27 setembro 2006

O Encantar do Lev’Arte


O Encantar do Lev’Arte
Isalino Augusto * 25/09/2006



Carríssimos leitores, eis-me aqui mais uma vez para compartilhar com vocês os momentos poéticos vividos no King’s Club. Como disse no último artigo, o King’s já virou tradição Poética toda a quinta-feira. Nesta última, dia 21 de Setembro, o tema de conversa foi a musa poética de Benguela, Alda Lara.

Dilson, o apresentador do Lev’Arte, lamentou o facto de haver muito pouca informação sobre Alda Lara, a grande Poetisa. Disse ter consultado várias fontes, incluindo na internet, mas a informação em todas elas eram escassas. No entanto a plateia bebeu com alegria a informação obtida, para uns era tudo novidade e para outros serviu de acréscimo ao que já sabiam. Aliás, é um dos objectivos do projecto, divulgar vários nomes da Poesia Angolana e além fronteira incentivando assim, a sua leitura.

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962, casada com o escritor Orlando Albuquerque que propôs-se editar-lhe postumamente toda obra, resultando em um volume de poesia e um caderno de contos. Grande declamadora que alegrou grandes Poetas Africanos na casa do império, Alda brindou-nos com excelentes versos. Dilson destacou o Poema “Testamento” que pediu a participação da plateia para interpretarem os versos do testamento a prostituta mais nova do bairro mais velho e escuro. A prostituta que mereceu os brincos lavrados em cristal, límpido e puro...

E como a Poesia nos permite várias interpretações, alguns da plateia sugeriram a sua percepção do Poema, tal foi o caso do jovem Krumane que comentou que Alda, mesmo sendo abastada, preocupava-se com os desafortunados, nas contas do outro sofrer ela deixou o seu rosário para os iletrados e os poemas loucos deixou-os para seu amor Albuquerque. Outras interpretações surgiram e enriqueceram o tema.

Dilson, depois de ler o prólogo do evento, começou a chamar ao palco os Poetas da noite. O projecto tem ainda como objectivo tirar do anonimato artistas com talento para exporem os seus trabalhos, daí surgiram da plateia Poetas “curiosos”, os que pela primeira vez pisam o palco do King’s para o doce recital. Nzacran foi o primeiro com o poema de sua autoria “Sou nato de Angola”

Visto o desprezo sem luz

Nas manhãs sem verniz

Seguiram-se outros poetas gotejando seus versos que levaram ao êxtase a plateia maravilhosa que rasgou palmas de alegria, deixando ao rubro as mãos. Dentre os quais Poetas que cantaram o amor:



Gostaria de saber

A regra do amor

Está na lua nas palavras

O rosto de uma princesa sem príncipe. Krumane



Incubados fica o nosso destino

Caminhamos longe no infinito

do amor. Ludmila



A doce Jandira, ao subir ao palco, a plateia cobrou-lhe o poema “Esclareça” onde o eu Poético pede ao seu amor que se esclareça se apenas quer usa-la ou ama-la de verdade entre outros esclarecimentos devidos, a mulher amada.

Notei com muita atenção o jovem João Papelo cujas metáforas despertaram minha curiosidade, “Inconsciência”

Eu vi mistérios isolados

Nas unhas da madrugada

Noite felina de cantos tristonhos

Saudava as trevas na sua fresca expansão



Quebrou-se o momento de versos declamados para os versos cantados pela viola do Nelson Guitarra com a música “Monangamba, monangaba zé, monangabe monangaba ó”. Os Poetas da casa arrebataram as emoções da plateia. Dilson chamou ao palco o carismático Zé Isolde com o Poema “Quando cair a madrugada”. Ele disse que:



Quando cair a madrugada

Vai chover SIDA nas torneiras daquele bordel

Na Condel

Bem junto da casa do kota Fidel



O show de cores e luzes que o Patolas captou as imagens, continuou vibrante quando Kardo Bestilo, o autor do Controverso, declamou o Poema que pariu na madrugada daquele dia, “Oh Caneta Perdida!”. Nguimba Ngola levantou a plateia com o seu característico ‘boa noite’, ele com o chapéu a moda do Poeta Agostinho Neto, cantou com a plateia o seu poema “A canção pensante de Kianda” , mais vibração. Lenny matou a plateia de risos com o que ousarei chamar croni-poema que falou do peido da vizinha no elevador, ele que ia perfumado no dia do homem, sexta-feira, a uma patuscada e, como ironia, suas meias também escondiam um forte kibuzo de chulé.

Na segunda parte do programa, Zé Isolde, Kardo, Jandira, dilson e Nguimba Ngola, despejaram mais versos metaforizados para os presentes. O evento culminou com todos os poetas no palco para a habitual mistura, recitando versos no momento com um tema sugerido pela plateia “Contraste” e foi um verdadeiro contraste no palco, que o diga o Sábio.

Fui, mais volto, pois continuarei a seguir as pisadas do Lev’Arte.



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