25 fevereiro 2010

Maka na União


Sob o olhar seco do poeta maior, na casa dos Escritores Angolanos, a maka era colocada à mesa para um saudável debate. Historiadores, linguistas, literatos e estudantes universitários fizeram-se presentes emprestando seu calor na tradicional “maka à quarta-feira” que marca o fim do ciclo das makas do actual mandato da direcção da União dos Escritores Angolanos, destacando-se a presença do senhor Makuta Nkondo, aprecio as colocações deste ilustre mukongo nos meios de comunicação social, o Dr. Petelo Nguinamau Fidel, o Dr. Ndonga Mfwa entre outras personalidades.

Sou kimbundu e, tenho uma forte simpatia pelo povo bakongo. Sempre me intrigou o facto de este povo ser grande defensor, conservador, da sua rica cultura. Assim é que, quando recebí o email do poeta e crítico Abreu Paxe (afinal é Mpaxi, o palestrante falou sobre a deformação dos nomes bakongos) a convidar-me para a maka que teria como protagonista o Dr. Mbala Lussunzi Vita ( que nome puramente africano) que iria dissertar sob o tema “A soceidade kongo face à colonização portuguesa 1885-1961, um povo em movimento uma sociedade em mudança", não hesitei, metí-me no aveo e lá corrí na casa da cultura.

Chamou-me atenção um aspecto que devo realçar aqui pois, não tem sido habitual nos eventos que vão ocorrendo na nossa cidade engarrafada. A pontualidade. Eram exatamente 18 horas quando o moderador, Abreu Mpaxi, convidou a plateia a tomarem seus lugares. Depois da breve apresentação do recheado, rico currículo do Dr. Mbala, historiador, investigador ele entra em cena. Prendemos nossos olhos ávidos de bebermos algum conhecimento, para uns a consolidação de factos já conhecidos e novidade mesmo para os poucos jovens que alí estiveram.

Na verdade, o tema em dissertação, é o resultado do árduo trabalho de pesquisa do Dr. Mbala, sua tese de dotoramento que resultou num trabalho de 3 volumes, que ele modestamente considera apenas ser uma introdução. “Entrei na floresta densa da cutura kongo despido das vestes de mukongo, e com roupas de um cientista procurei não me perder nela, quero convosco sair dela com resultados...” referiu o dotor a dada altura da sua comunicação.

Dentre vários capítulos do seu trabalho, destacou “ a movimentação do povo kongo e a preservação da cultura diante dos portugueses". Estes maravilharam-se com o nível de ordem do Reino. Abordou os aspectos ligados a migração do povo kongo nas terras dos seus semelhantes culturais, Kongo Belga, mas no entanto eles conservavam sua tradição. Não eram permitidos os casamentos dos congoleses angolanos e congoleses belgas. Defendeu ainda que deve-se considerar “história em angola, que é o povo europeu que vem fazer história em África, considerando o africano como mero objecto de estudo e, história de Angola, que são os autóctones que passam a ser protagonistas da sua história. A sua pesquisa teve como fontes a tradição oral que foi a principal e confirmado apenas com as fontes escritas. Dentre outros títulos, destacam-se também no primeiro volume as "perspectivas históricas do povo kongo, do Reino Kongo ao Reino do Kongo, criação do districto do kongo português".

Seguiu-se logo após a dissertação, a intervenção dos convidados. Destacou-se o Sr. Makuta Nkondo que debitou orgulhosamente subsídios interessantes sobre os bakongos. O mestrando em história, Aragão Mateus , kimbundu, não gostou da aparente exclusão que Makuta faz dos outros povos como os kimbundus do reino do Ndongo. Referiu que o conhecimento da história deve ter como objectivo a unidade dos diferentes grupos etnicos que por sinal são originários de um tronco comum, os bantus, tal é a grande similaridade nas línguas. Dr. Mbala ao reagir a questão da aculturação dos bakongos, disse que o povo não foi imune a aculturação devido ao factor geográfico mas, a unidade cultural influenciou o grau de aculturação, o povo bakongo tomou consciência da sua cultura e resistiu à imposição de outras culturas.
Até à próxima maka, vou mesmo é aprofundar as minhas leituras sobre os bakongos. Bakongos de Angola, continuem então firmes na preservação da cultura.

Mono kuzolanga beni (perdoem-me se escrevi mal).

 
 
A escultura é do escultor Wizani, retirado da net, ele também um mukongo

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sendo consanguíneo literário, tenho apreciado, impotente para comentar, teus mujimbos literários! Vai-vos no sangue o crescer e fervilhar da cultura. Bem haja!!! Suscitou-me particular interesse este último mujimbo sobre os kikongos.´Parece-me haver um novelo da história dos kikongos(bakongos?) cujo fio desenrolado poderia se estender aos povos dembos(ndembus). Temo muito que os intelectuais dos dembos(eu incluído) possam ser responsabilizados e culpabilizados ,pela História, por deixar desaparecer, sem rastos, ricas bibliotecas que foram os nossos defuntos idosos. Perdemos uma oportunidade histórica de reescrevermos a epopeia cultural, política e militar dos Dembos. Há referências imortais, tais como o principado dos dembos, KazuaNgongo, Ngombe-ya-mukiama, Nambuangongo, para citar só estes, bem como os laços de vassalagem ao rei do Kongo.Enfim, sinto-me demasiadamente pequeno para navegar neste imenso mar da nossa História. Não sei nadar!!! Até á próxima
Um forte kandandu

Hipólito