04 maio 2010

A viagem no “espírito” de ParaN´dele.

A poesia, essa expressão da alma, tão subjectiva que ela é, não é certamente tarefa fácil descodificá-la. Receei expressar meus comentários de pós-leitura dos versos do amigo ParaN´dele de Belize, ao que após alguma insistência, demoveu-me.

Lí com muito prazer as cerca de cinco dezenas de textos deste jovem de Cabinda. É deveras “A expressão do espírito” do poeta. Este que, numa linguagem clara, sem muitos rebuscamentos, traz ao de cima “vozes do além”

Vozes de sopro
Além do corpo
Tépidas e negras
...
Caminhando sobre o tempo
Despindo negros tempos

Neste desnudar do seu espírito, o poeta vem liricamente ora cantando o amor, ora sofrendo por amor. O amor, o amor, ah o que este te faz! Ora vejamos, o poeta expressa a dor do amor perdido,

"... se o que me completa/ desenlançou-se em completa fúria/ assim sou uma fúfia/crucificado na solidão/ amor sinistro".

A dor é maior quando constata que perdeu a amada, “Perdi você”,

"Perdi você, nos jasmins do meu pomar
Murchando as flores..."

Este amor pode também ser miopia, leia-se “Miopia do amor”. No entanto ele também canta à “Bela Rainha”,

"Bela rainha, bela santinha
Adoça-me como a fruta pinha
...
Oh! Ben-dito seja a hora em que teu coração chora
Porque assim me adoras."

Notamos o poeta a expressar o seu romantismo, a expressar os sentimentos, seu estado de espírito. É o lirismo em alta.

ParaN´dele, com os seus “vertiginsos, sigilosos versos/escamoteada nas incultas barreiras/na véspera do parto...” expressa o seu amor à Pátria e, exalta, evoca, nomes, homens que lutaram e lutam por esta “Angola, Angola/ Angola de Neto/terra de preto/Angola yeto/de panos pretos”. Neto, referindo-se certamente ao poeta Agostinho Neto, é para o nosso jovem amigo, avó que “mostrou-nos o caminho/ d´Angola yeto". Ele reconhece que “hoje tenho identidade/porque do jugo colonial nos livraste/nas nossas terras voltamos/nos nossos campos cultivamos". Assim o jovem em diálogo com o poema de Neto “Havemos de Voltar” nos transmite o sentido pátrio, "de Cabinda ao Cunene”.

Este amor ao país, Angola, que é filha de África, faz o poeta escrever  “canta, canta mãe África/ em toda instância que te sentes fraca...” É cantando que nossos males espantamos, tem-se dito, logo África da fome, África da miséria tem que cantar.

A fome, esta “fome!/inimiga da paz/cúmplice da violência/inimiga da vida”, tem de ser pontapeada desta linda e rica África que chora e lamenta-se de tanto sofrimento.

O poeta, nostálgico, dedica também versos a sua terra natal “Belize meu.../ crescia na tua beira”. Certamente é em Belize ou seja, em Cabinda onde deleita-se com as imagens da TPA que “quão lícita a sua acção.../no destino da comunicação...” tem sido companheira amiga daí a homenagem ao único canal de televisão estatal do país. Ao Banco Sol, também dedica versos e, o poeta não esquece, nesta senda da homenagem o “homem escudo/ sacrário eleito” Dom Paulino Madeca.

São as notas possíveis de leitura dos versos do meu amigo Cabindense . Ele que lançará brevemente o seu primeiro livro de poesia. ParaN´dele, certamente deverá continuar a galgar no terreno escorregadio das letras na incessante busca do belo, pois poeta que é poeta está sempre aprendendo, aperfeiçoando o verso, a metáfora e muito mais.

Força jovem e continuemos firme nesta senda.

Sem comentários: