09 novembro 2006

O grito da manhã

A manhã corre cansada
corre que corre e
suada trilha os caminhos da labuta
com lutas marciais para a vitória da pontualidade

A manhã é um veado
corre que corre e
solta golpes no cavalo azul e branco
adormecido no trânsito maldito
afogado no garrafão

O suor, a catinga, a dor da frustração
exalam palavras ofensivas que estilhaçam
o cérebro amarrotado

A manhã grita estridente
sons cinzentos denunciando o efeito da chuva
que rasga a kianda em pedaços

Nos amassos malcheirosos do uaua e
no ferir dos tímpanos do kuduro malcriado

a manhã chora lágrimas de sangue
clamando aos céus que intervenha
no concerto das entranhas moribundas
e dos esgotos e sargetas sem costuras

A manhã volta a kubata
escondido no pôr do sol
amanhã é outro dia de luta


Nguimba Ngola na Estrada de Cacuaco, 9/11/2006 6:50’