30 setembro 2010

Manguxi uma homenagem de jovens poetas!


Vamos declamar Poemas de NETO no Belas Shopping.
Venha partilhar o seu conhecimento sobre Agostinho Neto, escutar os seus belos Poemas e visitar a linda exposição de fotos que estará patente até ao dia 19 de Setembro.

Com as palavras acima, o Lev´Arte, movimento literário que tem realizado grandes tertúlias, convidou todos amantes da poesia de Agostinho Neto.

Este poeta, que sempre estará vivo nas nossas mentes, foi homenageado por estes dedicados jovens que fazem da poesia seu modo de vida. Não me lembro terem falhado uma semana sem brindarem seus convidados com muita poesia. Eles realizam incansáveis todas as Quintas – Feiras do mundo, eventos de poesia, a partir das 19 horas, no King’s Club, bairro Vila-Alice. O Movimento foi criado no dia 20 de Julho de 2006 e conta já com uma obra literária intitulada “Palavras”, editada pela EuroPress, uma antologia que vale a pena ler.

A viúva do poeta também esteve presente e certamente partilhou bons momentos com a juventude que aprecia Agostinho Neto.

Abaixo o poema Quitandeira, que declamei no programa Jovial Cidade da Rádio Luanda em homenagem ao poeta maior. 
 
 
 
Quitandeira



A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.

- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!

A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.

A quitandeira
que vende fruta
vende-se.

- Minha senhora
laranja, laranjinha boa!

Compra laranja doces
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.

Compra-me a infância do espírito
este botão de rosa
que não abriu
princípio impelido ainda para um início.

Laranja, minha senhora!

Esgotaram-se os sorrisos
com que chorava
eu já não choro.

E aí vão as minhas esperanças
como foi o sangue dos meus filhos
amassado no pó das estradas
enterrado nas roças
e o meu suor
embebido nos fios de algodão
que me cobrem.

Como o esforço foi oferecido
à segurança das máquinas
à beleza das ruas asfaltadas
de prédios de vários andares
à comodidade de senhores ricos
à alegria dispersa por cidades
e eu
me fui confundindo
com os próprios problemas da existência.

Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.

Tudo tenho dado.

Até mesmo a minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.

Agora vendo-me eu própria.
- Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
- sangue.

Talvez vendendo-me
eu me possua.

- Compra laranjas!


(Sagrada esperança)


Fotos do Lev´Arte, excepto a de ANeto retirada da Net.

O MENINO POETA


(Angola, um país de poetas. O menino poeta da foto encantou no lançamento do livro "Cartas à um Viciado do Joel e Ivandra. É pena não ter conseguido o poema. O ditado ainda é válido, "é de pequeno que se torce o pepino..." e como escreveu o escritor Luis Carlos Amorim "Que melhor maneira de iniciar nossas crianças na poesia, na literatura, do que apresentá-las à obra de grandes mestres na mais tenra idade? Sempre defendi que a criança que gosta de ler e que sabe o que ler é a criança que conviveu com livros e com literatura desde muito pequena, em sua casa, com sua família".)








O menino poeta

não sei onde está

procuro daqui

procuro de lá

tem olhos azuis

ou tem olhos negros?

Parece Jesus

ou índio guerreiro?

Ai! que esse menino

será, não será?

procuro daqui

procuro de lá.

O menino poeta

quero ver de perto.

Quero ver de perto

para me ensinar

as bonitas coisas

do céu e do mar.

(Henriqueta Lisboa)
 
 
Fonte: http://luizcarlosamorim.blogspot.com/2009/10/crianca-e-poesia.html

28 setembro 2010

Paralisia nos dedos?

Meus amados amigos!

Como puderam notar, este humilde espaço ficou muitos dias sem actualização. São vários os motivos que não me possibilitaram continuar a postar o que vai acontecendo...

Tive dificuldades de acesso à internet (não é fácil aqui...). também fiquei algo triste pois os pequenos ladrões fizeram questão de roubarem a minha máquina fotográfica com a qual ia tirando as fotos para ilustrar os meus escritos.

Aconteceram vários lançamentos de livros,  incluindo o lançamento do meu amigo José Luís Mendonça. Em breve estarei postando alguma coisa sobre o livro deste ilustre poeta. A feira da leitura e da música também foi um sucesso, as fotos estavam na máquina que chatice, e teria postado aqui a minha foto com a professora de língua e Literatura Portuguesa, Fátima Fernandes, PH.D., que acompanhou-nos ao longo da semana no Curso de Escrita Criativa na feira. Aconteceu ainda o Luanda Cartoon festival dos amigos Olímpio e Lindomar de Sousa e outras cenas culturais marcantes.

Continuem visitando que faremos tudo para não parar de partilhar o que bom ou quase isso... pois não há paralisia nos dedos.

Kandandu

Chagas de salitre (Ainda te sinto Ruy Duarte)




Olha-me este país a esboroar-se

em chagas de salitre

e os muros, negros, dos fortes

roídos pelo vegetar

da urina e do suor

a carne virgem mandada

cavar glórias e grandeza

do outro lado do mar.



Olha-me a história de um país perdido:

marés vazantes de gente amordaçada,

a ingênua tolerância aproveitada

em carne. Pergunta ao mar,

que é manso e afaga ainda

a mesma velha costa erosionada.



Olha-me as brutas construções quadradas:

embarcadouros, depósitos de gente.

Olha-me os rios renovados de cadáveres,

os rios turvos de espesso deslizar

dos braços e das mãos do meu país.



Olha-me as igrejas restauradas

sobre ruínas de propalada fé:

paredes brancas de um urgente brio

escondendo ferros de educar gentio.



Olha-me a noite herdada, nestes olhos

de um povo condenado a amassar-te o pão.

Olha-me amor, atenta podes ver

uma história de pedra a construir-se

sobre uma história morta a esboroar-se

em chagas de salitre.



(A decisão da idade)