trabalhos em variadas empresas, citou a antiga FINA, a Chevron e outras.
O fotografo Paulino Damião "50" estava animadíssimo e recomendou os jovens a terem amor por aquilo que fazem e não visar só o lucro e o reconhecimento.

Ilustres figuras foram convidas ao evento, que teve o patrocínio da Fundação Arte e Cultura. Marta Santos, escritora e Arlete Brissel, empresária. Isidora Campos, cantora e a senhora Azélia da TPA 1. A empresária Josefa Eduardo, foi agradável estar ao vosso lado, mulheres africanas lindas.


A escritora Kanguimbo Ananás e António Pompílio

Cátia Santos e Universo Mavambo do Atelier Monumental. Os poetas Cristóvão Neto e Nguimba Ngola
Jacques Canga, o músico que encantou. Olindomar de Sousa, Nguimba Ngola, Che e Olímpio de Sousa, jovens da Banda Desenhada.


Fizeram parte do júri Cátia Santos, Timóteo João “Timajó”, Universo Mavambo, Teodósio Paulo, Nguimba Ngola e Nok Nogueira. Outras empresas também juntaram-se ao Atelier Monumental com seus apoios.