17 março 2010

Força Mulher

Conhecí-a numa quinta-feira. Ela ansiosa para viver momentos em que a palavra se torna rainha no palco do Kings Club com o Lev´Arte. Fiz o devido protocolo para acomoda-la. Daí em diante mantivemos um diálogo meio tímido no início. Ela é estudante do curso superior em Língua e Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto e professora de Língua Portuguesa no Colégio Juviyld em Luanda.

O interesse comum pela literatura uniu-nos imediatamente. Encontramo-nos pela segunda vez na União dos Escritores Angolanos aquando da Maka à Quarta-Feira sobre os Bakongos. Evaltina Mande, essa mulher que o futuro lhe guarda muitos sucessos, é uma professora empenhada e nunca quer deixar ficar mal seus alunos.

Ontem ela ligou-me no telemóvel e contou-me o seu dia laboral. A aula para aquele dia tinha como destaque o "Texto Lírico". Ela tinha de reproduzir cópias do material para aula, no entanto a avaria na fotocopiadora não lhe permite tal. O que fazer? Evaltina com o sentido apurado das mulheres, pensa na melhor alternativa para manter viva a aula. Eis que se lembra do livro de poesia Mátria que ela trazia na bolsa e então decidiu discutir com os alunos em volta do livro. Analisaram os   poemas  "Sanita Madalena", "Choro de Joaninha" e "Cuidado com o Bicho", que resultou na tentativa de descodificação dos mesmos.

Desse modo, Evaltina Bande, está  demosntrando que "a  escola deve ser um dos principais canais de veiculação das obras literárias, através de programas de leitura obrigatória". Sendo assim, neste mês que simbolicamente é dedicado às mulheres, eu rendo-a a minha singela homenagem. Força mulher.

O choro de Joaninha
O choro de Joaninha são lágrimas de sangue
Ela banha nas lágrimas do seu rosto por seis dias a fio
Suas lágrimas denunciam a tristeza da alma não fecundada
E jorram angústias e lamentos rubros no canal do seu rio
Quem a liberta deste ciclo que se repete 28 mil dias?

Ela soergue alegre em campos férteis
Anseia espasmos orgasmicos carregados do branco da vida
Ela anseia a simbiose com o divino na criação de um ser
Clama estridente com seus grandes e pequenos lábios
o amor que se afoga nas dibinzas da vida
e se esconde na camisa sensual e legal devido a SIDA

 
Chora chora chora Joaninha
Fofinha vistosa e formosa                                     mãe da vida

Chora chora chora Joaninha
lágrimas de sangue sedentas de afecto                          carinho
Vem de mansinho seu eterno amor                           Joãozinho
Navegam nas estrelas rítmicas do prazer e da responsabilidade
Cessa o choro de Joaninha que goteja alegria divinal
E o ciclo fecha-se por 9 mil meses

Vitória, 29/12/2006 11:23’.
 (in Mátria, Arte Viva 2009)
 
 
Nas fotos:
Evaltina Bande; John Bella, escitor e deputado com Evaltina no lançamento do Luís Fernando

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