07 outubro 2008

O prefácio como discurso introdutório e autónomo da obra literária


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“Cada texto pessoal é fruto de uma época própria, de condições únicas e de diversas origens que respeitam ao seu contexto de produção. Para mim, escrever sobre uma obra ou até um só texto poético é tarefa árdua e espinhosa” Ana de Sá in prefácio da obra Caminhos da Mente de T. Nankhova Trajanno.



É notável em obras literárias da nossa praça e não só, o uso do prefácio. E ter um livro prefaciado por escritores ou ensaistas renomados tem sido uma correria entre os poetas e escritores jovens e adultos no sentido da maturação literária. Deve-se salientar que esta busca ou pedidos por prefácios não tem sido sempre coroado de éxitos e, quando mais se tratar de escritores ou poetas jovens e geralmente desconhecidos o que muitas vezes cria constrangimentos recíprocos.

Um confrade nas lides literárias perguntou-me, “Nguimba quem vai prefaciar tua primeira obra?” e eu respondí-lhe com outra pergunta, “qual é a utilidade de um prefácio na obra literária?” O meu amigo redundando em argumentos descabidos terminou dizendo que assim a obra tem mais valor, tem mais peso. Afinal o que é o prefácio e quais são as suas funções no texto? É o prefácio um texto integrante da obra ou é autónomo a ele?

Quero neste pequeno texto abordar estas questões bem como o problema do autor do prefácio socorrendo-me de dados de leituras do estudo sobre a Teoria e Prática dos Prefácios do Professor de Literatura Luso-Brasileira e Comparada da Universidade Federal de Pernambuco-Brasil, César Giusti.

O prefácio (do latim, praefatio) designa aquilo que foi feito para introduzir algo que vem depois de si. O prefácio tem relação sinonímica com o prólogo, ambas as palavras desiganam a função introdutória. Para além da simples tarefa de introduzir uma obra literária, o prefácio envolve outras várias finalidades. O Professor César sistematizando as idéias de Aristóteles cita cinco funções do prefácio.

A função demonstrativa, que demonstra o assunto, indicando-o de modo sintético objectivando os propósitos da obra e do autor e Aristóteles considera essa função indispensável. Os autores explicam assim a razão de ser da obra, seu significado e até mesmo sua origem. Ela não se pretende crítica, é mais justificativa. Os autores que se utilizam de prefácios acham-na como o ponto de interesse geral. Esta finalidade é um exercício de introdução, é como uma carta de apresentação. Em seguida temos a função sinsestésica que procura alcançar a docilidade do leitor ou obter a sua benevolência e, o autor socorre-se de truques de convecimento do leitor. A função pertinente é que gera a autonomia do prefácio, embora sendo parte de um todo da obra, ele é autónomo, é um discurso paralelo, tecendo considerações gratuitas. A obra portanto independe do prefácio que se torna matéria inútil ou gratuita. Temos depois a função topológica e a função didascálica, que apresenta-se já como uma peça de crítica literária. Todas as funções apresentadas podem atuar ao mesmo tempo no texto ou de forma isolada.

Quanto a autoria do prefácio, este é feito pelo próprio autor da obra ou pode ser alguém distinto do escritor a quem pertence a obra. Para o segundo caso, interessa aos estudos críticos. Normalmente este autor distinto do autor da obra é uma pessoa que conhecemos e por motivos de amizade, identidade de princípios, de real ou de suposto prestígio intelectual ele se debruça sobre a obra enaltecendo-a com um sentimento de modéstia como se pode notar o parágrafo final do prefácio de Inocência Mata ao livro da escritora Chó do Guri, Na boca árida da Kyanda, “ ...Chó do Guri cresce na sua escrita, embora ainda se note um incipiente labor da palavra...”

O professor César prossegue dizendo no seu estudo que a existência de prefácios do próprio autor demonstra incoerência ou mesmo o reconhecimento da ineficácia da obra pois o autor tem o território do texto para se expressar. Então de que adianta o prefácio, sabendo que ele não é parte estrutural da obra literária? Muito bem, pode se calhar justificar para o jovem escritor tal como o meu confrade que escuso citar o nome, dar peso ao texto. Mas vai ter de se “cabombiar” aos ilustres escritores e críticos da nossa praça entre os quais Jorge Macedo, Akiz Neto, Jomo Fortunato, Trajanno Nankhova Trajanno, Abreu Paxe e entre outros. Se assim não desejar, saiba então que a obra literária faz sentido sem precisar de prefácio que mesmo lhe dando significação, será sempre gratuito. O professor César ainda acrescenta dizendo que é inútil e as vezes servindo apenas como simples ornato tradicional do texto.

Nguimba Ngola,
Mulema waxa Ngola, aos 24 de Agosto de 2008. 23.41´
nguimbangola@gmail.com

1 comentário:

Anónimo disse...

Estimado amigo e irmao do mundo das letras...

Neste muito dificil e complexo...
Pk as nossas accoes ligam-se com o homem e cada homem tem uma percepcao diferente dos factos.
Acib

Estou muito grato saber que cada dia tem a oportunidade de aumentar mais informacoes no disco duro... pelas opinioes, ideias etc de pessoas como voce.

Quanto ao assunto do prefecio, confesso que tambem eu pensei q a minha primeira obra "O Grito Do Meu Silencio" nao teria um grande impacto por faltar o prefacio...

Na verdade, mesmo sem o prefacio, humildemente tenho recebido varios telefonemas e emails de pessoas de boa fe, louvando a obra e acima de tudo, tirando proveito aquilo que chamo de produto colocado na obra que naturalmente sao os frutos das nossas inpiracoes... Por vezes todos nos nos revemos em poesia.

Prefacio, nao deixa de ser digamos elemento importante numa obra literaria, o valor da obra nao passa por ter ou nao prefacio...

Minha honesta opiniao. acib.amado@gmail.com

Muitos sucessos meu irmao.

Acib