A literatura para De Bonald é a expressão da sociedade e, aos olhos românticos, aproxima-se da vida. Mas do que só entretenimento, a literatura ainda tem o objectivo de sensibilizar e guiar a sociedade. Ao longo dos anos depois da independência, a literatura angolana tem sido marcada com vários discursos. Vamos aqui ater-nos aos aspectos sociais que intrinsecamente encontramos na literatura de angolana.
Em Dezembro de 1975, os escritores angolanos reunidos constituem a União dos Escritores Angolanos. Eles são chamados a permanecerem na vanguarda, face às grandes tarefas de libertação e reconstrução nacional. Foi assim com os predecessores dos novos escritores na altura que, na sua época, exprimiram os anseios das camadas sociais mais vulneráveis, que mais sofreram a exploração do então regime colonial.
Em Dezembro de 1975, os escritores angolanos reunidos constituem a União dos Escritores Angolanos. Eles são chamados a permanecerem na vanguarda, face às grandes tarefas de libertação e reconstrução nacional. Foi assim com os predecessores dos novos escritores na altura que, na sua época, exprimiram os anseios das camadas sociais mais vulneráveis, que mais sofreram a exploração do então regime colonial.
Os escritores eram como “o sacerdote do povo e, do povo cantavam as angústias, a dor e alegrias”. Não sendo apenas uma necessidade estética, a literatura servia também como um meio de afirmação do Homem Angolano.
Com as suas especificidades culturais e suas tradições, Angola tinha que continuar em busca da independência cultural. Nesses primeiros anos de liberdade, a literatura ainda carregava o legado das gerações passadas.
Agostinho Neto, um ícone da literatura angolana, mais propriamente da poesia, pretendia uma literatura engajada. Por seu lado, o escritor Eugénio Ferreira, em 1979, incentiva os seus companheiros de letras e cultura, sublinhando que o fundamental “é que a obra literária ou artística responda às exigências de luta das massas populares... a matéria-prima de toda literatura e de toda arte deve ser a realidade social”.
Para Sainte-Beuve, as transformações políticas e sociais exercem influência estimulante no conteúdo da arte e na sua função actuante na sociedade. Assim foi que de 1975 a 1985, a carga ideológica do momento vivido em Angola foi muito marcante. Na poesia os nomes de Jofre Rocha com o seu “Assim se Fez Madrugada”, Manuel Rui com “11 Poemas em Novembro”, Ruy Duarte de Carvalho com “A Decisão da Idade”, ainda Jorge Macedo com o livro “Clima do Povo” entre outros poetas, reflectem os contornos da situação do momento.
O escritor Henriques Abranches mostra nessa altura o seu posicionamento com o texto “Reflexões sobre a Cultura Nacional - UEA, edições 70, 1980”. O romancista Pepetela vem com um discurso crítico-social, verdadeiras análises sociológicas, que se pode notar na obra “O Cão e os Calús”, publicada em 1985, onde a figura central é Tico, um poeta, filho de uma quitandeira que vive da especulação facilitada pelas dificuldades de abastecimento de produtos alimentares essenciais.
Nesta escrita inconformista, vale a pena citar ainda o escritor Manuel dos Santos Lima e o seu livro “As Lágrimas e o Vento” e, com certa ironia e um modo divertido Manuel Rui aborda vários aspectos do que caracterizava o quotidiano do momento com o seu livro “Quem me dera ser onda, 1982”.
Dinâmica literária juvenil e novos ventos literários
Em 1981, os jovens escritores que foram referidos por "novíssima geração" surgem na arena com um “discurso de nítido pendor militante”, de acordo com o crítico Pires Laranjeira. A Brigada Jovem de Literatura preencheu os espaços poéticos da década de 80, tendo publicado alguns números da revista Aspiração que deu alento a um novo período da literatura angolana - o da Renovação – movimento que tentava responder às expectativas dos responsáveis oficiais que, face à incapacidade de resposta no que diz respeito à literatura, em sede universitária, procuravam motivar e interessar a juventude para a "coisa" literária. Destaca-se também o grupo Literário OHANDANJI, formado em 1984, com Luís kandjimbo, Lopito Feijóo, António Panguila, Cikakata Mbalundu (Aníbal Simões), Domingos Ginginha e Joca Paixão e outros.
Dinâmica literária juvenil e novos ventos literários
Em 1981, os jovens escritores que foram referidos por "novíssima geração" surgem na arena com um “discurso de nítido pendor militante”, de acordo com o crítico Pires Laranjeira. A Brigada Jovem de Literatura preencheu os espaços poéticos da década de 80, tendo publicado alguns números da revista Aspiração que deu alento a um novo período da literatura angolana - o da Renovação – movimento que tentava responder às expectativas dos responsáveis oficiais que, face à incapacidade de resposta no que diz respeito à literatura, em sede universitária, procuravam motivar e interessar a juventude para a "coisa" literária. Destaca-se também o grupo Literário OHANDANJI, formado em 1984, com Luís kandjimbo, Lopito Feijóo, António Panguila, Cikakata Mbalundu (Aníbal Simões), Domingos Ginginha e Joca Paixão e outros.
De 1985 aos anos 90, a literatura angolana preenche-se com a temática da desilusão e da angústia diante da situação de Angola que enfrentava problemas sociais gravíssimos.
Os anos 90 trazem novos ventos políticos, manifestações jubilosas anunciavam o fim da guerra em 1991. É o inaugurar de uma era nova para o país.
O dilema se o escritor deve tomar posição em frente aos problemas contemporâneos ou atender ao seu mundo interior, continua. Os escritores angolanos continuam a revelar aos seus leitores, o amor, as emoções e os actos de altruísmos perante o sofrimento dos outros e o apelo à mudança de consciência perante os comportamentos negativos.
Na óptica de Pires Laranjeira, um estudioso da literatura de Angola, esta “é uma literatura como a de qualquer outro país, com escritores de variados géneros e estilos; com temáticas universais como a morte, a luta pela sobrevivência, a critica do poder político, a critica social, etc. …”
Finalmente, o brasileiro Ricardo Riso, ao criticar a obra de Roderick Nehone escritor que se revelou nos anos 90 considera que a literatura angolana passou da “euforia comunista dos primeiros anos do país à grave crise que se espalhou nas décadas de 1980/90, motivada pela guerra civil”, realçando que “o fim do sangrento conflito no início deste século e a entrada desenfreada do capital estrangeiro, consequência da estabilidade política, Angola, mais precisamente Luanda, com suas peculiaridades e contradições, sempre foi um terreno fértil para os escritores”.
Presentemente, não é exagero afirmar que a literatura angolana ganhou maturidade e consistência e um contínuo espelhar da sua dimensão social.
Nota das fotos: Capa do livro de Pepetela, foto da net; Luís Kandjimbo, foto de Ricardo Riso e Nguimba Ngola, foto do Movimento Lev´Arte.